Saiu na capa da edição de domingo da Folha: ‘Mercado já vê Bolsonaro como opção contra Lula’. Único pré-candidato capaz de ameaçar, até o momento, a liderança do petista nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro ganha adeptos no mercado e no eleitorado com um discurso liberal. Mas liberal é uma coisa que ele nunca foi nos seus 7 mandatos em Brasília.
Para analisar o quanto de “mito” há nesse discurso, o jornalista Bruno Carazza, da Coluna E$pírito das Letras, da Folha, analisou o seu comportamento na Câmara dos Deputados desde 1991. Para isso, coletei os dados sobre projetos propostos, votações nominais e participação em frentes parlamentares. A visão a que cheguei é que Bolsonaro sempre foi corporativista, intervencionista, conservador e, em certa medida, oportunista.
“Nas cores da nossa farda rebrilha a glória”
30 motivos para votar em Bolsonaro é uma mensagem que circula há algum tempo nas redes sociais. Segurança pública, valores conservadores e nacionalismo permeiam todas as justificativas. “Bolsonaro é homem de verdade, defende a família, o direito, a propriedade e gosta de trabalhar, então anotem e pensem em tudo isso, ok?”
Para verificar em que medida essa visão de mundo atribuída a Bolsonaro se reflete no seu trabalho de parlamentar, analisei os 166 projetos de lei que ele propôs na Câmara dos Deputados entre 1991 e 2017. Os dados mostram que Bolsonaro gosta de trabalhar mesmo é para a sua corporação, os militares.
Como pode ser visto no gráfico abaixo, mais de um terço das propostas legislativas apresentadas por Bolsonaro desde 1991 tratam dos militares: valor dos rendimentos, pensões, moradia, atendimento médico e hospitalar, criação de colégios militares e anistia de penalidades foram alguns dos assuntos propostos para agradar seu eleitorado preferencial.
Além do corporativismo em prol de sua categoria, Bolsonaro tenta cumprir seu discurso em defesa da família, da moral e do patriotismo. Entre as 13 leis dessa categoria, estão regras sobre o planejamento familiar, a proteção da criança e do adolescente e a regulação do consumo de álcool e fumo – sem falar na defesa dos símbolos da pátria, como os projetos sobre a obrigatoriedade de ouvir o hino nacional com a mão direita sobre o peito, a autorização para aplaudir a bandeira nacional após a sua execução e a proibição de usar palavras estrangeiras em nomes de estabelecimentos comerciais.
Em termos de regulação, Bolsonaro exibe uma preocupação especial com as regras de trânsito (12 projetos), normas de direito do consumidor (7) e outros temas diversos – como relações entre condôminos, flexibilizações no exercício da advocacia e a liberação da “pílula do câncer”.
Na economia, os 15 projetos apresentados por Bolsonaro passam longe do discurso liberal que ele vem defendendo recentemente. Suas propostas na área econômica, ao contrário, revelam uma visão intervencionista: Bolsonaro foi um grande defensor das mudanças nos contratos e índices de correção dos contratos do Sistema Financeiro Habitacional e propôs a reserva de vagas e a concessão de descontos de 50% no transporte aéreo para idosos, por exemplo. Um grande número de projetos trata, ainda, da concessão de isenções tributárias para grupos específicos, como taxistas, indústria automobilística e portadores de diabetes. Todas as medidas, portanto, tratam de beneficiar alguns grupos em detrimento de todos os contribuintes.
Por fim, Bolsonaro é um arauto da segurança pública. E aqui suas propostas giram em duas direções: a liberação do uso de armas para diversas categorias (curiosamente, ele nunca recebeu doações oficiais de empresas armamentistas) e o aumento das sanções penais para criminosos.
Nesse último aspecto, a análise da propositura de leis por Bolsonaro ao longo dos anos revela um fato curioso: foi só recentemente que o deputado “carioca” assumiu esse lado mais repressor contra o crime.
No gráfico acima, os retângulos azuis representam os projetos legislativos de autoria de Bolsonaro na área penal. É nítido que essa temática, embora presente de forma esparsa ao longo do tempo, intensifica-se significativamente a partir de 2013. Essa tendência revela um apurado senso de oportunismo do parlamentar, ao surfar na onda da crise de segurança pública com propostas de aumento de penas para criminosos.
“Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o foro de São Paulo…”
O trecho acima foi extraído do discurso de Bolsonaro na votação da abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff. A tomar por base a virulência com que agride o PT em seus discursos, seria de se esperar um total antagonismo entre as posições bolsonariana e petista. Mas isto só é verdade em partes. Ou melhor, em momentos específicos.
Analisando todas as votações nominais de projetos de lei, PECs e medidas provisórias desde 1991 (um total de 2.043 votações), podemos separar os posicionamentos de Bolsonaro em três momentos distintos.
Entre 1991 e 1998, Bolsonaro colocou-se em posição diametralmente oposta ao PT. Nessa época – governos Collor, Itamar e o primeiro mandato de FHC ele votou contra a posição majoritária do PT em incríveis 100% dos casos.
A partir do segundo mandato de FHC e ao longo dos 8 anos do governo Lula, Bolsonaro aproximou-se do PT, colocando-se em consonância com os petistas em um número expressivo de votações.
A lua de mel entre o PT e Bolsonaro, contudo, degringola-se: a partir do primeiro ano do mandato de Dilma Rousseff, Bolsonaro volta a colocar-se contra o PT e não é possível identificar uma votação sequer em que ambos votam de acordo um com o outro. Neste ponto Bolsonaro mostra novamente um faro apurado para captar o sentimento da população, distanciando-se do PT quando a situação do partido se deteriora politicamente e junto à opinião pública.
Interessante observar, também, que a parceria Bolsonaro-PT, enquanto existiu, versou justamente sobre temas econômicos – e numa direção que passa longe do discurso liberal adotado pelo presidenciável patriota recentemente.
Compilando o texto das ementas dos projetos em que Bolsonaro e PT votaram igual entre 1999 e 2010, nota-se um predomínio de temas associados à Nova Matriz Econômica – visão intervencionista da economia levada a cabo pelo PT. Conforme pode ser visto na nuvem de palavras abaixo, Bolsonaro concordou com o PT nas votações de projetos que tratavam de concessões de benefícios para o setor privado, como incentivos tributários, parcelamentos de débitos, créditos orçamentários, fundos, financiamentos, subvenções, etc. Uma pauta bem distante de políticas econômicas horizontais e não intervencionistas, portanto.
Diga-me com quem tu andas, que te direi quem és…
Por fim, analisei as frentes parlamentares (as famosas “bancadas”) às quais Jair Bolsonaro encontra-se associado na atual legislatura. Se a sabedoria popular estiver correta, um eventual governo Bolsonaro será protecionista, corporativista e conservador.
Bolsonaro está associado a diversas frentes parlamentares de defesa de setores econômicos específicos, como os relacionados às empreiteiras (diversas frentes de defesa da infraestrutura e da construção civil), o agronegócio e setores estratégicos para a segurança nacional (nióbio, carvão mineral, gás natural). O presidenciável também se mostra favorável à convalidação dos incentivos fiscais e do “sistema S”. De forma coerente, é também defensor de minorias que pressionam por tratamentos diferenciados na saúde e em outras políticas públicas, como portadores de doenças raras, autistas e deficientes.
A vocação corporativista de Bolsonaro, explicitada nas dezenas de projetos de lei propostos no interesse dos militares, também aflora com a vinculação a diversas frentes parlamentares que defendem carreiras do funcionalismo (além dos militares, policiais federais, fiscais e diplomatas, por exemplo) e outros segmentos que vivem da burocracia estatal (como despachantes e donos de lotérias).
O parlamentar também se mostra um defensor dos valores conservadores, haja vista que se associa tanto a católicos como a evangélicos, defende a família e as crianças e é contra a liberação dos jogos de azar. Da mesma forma, Bolsonaro é ativo participante da chamada “bancada da bala” – as frentes parlamentares a favor da segurança pública.
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Os dados analisados revelam que, se Bolsonaro atualmente vale-se de um discurso liberal, seu comportamento nos últimos 26 anos vai na direção contrária. Diante de uma crise fiscal sem precedentes e de um (sub)desenvolvimento marcado por concentração de renda em favor de grupos específicos, um candidato corporativista, conservador e com pendores intervencionistas deveria ser visto com reservas. Mas o mercado parece estar cego para essa realidade.
Efraim é relator de projeto para tornar punição mais severa em crimes de roubo de fios de cobre
Publicado
em 22 de nov de 2024
Por
Redação do Portal da Capital
Em conversa com jornalistas nesta sexta-feira (22), o senador Efraim Filho (União-PB) se manifestou sobre sua relatoria ao Projeto de Lei nº 3780, de 2023, que aumenta o rigor da legislação penal para coibir novos crimes de furto, roubo, estelionato, receptação e interrupção de serviço telefônico, e outros de utilidade pública.
O parlamentar disse que é preciso aumentar as penas e incluir na legislação a proteção de bens jurídicos caros à sociedade como, por exemplo, roubos e furtos de cabos e equipamentos de telecomunicações.
“A população não pode ficar à mercê desses bandidos que prejudicam a coletividade, colocando em risco a segurança de todos e gerando estragos irrecuperáveis. O código penal precisa ser atualizado para evitar uma legislação branda para esses delitos. Não dá para ficarmos lenientes com crimes dessa natureza”, desabafou.
Efraim relembrou, ainda em tom de indignação, a recente invasão e o roubo de fios de cobre na Paraíba que afetou a distribuição de água na Região Metropolitana de João Pessoa afetando cerca de 760 mil pessoas.
“Hoje, existem quadrilhas criminosas especializadas que operam de forma criteriosa na subtração de equipamentos de alto valor, como cabos de cobre e baterias. Essas ações infratoras comprometem, muitas vezes com danos irreparáveis, serviços de utilidade pública como emergências médicas”, disse.
Em 2023, mais de 5,4 milhões de metros de cabos de telecomunicações foram subtraídos, um aumento de 15% em relação a 2022, e mais de 7,6 milhões de clientes tiveram seus serviços interrompidos.
“Nosso trabalho legislativo vai ser firme no sentido de punir severamente esses criminosos. O PL 3780 definirá como crime qualificado, com penas mais rigorosas, e não mais como crime comum, o furto e roubo de celulares e de cabos de energia elétrica e telecomunicações ou outros que afetem serviço essencial,” concluiu.
O relatório já está em fase de conclusão e será apresentado em breve pelo parlamentar na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Relatório final da PF aponta Bolsonaro como “líder da organização criminosa” em tentativa de golpe
Publicado
em 22 de nov de 2024
Por
Redação do Portal da Capital
O relatório final de 884 páginas da Polícia Federal (PF) sobre o plano de golpe de Estado no Brasil aponta o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como “líder” do grupo de 37 pessoas que, de acordo com a PF, organizou um plano para mantê-lo na Presidência após a derrota nas urnas para o presidente Lula (PT).
O documento, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (21), relata que Bolsonaro “permeou por todos os núcleos” a organização criminosa apontada pela investigação. A Polícia aponta, ainda, que, apesar de transitar em todos os núcleos, “atuou diretamente na desinformação e ataque ao sistema eleitoral”.
Indiciados
Após um ano e dez meses de investigação, a PF indiciou nesta quinta-feira (21/11) o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas nesse inquérito que investiga tentativa de golpe de Estado no Brasil e plano de assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Morais.
Também estão entre os indiciados alguns ex-ministros do governo, como Anderson Torres (Justiça), general Augusto Heleno (GSI) e Braga Netto (Defesa e Casa Civil).
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid também está na lista, além do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Comissão analisa emendas a reforma dos processos administrativo e tributário
Publicado
em 22 de nov de 2024
Por
Redação do Portal da Capital
A comissão temporária encarregada de modernizar os processos administrativo e tributário (CTIADMTR) voltará a analisar três projetos que aprovou em junho e que, depois, receberam emendas no Plenário do Senado. A reunião da comissão está marcada para quarta-feira (27/11), a partir das 14 horas. O relator das três projetos é o senador paraibano Efraim Filho (União Brasil).
As propostas vieram de anteprojetos apresentados por juristas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e depois formalizados como projetos de lei. Elas haviam sido aprovadas em decisão terminativa e iriam direto para a Câmara dos Deputados, mas receberam recurso de senadores para que fossem analisadas também em Plenário. Ao todo, os três projetos receberam 79 emendas dos parlamentares, que devem ser analisadas pela CTIADMTR.
Outro projeto é o de novas regras para o processo administrativo fiscal federal (PL 2.483/2022), que também foi aprovado como substitutivo. O texto incorporou os conteúdos de dois outros projeto que estavam em análise na comissão: o PL 2.484/2022, que tratava do processo de consulta quanto à aplicação da legislação tributária e aduaneira federal, e o PL 2.485/2022, que dispunha sobre mediação tributária na cobrança de dívidas fiscais. A comissão votará 36 emendas ao projeto.
O terceiro é o PL 2.488/2022 que cria a nova Lei de Execução Fiscal. O objetivo do texto é substituir a lei atual (Lei 6.830, de 1980) por uma nova legislação que incorpore as inovações processuais mais recentes e ajude a tornar a cobrança de dívidas fiscais menos burocrática. Foram apresentadas 14 emendas.
Comissão
As minutas dos projetos foram elaboradas pela comissão de juristas criada em 2022 pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. A comissão foi presidida pela ministra Regina Helena Costa, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Depois, os textos foram apresentados como projetos de lei por Pacheco e remetidos para uma nova comissão, constituída por senadores. O senador Izalci Lucas (PL-DF) presidiu o colegiado.