O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), pediu demissão do cargo nesta segunda-feira, 13, pouco antes de participar de uma cerimônia, no Palácio do Planalto, preparada para ser uma “agenda positiva” do governo. O movimento do primeiro tucano a deixar a equipe deflagrou a reforma ministerial planejada pelo presidente Michel Temer para obter apoio político no Congresso e conseguir aprovar as mudanças na Previdência, informa reportagem de Carla Araújo, Tânia Monteiro e Vera Rosa, do Estadão.
Em carta dirigida a Temer, que foi pego de surpresa, Araújo mencionou indiretamente o racha interno vivido pelo PSDB. Disse que não tinha mais o aval do partido para continuar à frente da pasta. “Agradeço a confiança do meu partido, no qual exerci toda a minha vida pública, e já não há mais nele apoio no tamanho que permita seguir nessa tarefa”, escreveu.
Quatro horas depois, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou nota confirmando que “o presidente dará início agora a uma reforma ministerial que estará concluída até meados de dezembro”.
Araújo conversou com Temer pouco antes de acompanhá-lo na solenidade de entrega do Cartão Reforma. Já estava demissionário quando participou da cerimônia. Moradores de Caruaru, em Pernambuco – reduto eleitoral de Araújo – receberam o cartão. Ali, o tucano chegou a usar verbos no passado sobre o período em que comandou a pasta das Cidades, mas ninguém na plateia percebeu que ele estava de malas prontas para deixar a Esplanada.
Deputado licenciado, Araújo disse ao Estado que não havia mais “clima” para permanecer no ministério porque o PSDB não lhe dava respaldo para isso. “Agora, vou me dedicar a trabalhar pela unidade do PSDB”, afirmou ele, que não quis confirmar se será candidato ao governo de Pernambuco, em 2018. “Vou retomar o meu mandato na Câmara e construir alianças para o ano que vem.”
‘A saída do ministro das Cidades – uma das pastas mais cobiçadas da Esplanada – escancara a crise na coalizão governista. O Centrão pressiona Temer para tirar todos os tucanos do primeiro escalão, se quiser aprovar a reforma da Previdência. Formado por partidos médios, como o PP, PR, PSD e PTB, o bloco também ameaça paralisar outras votações na Câmara, caso não seja atendido.
Sem Cidades, o PSDB ainda tem três ministérios (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos). A tendência é de que a pasta antes ocupada por Araújo seja entregue ao PP (mais informações na pág. A6), justamente o partido que mais fez ameaças a Temer.
Cota. No Palácio do Planalto, auxiliares de Temer afirmam que a ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, também deve deixar o cargo. Temer pretende manter na equipe, em sua cota pessoal, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira – que será candidato à reeleição ao Senado – e Antônio Imbassahy, hoje titular da Secretaria de Governo. Imbassahy, porém, deve ser deslocado para outro ministério porque o Centrão também cobra mudança na articulação política do Planalto com o Congresso.
Dos atuais ministros, 17 pretendem disputar as eleições de 2018 e terão de deixar os cargos até abril. O presidente, porém, já disse que vai antecipar a reforma ministerial.
Temer também não quer ficar a reboque do PSDB, que no dia 9 de dezembro fará uma convenção e deve anunciar o rompimento com o governo. Até mesmo o presidente licenciado do partido, senador Aécio Neves (MG), admitiu no sábado passado que os tucanos deixarão o Executivo. “Vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos”, disse Aécio. Por isso, Temer vai aproveitar a entrega do cargo de Araújo para começar a fazer as trocas na equipe.
Antes de o Planalto confirmar o início da reforma ministerial, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou que Temer comentou as mudanças na equipe. “Ele falou que depois conversaria comigo e com o presidente da Câmara (Rodrigo Maia)”, disse o presidente do Senado.