Candidato a suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) tem turbinado com emendas parlamentares os cofres de Patos (PB), cidade governada por seu pai e que já esteve sob comando dos avós do deputado.
Entre 2020 e 2022, Motta indicou ao município de 107 mil habitantes pelo menos R$ 45 milhões em recursos de emendas do relator. Essa modalidade de verba foi declarada inconstitucional pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por causa da falta de transparência e da distribuição desigual entre os parlamentares.
Motta também destinou cerca de R$ 5 milhões em “emendas Pix” a Patos desde 2021, verba que cai diretamente nos cofres do município, mesmo sem finalidade definida. Pai do deputado, Nabor Wanderley Filho (Republicanos) é o prefeito e disputa a reeleição.
Nabor já havia sido prefeito de 2005 a 2012. Nos quatro anos seguintes, a cidade foi comandada pela avó materna do candidato a presidente da Câmara, Francisca Motta, atual deputada estadual.
Pai do atual prefeito e avô paterno de Hugo Motta, Nabor Wanderley também foi chefe do Executivo local na década de 1950, quando sucedeu o próprio irmão. Já o avô materno de Motta foi eleito deputado federal e estadual em diversos mandatos.
A assessoria de Hugo Motta não respondeu a questionamentos sobre os repasses de emenda.
Nas últimas décadas, a família de Motta ocupou o poder municipal em mais de uma ocasião. Parte das disputas a prefeito se deu contra nomes de outro ramo da família Wanderley —o nome completo do deputado é Hugo Motta Wanderley da Nóbrega.
Esposa de Hugo Motta, a arquiteta Luana Medeiros Motta tem um cargo na estatal Codevasf desde 2019. Ela recebeu R$ 19,8 mil em agosto, segundo dados da companhia. A estatal é cobiçada por parlamentares por escoar verbas de emenda em obras de pavimentação e maquinário, como tratores.
A Codevasf chegou a demitir parentes e indicados de deputados e senadores quando Lula (PT) assumiu a Presidência. Foi caso da advogada Juliana e Silva Nogueira Lima, irmã do senador Ciro Nogueira (PP-PI). A esposa de Motta, porém, foi preservada.
Das emendas do relator apadrinhadas por Motta e direcionadas a Patos, cerca de R$ 17 milhões financiaram ações para a saúde, como a construção de policlínica. O deputado também mandou ao município comandado pelo pai máquinas agropecuárias e custeou obras de pavimentação, entre outros serviços.
O Congresso encaminhou ao STF, em 2022, documentos revelando parte dos autores das emendas de relator que haviam sido distribuídas nos dois anos anteriores. Hugo Motta foi o 14º maior beneficiado nesta lista, com cerca de R$ 131 milhões distribuídos entre 2020 e 2021.
O líder em verbas foi o senador Marcio Bittar (União Brasil-AC), que revelou à época ter emplacado R$ 468 milhões. Diversos parlamentares, porém, nem sequer informaram se usaram as verbas de relator.
Em 2022, o Congresso passou a expor parte dos pedidos por emendas de relator, ano em que Motta indicou mais R$ 53 milhões, sendo cerca de R$ 10 milhões a Patos.
Líder do Republicanos na Câmara dos Deputados, Motta ganhou força na disputa pelo comando da Câmara após o presidente do mesmo partido, deputado Marcos Pereira (SP), desistir de sua candidatura.
Hoje também são candidatos os líderes Antonio Brito (PSD-BA), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL). Todos eles buscam o apoio de Lira para se consolidar na disputa.
Motta já esteve com Lula (PT) e Bolsonaro (PL) em busca de apoio à candidatura. O presidente da Câmara já afirmou que deseja costurar um sucessor que tenha apoio tanto do PT quanto do PL, as duas maiores bancadas da Casa.