O empresário e ex-senador Roberto Cavalcanti, diretor-presidente do Sistema Correio de Comunicação, expressa em artigo sua comoção por um incêndio que destruiu ou atingiu mais de duas dezenas de barracas no Parque do Povo.
Mas, o mais importante, destaca a capacidade de superação e de união da cidade para, rapidamente, vencer os obstáculos, atender os pequenos comerciantes e assegurar a continuidade da programação do Maior São João do Mundo já no dia seguinte.
Veja o artigo:
Minhas referências foram sempre firmadas em exemplos de resistência. Está no meu DNA. Não tem outra justificativa. Filho de um casal valente, exemplo de superação e luta, não poderia ser de outra forma.
Aprendi com eles, e gostei do modelo. Superar obstáculos por toda a minha vida é uma saga.
Para vencer me espelho em exemplos, me referencio em atitudes. É por isso que admiro tanto os que perseveram.
Convivo e respeito, desde que cheguei à Paraíba, com o que é denominado de “campinismo”. Por sorte minha, foi quando declarar isso não me excluiu do aconchego e carinho com que sou tratado à beira-mar.
Aprendi que “campinismo” significa um jeito de ser que engloba valorização de suas raízes e de seus talentos, uma capacidade de trabalho ímpar, assim como de reação ao imprevisível.
A mentalidade empresarial de Campina Grande me enriquece. Lá, tenho a cada dia concentrado negócios e orientado a família a investir.
Há quase 40 anos, e com frequência, convivo com esse segmento da economia paraibana nas reuniões da Federação das Indústrias. E sempre me surpreendo positivamente.
De onde vem a garra campinense? Da sua origem. Entreposto comercial no topo do Compartimento da Borborema, suas dificuldades nasceram com a geografia. Nada prospera espontaneamente ou facilmente lá. Tudo tem que ser conquistado palmo a palmo.
Vai faltar água? As previsões podem ser as mais pessimistas para todos, mas não para os campinenses. “Fé em Deus! Haverá sempre uma saída, nem que seja na undécima hora”. É assim que pensam. Mas, agem, fazem a parte que depende do homem.
Fato recente é exemplo inquestionável dessa atitude. Considero e atesto que o Maior São João do Mundo é mesmo lá. Já rodei meio mundo para conferir e não encontrei nada tão grande. Lógico! Em Campina tudo tem que ser grande.
A capacidade de resistência para mim foi devidamente comprovada neste último final de semana. Recebia, perplexo, no início da noite do sábado, 30, imagens inacreditáveis. O fogo destruía barracas no Parque do Povo.
Eram imagens comoventes para mim que torço por tudo que é ligado aos festejos juninos, e sou sabedor da importância do evento para a economia da região. Fiquei muito triste.
Não bastaram os incidentes que poderiam ter comprometido o sucesso da festa, como impedimentos para sua abertura na data planejada, boicotes e críticas infundadas? O novo “inimigo” era o poderoso fogo.
Pensei que a festa seria encerrada antes do programado. Esqueci que era em Campina Grande.
No domingo, 24 horas após aquelas tristes cenas, recebia imagens inacreditáveis. Tudo limpo, quase tudo reconstruído. Chequei a informação e não era ‘fake news’, mas a pura verdade.
Não é sem razão que a cidade mantém a liderança das festas juninas, mesmo com a forte concorrência de Caruaru (PE), São Luiz (MA), Mossoró (RN) e Teresina (PI), sem falar que a cidade do Porto (Portugal), do outro lado do Atlântico, também faz uma festa magnífica. Mas esse é assunto para outra coluna.
O “campinismo” mostrou do que é capaz. A festa, que movimenta o comércio e o turismo, que gera negócios e renda para a população, não podia ser encerrada por outro fogo que não o do entusiasmo dos festeiros. E um mutirão atuou. E o brilho voltou a ser apenas das estrelas no palco.
O fogo uniu a cidade. Ninguém freia Campina. Ela não se rende.