O deputado federal paulista, Evandro Gussi, autor do projeto que criou o Renovabio, foi uma grata surpresa para os produtores canavieiros e industriais sucroenergéticos que participaram, no último dia 16, em João Pessoa, de um evento que marcou a abertura da safra de cana-de-açúcar 2018/2019 na Paraíba. Inteligente, bem informado, simpático, profundo conhecedor do setor e da necessidade de regulação, o parlamentar que, infelizmente, anunciou que não disputará novo mandato à Câmara Federal, fez a abertura solene do evento promovido pelo Sindicato da Industria de Fabricação do Álcool (Sindalcool), com apoio da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan).
“Dizem que eu sou o pai da ‘criança’, mas, na verdade, esse projeto que tive a honra de assinar foi elaborado por várias pessoas, com contribuições importantes de várias entidades e técnicos”, disse ele. O parlamentar lembrou que o Renovabio vai ajudar a organizar o setor de biocombustíveis no Brasil. “Vamos passar dos atuais 26 bilhões de litros de etanol para 47 bilhões e é preciso que haja algo que direcione as ações do setor e ainda estimule quem está inserido nesta cadeia produtiva”, destacou Gussi, lembrando que não se pode desprezar um setor que eleva a renda per capita das pessoas em US$ 1 mil no local onde uma indústria é instalada e em mais US$ 400 nas cidades circunvizinhas.
Ainda segundo o parlamentar, que é do Partido Verde, o produtor brasileiro, ao contrário do que se prega fora do setor, é um agente ambientalista por natureza. “Por muitos anos se acusou o produtor de desmatar as matas, mas, 66,8% do território brasileiro está do mesmo jeito que quando o Brasil foi descoberto, ou seja, está preservado. O Brasil, apesar de ser um grande produtor, é o país que menos usa a área para agricultura com um percentual de apenas 7,6% de seu território, enquanto que na Europa isso chega a 80%, na Noruega a 60%”, destacou Gussi, lembrando que o plantio de cana-de-açúcar deve ser associado a energia limpa e a sustentabilidade, pois é a partir da planta que se produz um combustível limpo, renovável e bem menos poluente.
O presidente da Asplan, José Inácio de Morais, que deu as boas-vindas aos participantes do evento, lembrou do atual momento vivido pelo país e, especialmente, pelo setor sucroenergético, e destacou a importância de se eleger políticos comprometidos com as questões de cidadania e, sobretudo, que tenham um olhar voltado para o setor. “Diante do cenário atual, a implantação do Renovabio nos enche de esperança de dias melhores, mas, para tanto também devemos nos unir para eleger políticos que queiram fazer algo pelo país, pelo povo brasileiro e que, sobretudo, valorize o setor”, disse José Inácio.
O deputado federal paraibano, Efraim Filho, que fez parte do painel de abertura do evento junto com o presidente da Feplana, Alexandre Lima e o diretor do Sindalcool, Gilvan Celso, destacou a importância da mudança de cultura em relação ao segmento canavieiro e ao setor sucroenergético. “Há 20 anos, o setor, erroneamente, era o vilão, mas, felizmente, hoje a imagem é outra, ou seja, se associa o segmento a progresso, desenvolvimento, geração de emprego, renda e sustentabilidade”, disse o parlamentar.
“Nos último dez anos, não tem crescido a produção de ATR no Brasil, que passou um período sem regulação e isso atrapalhou a produção de cana-de-açúcar e etanol, mas, esse cenário tende a mudar para melhor. O Brasil tem um grande ativo que é a flexibilidade do setor que hora produz álcool, hora açúcar, dependendo do que esteja mais favorável e com o Renovabio, que foi um conquista importante, esse programa terá impacto em vários setores, além de criar um ambiente mais favorável a investimentos”, disse Guilherme Nastari, da Datagro, que integrou o painel ‘Desafios dos produtores de Etanol e a descarbonização com o Renovabio’, que teve ainda a participação de Antônio de Pádua, da ÚNICA e Gilvan Celso, da Miriri.
Outro tema que foi abordado na palestra seguinte foi ‘Cenários de oferta de Etanol e demanda do ciclo Otto 2018/2030’, pelo representante da ANP, Marcelo Carvalho, e por Rachel Henriques, da EPE. De acordo com Raquel, embora o etanol seja um produto ecologicamente muito superior à gasolina, o preço ainda é um fator preponderante na escolha do consumidor. “Não basta ser melhor, é preciso ser vantajoso economicamente para o consumidor”, disse ela, que lembrou que a matriz energética do país é limpa e que o Brasil comercializa 40% do açúcar mundial e que essa prevalência deve permanecer.
Marcelo Carvalho, da ANP, abordou a questão da Renovacalc, versão da calculadora que vai computar os créditos de carbono das indústrias e anunciou que em junho de 2019 a resolução que regulamenta essa questão será apresentada. Ele lembrou ainda que a adesão ao programa é voluntária, mas, que a tendência é que 100% dos produtores se adaptem ao novo modelo de sustentabilidade proposto pelo Renovabio. Neste momento da palestra, o deputado federal Evandro Gussi, destacou a competência e seriedade que os técnicos e servidores públicos da ANP e da EPE, além de outras instituições e órgãos públicos deram contribuições importantes no planejamento e formatação do Renovabio.
O presidente da Abiogas, Alessandro Von Arco Gardemann abordou o ‘Potencial do Biogás com o Renovabio’ e destacou a imensa potencialidade do país nessa questão do Biogás, especialmente, no Nordeste onde só existem duas, das 125 unidades geradoras de biogás. Segundo ele, há no país 381 indústrias sucroenergéticas produzindo etanol, das quais 67 estão no Nordeste, e apenas 125 de Biogás. Ainda de acordo com Gardemann, a indústria automotiva já despertou para a importância do Biogás e já tem veículos utilizando o biogás, com forte tendência da migração do diesel para o biometano.
A programação foi encerrada com a palestra ‘Bioquerosene de cana – Descarbonização dos transportes aéreos’ com a participação de Onofre Andrade, da Boeing e Dra. Amanda Duarte, da Rede Nacional de Bioquerosene. Ela lembrou que a Gol já fez voos com bioquerosene importando, mas que seria importante desenvolver o produto no Brasil que tem potencial para tanto. O representante da Boeing lembrou que a indústria de aviação responde por apenas 2% das emissões globais de particulados, mas, que mesmo com um índice tão baixo, a meta é reduzir ainda mais. “Temos comprometimento com bons padrões de sustentabilidade ambiental e levamos isso muito a sério”, disse Onofre, lembrando que de 2008, quando se realizou o primeiro voo, até os dias atuais, já contabilizam 120 mil voos com bioquerosene.
Na parte de agendas e conclusões, Alisson Brito, do IFPB, falou sobre Desafios nas novas tecnologias na gestão agrícola’, mostrando como a tecnologia dos drones pode contribuir com o produtor rural na identificação de itens importantes ligados ao seu negócio e um representante do BNB falou sobre as linhas de crédito e formas de atuação da instituição. Para o presidente da Asplan, José Inácio de Morais, o evento superou todas as expectativas. “Tivemos palestrantes de altíssimo nível, com temas que nos afetam e interessam diretamente, de forma que quero parabenizar o Sindalcool pela iniciativa e colocar a Asplan à disposição para sediar eventos desta natureza”, disse José Inácio.