Grupos que nasceram para buscar renovação política começam a pensar na possibilidade de se unirem para evitar o risco de que o barco em que estão a bordo naufrague.
Criados nos últimos meses, diante do cenário de descrença em políticos e partidos, movimentos como o Agora!, o Acredito e a Frente pela Renovação discutem uma aproximação sem anular a identidade de cada um —embora haja mais semelhanças do que diferenças entre eles, revela reportagem de Joelmir Tavares, da Folha.
“A gente tem que integrar esses movimentos. Se a gente não se juntar, ou se só um der certo, vai todo mundo falhar”, defende Pedro Henrique de Cristo, do Brasil 21, autointitulado um coletivo de “inovação da democracia”.
A possibilidade com que lideranças dos grupos trabalham é a de unir esforços no apoio ao lançamento e divulgação de candidaturas de nomes que estão entrando na vida pública e de concorrentes comprometidos com a chamada “nova política”.
Seriam, basicamente, postulantes alinhados a ideias como o combate à corrupção, transparência na gestão e conexão maior com os eleitores.
No caldeirão ativista há desde iniciativas que projetam lançar dez candidaturas, caso do Nós, que se articula na periferia paulistana, até os que estarão por trás de centenas de postulantes no país todo, como o RenovaBR, fundo que bancará a formação de lideranças, mas sem atuar diretamente nas campanhas.
Representantes de 12 desses grupos participaram no sábado (11), na Câmara Municipal de São Paulo, de um debate durante o evento independente Virada Política.
Foi a primeira ocasião em que porta-vozes de tantas dessas organizações dialogaram em público. Membros delas ouvidos pela Folha admitem o risco de uma eventual disputa de protagonismo entre os coletivos. Numa rixa, avaliam, todos perderiam. Daí o raciocínio de que, mesmo tendo nascido isolados, deveriam se fortalecer mutuamente.
“Todo mundo que está aqui quer mudar o Brasil. Os ‘comos’ todo mundo vai aprender no caminho”, disse no evento Juliana Cardoso, do Agora!. “Mas é importante que a gente saia do ponto de partida de mãos dadas, para que a gente mude a realidade.” Um dos membros do Agora! é o apresentador Luciano Huck.
“O ponto principal que vai nos unir é levar as pessoas para participar mais da política e votar”, afirmou Marina Lima, do coletivo Construção. “A pessoa não precisa ser ativista, ela precisa votar. Esse vai ser o maior desafio.” Para ela, “o campo progressista precisa estar organizado” e pensar em pontos de convergência e afinidade para fazer frente a grupos radicais e de direita.
Na mesma roda, o representante da Frente pela Renovação (integrada pelo Vem pra Rua, indutor de atos pelo impeachment de Dilma Rousseff), Álvaro Rossi, disse que os movimentos podem trabalhar juntos, mas não precisam se unificar. “É importante valorizar nossas diferenças.”
O MBL (Movimento Brasil Livre), ausente da Virada, também fala em apresentar candidaturas, com a meta de eleger 15 deputados federais.
LADO A LADO
A possibilidade de que os movimentos dividam espaços físicos também é discutida. A ideia é articulada por Cristo, do Brasil 21, que diz sondar locais em São Paulo (Bixiga e Capão Redondo), no Rio (Humaitá e Complexo do Alemão) e em Brasília. “Pensei: por que não convidar mais movimentos e compartilhar?”, diz ele.
Juntos os grupos já estão em torno do pensamento de que a oxigenação deve ter critérios e que não basta “renovar por renovar”. “O foco é alterar práticas e ideias”, diz Tábata Amaral, do Acredito.
Embora afinado com o discurso, Caio Tendolini, da Bancada Ativista, mostra cautela: “A real é que não acredito que a gente vá renovar o Brasil ano que vem. Vamos ser sinceros. A gente está só na primeira temporada dessa série”.