Melina Alves
Na era das práticas pré-definidas e já esmiuçadas em livros e blogs de empreendedorismo, a exemplo de títulos como “10 formas infalíveis de se atingir um resultado revolucionário” ou “5 práticas para fazer seu negócio decolar”, soluções bem desenvolvidas, conectadas e dentro de um contexto lógico para o negócio podem ser a diferença para uma startup decolar.
Dentro de um contingente com mais de 12 mil concorrentes, segundo números da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), prosperar vai requerer muito além de um investidor anjo. Recente levantamento feito pela CBInsights, renomada publicação cujo software analisa projeções e faz análises conforme os dados obtidos em seus algoritmos, revelou os maiores motivos para que algumas empresas não cheguem nem a sua fase de maturação, sendo encerradas antes do previsto.
Com um incrível índice de 42% dos casos, o maior erro das startups que não dão certo é oferecer um produto ou serviço que o consumidor e o mercado não desejam. Isso é o que acontece quando empreendedores gastam muito tempo se dedicando a partes do processo sem detectar, por exemplo, se há, de fato, demanda pelo seu negócio, além de verificar com cautela se o mesmo está inserido na cultura local e se a experiência de uso (UX) oferecida atinge o cliente da forma como planejada.
O segundo erro mais comum, com 29%, de acordo com a CBInsights, é ter uma equipe de trabalho em desarmonia. É essencial alinhar a liderança do time com a cultura do produto, que, por sua vez, deve estar bem vinculada a cultura de valor que se deseja atingir. Se a marca diz uma coisa e a equipe outra, temos aí um ruído que poderá ser determinante para o insucesso. O mesmo se dá na proposta de valor que deve ser o fator orientador tanto na escolha de perfis para compor o time como na busca de sócios e investidores.
Produtos mal executados ou com falha de pivotagem vêm na sequência, com 23%. Esse erro é o que chamamos de clássico transtorno de usabilidade, na qual devem ser analisadas e levadas em conta fatores primordiais como conforto, e não beleza estética ou layout. No quarto lugar, a falta de um modelo de negócios bem desenhado, em 19% dos casos, leva ao encerramento das atividades. Nesse âmbito, o principal equívoco é desenhar um produto ou serviço com base numa especulação de mercado ou desejo próprio de um único usuário.
Ainda, atrelado ao último fator, o quinto erro mais comum, com 18%, é ignorar o cliente ou o consumidor, considerado como falha grave por especialistas. Se o produto ou serviço é desenvolvido justamente para o consumidor, é ele quem deverá orientar os rumos de qualquer empreendimento. A melhor forma de escutar os desejos do cliente é através de boas pesquisas e feedbacks. É importante ressaltar a relevância de se considerar, antes de tudo, não só o produto em si, mas onde e como ele será utilizado, os contextos, dificuldades de manuseio e entendimento das funções.
A pesquisa da CBInsights aborda mais exemplos e é válido frisar que não é apenas um único motivo que leva a derrocada final, mas uma junção deles. E para que tudo isso esteja alinhado e com menores chances de insucesso, existe a Cultura do UX, ou “experiência do usuário”, na tradução livre, que é 100% tendência, mas deve vir acompanhado de uma minuciosa análise de mercado a partir da experiência de uso.
Quando se traz o UX para a organização, tem-se o ciclo da investigação, prototipagem, teste e performance inserido também na gestão empresarial, indicando com eficiência e assertividade a direção que a startup deve tomar.
O maior desafio de empreendedores de Startups não está somente na tecnologia, no modelo de negócios, na escolha do time ou na velocidade de crescimento da empresa. Não é só a pessoa, mas o contexto e o meio em que vive. O grande desafio do empreendedor, e que deve ser encarado como uma lição diária e contínua, é entender os fundamentos de como construir uma empresa inovadora para o longo prazo.
Melina Alves é CEO e fundadora da DUXcoworkers e uma das idealizadoras do Impacta Open Startups, um projeto que tem como objetivo fomentar o ecossistema de inovação e de novos negócios no Brasil em apenas cinco dias. A executiva é pós-graduada em Tecnologia da Informação pela Faculdade Impacta de Tecnologia e em Administração Empreendedora pela FGV.