A base aliada reagiu, nesta terça-feira, à reforma ministerial anunciada pelo Palácio do Planalto. Após o pedido de demissão do tucano Bruno Araújo (Cidades) na segunda-feira, o presidente Michel Temer anunciou que “até meados de dezembro” concluiria o troca-troca. Seus principais assessores anunciaram que as mudanças atingiriam todos os ministros que querem disputar as eleições em 2018. A reação, porém, não demorou, informa reportagem de Eduardo Barreto e Cristiane Jungblut, de O Globo.
O problema central é que, no próprio Planalto, já se considera que haverá exceções à linha de corte do Planalto. A principal delas é a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que, embora seja um possível candidato, é considerado intocável pelo governo, por ser o fiador da política econômica. Outros casos delicados são os dos ministros Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Marcos Pereira (Indústria e Comércio Exterior), que não têm mandatos e, investigados na Lava-Jato, ficariam sem foro.
Ainda, em uma reforma que pode atingir metade dos 28 ministros, também surgem incertezas em relação a que ministros são de cota pessoal de Temer ou cota técnica, e se essas denominações livrariam esses quadros da demissão. Há ainda os ministros que são filhos de importantes políticos, como Zeca Sarney (Meio Ambiente), filho do ex-presidente José Sarney, Fernando Bezerra Coelho Filho (Minas e Energia), filho do senador e ex-ministro Fernando Bezerra, e Helder Barbalho (Integração Nacional), filho do ex-governador e ex-ministro Jader Barbalho.
Se, por um lado, o ministro com pretensões eleitorais que for sacado do Poder Executivo no próximo mês ficará cerca de cem dias a menos com a máquina pública na mão, e terá de abrir mão de lançamento de programas e entrega de obras, o Planalto trabalha para fazer com que as siglas ainda assim se sintam contempladas. O programa Avançar, que promete R$ 130,97 bilhões para retomar 7.439 obras inacabadas em todo o país, já é citado por governistas no trabalho de convencimento de novos ministros. Além disso, uma base coesa no começo do ano eleitoral fortaleceria pretensões da própria base, argumenta um interlocutor do presidente, que já antecipa a discussão eleitoral e cita o tempo de televisão como trunfo.
O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB-RS) também faz parte da lista de insatisfeitos em ter que deixar o cargo agora. Segundo pessoas próximas, ele arcou sozinho com todo ônus da portaria do trabalho escravo — que foi muito criticada e está suspensa pela Justiça por dificultar o combate a esse tipo de crime. A medida foi tomada em plena campanha do Planalto para barrar no Congresso a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, um pleito da bancada ruralista. Depois de conseguir negociar com as centrais a reforma trabalhista, que foi ampliada no Congresso, o ministro alega que ainda não concluiu seu trabalho na frente da pasta. Ele é candidato potencial nas eleições de 2018.
O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), criticou a decisão de fazer uma ampla reforma ministetial agora.
— Não acredito que seja a melhor estratégia e não está em sintonia com o que pensa a base. Para cada ministério, existe uma agenda em desenvolvimento, e uma mudança agora significa quebrar o ritmo de ações que estão sendo implementadas. Seria retroceder no momento de colher os frutos, uma tarefa complicada para um governo que tem no fator tempo um de seus maiores desafios — disse Efraim.