Lena Guimarães – Correio da Paraíba
Hoje, excepcionalmente, estou ocupando o espaço que é do meu Boss – é assim que chamo Roberto Cavalcanti, o presidente do Sistema Correio, cronista com legião de leitores e escritor aprovado -, que deu uma merecida pausa neste fim de semana, após 150 sob holofotes como candidato à cadeira de n° 27 da Academia Paraibana de Letras (APL).
Ele foi o escolhido por nada menos que 80% dos acadêmicos. Mas a dimensão da vitória fica clara é quando avaliamos os concorrentes: o ex-senador, empresário da área de Educação e escritor Ney Suassuna, e o arquiteto e cronista Germano Romero, filho do último ocupante da cadeira em pauta, o advogado e cronista Carlos Romero, que faleceu em janeiro, aos 94 anos.
Germano Romero pode contar com sua “boadrasta”, como chama a violinista Alaurinda, viúva de seu pai, muito bem relacionada no universo da música e admirada por ser “extremamente elegante” em todos os gestos.
A Academia Paraibana de Letras é formada por 40 integrantes. Com uma cadeira vaga, seriam 39 os votantes. Mas quatro não puderam comparecer. Dos 35 votos registrados, Roberto Cavalcanti recebeu 28 (80%), Carlos Romero, 5 (14,28%), e Ney Suassuna, 2 (5,71%).
A vitória de Roberto Cavalcanti foi maiúscula. E o mais importante: foi resultado apenas do reconhecimento de sua produção literária e de seu compromisso com a cultura.
Vou dizer o que ele jamais diria: sendo dono do maior Sistema de Comunicação da Paraíba, poderia ter usado a força das suas duas emissoras de televisão – TV Correio/Record e a TV Maior -, dos seus dois jornais diários – o Correio da Paraíba e o Já, os únicos impressos privados em circulação -, suas 16 emissoras de rádio distribuídas por toda a Paraíba, sem falar nos portais na internet e na revista Premium.
Poderia ter convocado os renomados profissionais da empresa para avalizarem sua candidatura. E pela forma como se relaciona com todos, haveria competição para a tarefa. Pelo contrário, pediu isenção total.
Roberto Cavalcanti não foi à TV, aos jornais, às rádios, aos portais. Não saiu um artigo sobre sua postulação e seus méritos para ocupar uma cadeira na APL. Quem se der ao trabalho de verificar as edições desses 150 dias de campanha não encontrará preferência no noticiário.
Durante todo o período, o leitor do jornal Correio da Paraíba pode apreciar os textos de Germano Romero, seu concorrente, na página de opinião, onde escreve há anos, e escreveu inclusive no dia da eleição.
O valor dos concorrentes fez com que outros veículos de comunicação abrissem espaços para a disputa. As redes sociais registraram algumas alfinetadas. Roberto Cavalcanti nunca respondeu nenhuma.
No dia da eleição, este jornal fez uma matéria, com a participação dos três candidatos. Até as fotos foram do mesmo tamanho.Respeito aos concorrentes.
Impossível não destacar o clima na Academia durante a votação. Ney Suassuna chegou e logo deu um abraço em Roberto Cavalcanti, declarando que ele era o favorito, mas que lutaria até o fim. Depois chegou Germano Romero para recepcionar os eleitores.
Os acadêmicos entravam e cumprimentavam os três candidatos. Votavam e iam para o cafezinho, onde as conversas eram diversificadas e não se ouvia uma única palavra contra qualquer dos postulantes. Previsões, sim. E já antecipavam a vitória de Roberto Cavalcanti.
O novo imortal chega à APL com votação consagradora. Mas, ganhar com ética engrandeceu ainda mais sua conquista.