Até para o padrão Jair Bolsonaro, a última sexta-feira (19) foi, digamos, intensa. Numa manhã inspirada, durante um café com jornalistas de veículos estrangeiros, o presidente distribuiu declarações polêmicas para todo lado.
Curiosamente, talvez a que mais gerou burburinho foi uma afirmação que ganhou o debate público meio sem querer. Em conversa antes do início do evento com o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), captada pelos microfones, Bolsonaro referiu-se aos governadores dos estados ‘paraíba’, como nordestinos são chamados de maneira pejorativa no Rio de Janeiro. Um deles, especialmente, foi alvo especial da língua ferina do presidente: o do Maranhão, Flávio Dino (PC do B).
E o que os envolvidos pensam disso? Fui atrás de representantes da direita nos dois estados citados nominalmente pelo presidente. Como sempre acontece no Brasil atualmente, as opiniões se dividiram.
Mateus Siqueira, diretor do Instituto Tropeiros, da cidade paraibana de Campina Grande, considerou um erro a fala de Bolsonaro. “O episódio enfatiza quanto o presidente está desalinhado com as mudanças necessárias que devem ocorrer em todo o país”, disse Siqueira
A entidade que ele comanda defende o liberalismo econômico, mas tem laços também com o conservadorismo. Recentemente, numa sessão tumultuada por grupos de esquerda, ele organizou a exibição do documentário “1964, o Brasil entre Armas e Livros”, que apresenta uma visão simpática ao golpe militar.
Para ele, Bolsonaro mostra desprezo pela região em sua fala. “Quando faz referência a todo o Nordeste como ‘Paraíba’, ele demonstra falta de conhecimento com relação aos seus estados, cultura, limites e população, além de desdenhar de uma região sempre tão prejudicada pelo estatismo e pelo coronelismo”, afirma.
Do outro lado do debate, o pastor Euder Ferreira, coordenador do Vinacc (Visão Nacional para uma Consciência Cristã), diz que a frase do presidente está sendo distorcida.
“Bolsonaro não falou da Paraíba e do Maranhão, nem dos nordestinos. Atacou apenas os governos desses estados, algo natural no mundo político. O resto é fake news, pura distorção apenas para jogar o Nordeste contra ele”, afirmou ele, cuja entidade é uma espécie de guarda-chuvas de igrejas evangélicas, sobretudo nordestinas.
Todos os anos, o Vinacc organiza um grande encontro, também em Campina Grande, reunindo milhares de evangélicos. É um dos maiores do tipo no Brasil.
Ao publicar sua opinião no Facebook, o pastor ouviu reclamações de alguns seguidores. Respondeu que “crítica política [de Bolsonaro] faz parte do jogo”.
“Não mandar dinheiro para o governo do estado não significa não mandar dinheiro para o estado, pois o governo federal pode fazer diretamente a obra que quiser em parceria com as prefeituras. Isso faz parte do jogo político. O governador comunista do Maranhão vive atacando o governo, eu no lugar de Bolsonaro faria a mesma coisa”, declarou.
No outro estado citado, o Maranhão, perguntei ao prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Rodrigues (PSDB), o que achou do que disse o presidente.
A cidade de 4.600 moradores no sul do estado tem uma peculiaridade: é uma ilha bolsonarista num estado vermelho, onde o presidente teria ganho já no primeiro turno. O motivo é que a localidade tem alta proporção de evangélicos.
Rodrigues, adversário político do governador, acha que Bolsonaro está coberto de razão.
“Ele liberou muito dinheiro para o Maranhão. Está recuperando as estradas da região para o escoamento da soja, que é importante para nossa economia. E o governador fica usando Twittter, o Instagram e Facebook para detonar o presidente”, diz.
Fábio Zanini – Saída Pela Direita/Folha