Consequência imediata, a aliança entre ele, o MDB e o governador petista se rompeu em uma reedição do que viveu Dilma na Presidência. Os argumentos apresentados pelo advogado Mariel Marra, que fundamentaram o pedido de impeachment, foram os consecutivos atrasos nos repasses dos duodécimos orçamentários aos poderes Legislativo e Judiciário e nos repasses constitucionais aos municípios, referentes aos impostos estaduais (ICMS e IPVA). As duas infrações caracterizam crime de responsabilidade, de acordo com a Constituição, mas eram, até então, toleradas pelo presidente da Assembleia em nome da aliança agora desfeita.
Arquivados pelo apoio político de Adalclever em outras ocasiões, desta vez, o pedido ganhou tramitação e o processo ficou irreversível. Numa primeira avaliação, ao contrário do que aconteceu com Dilma, Pimentel ainda tem boas chances de conseguir, pelo menos, o apoio de 26 dos 77 deputados estaduais, para arquivar o impeachment antes de sua instalação.
Em meio a essa crise, surgiu uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), aberta após o falecimento da conselheira Adriene Andrade, em 16 de abril, mas já era tarde para acomodar Adalclever: a confiança do governador no antigo aliado tinha sido quebrada.
Seja qual for o desfecho do impeachment, o PT de Dilma e Pimentel e o MDB romperam a aliança de oito anos no estado e criaram dificuldades ao êxito dos projetos eleitorais de todos eles. O enfraquecimento dessa aliança, a mesma que derrotou tucanos e coligados em 2014, por outro lado, facilita o retorno dos rivais ao poder estadual.
O inferno de Aécio
A exemplo de Dilma, Aécio também tem problemas de sobra no caminho de sua reeleição ao Senado. Flagrado em gravação, Aécio comprometeu sua situação ao pedir R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, para, segundo o senador, bancar a própria defesa jurídica contra graves acusações de corrupção na Operação Lava Jato. Daí pra frente, o tucano caiu em desgraça.
Livrou-se com facilidade na Comissão de Ética do Senado, mas foi afastado do cargo (setembro de 2017) pela 1ª turma do Supremo Tribunal Federal e, depois, embora tenha recuperado o cargo, virou réu (17 de abril deste ano) na mesma corte em processo apresentado pela Procuradoria Geral da República, que o acusa de crimes de corrupção passiva e ativa e obstrução de Justiça, de acordo com a Operação Patmos.
Não ficou só nisso. Junto da condição de réu, seu patrimônio político de 51 milhões de votos, de 2014, derreteu e ele é hoje um dos políticos mais rejeitados do país (pesquisa do Instituto Ipsos de agosto de 2017), até mesmo entre aliados. Tanto é que uma das condições para que o senador tucano Antonio Anastasia, fiel aliado de Aécio, aceitasse virar candidato a governador foi a liberdade para escolher os membros da chapa que terá ainda os cargos de vice-governador e dois candidatos ao Senado.
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A condição foi entendida como senha para o afastamento de Aécio da chapa majoritária, para evitar a contaminação devido ao seu desgaste. O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a recomendar que Aécio não disputasse as eleições. A escolha de ser ou não candidato à reeleição, ou à Câmara, é unilateral. Por isso, Aécio tem ampliado consultas. Boa parte dos aliados diz que ele deve disputar a Câmara e não o Senado, outra parte defende um período sabático, no qual, fora dos holofotes, ele cuidaria da própria defesa. Caso insista em disputar o Senado, Aécio corre o risco de isolamento na campanha e de ser derrotado, mais uma vez, por sua concorrente de 2014.
Disputa mais virulenta
Em 2010 diziam que ela era apenas um poste escolhido pelo ex-presidente Lula para sucedê-lo, mas, em 2014, Dilma venceu Aécio por 51,64% a 48,36% dos votos válidos no segundo, garantido sua reeleição à Presidência numa disputa das mais agressivas da história.
No enfrentamento ao tucano, Dilma chegou a chamá-lo de “filhinho de papai” que nunca havia trabalhado e a dizer que ele não era o bom gestor que alardeava ser. Ao se referir ao escândalo de corrupção na Petrobras, no primeiro governo Dilma, Aécio falou em “mar de lama”, recorrendo à expressão usada por Carlos Lacerda contra o presidente Getúlio Vargas, em 1954. Ao final, a desconstrução de Aécio funcionou, permitindo a eleição da petista por pequena vantagem. O baixo nível da campanha rachou o país e levou Dilma ao impeachment dois anos depois.
Juntos, eles tiveram cerca de 105 milhões de votos no segundo turno da eleição presidencial passada e, neste ano, poderão se enfrentar novamente na disputa pelo Senado, ou até mesmo ficar fora da eleição em função da crise que abriam em seus partidos.
Cronograma da crise mineira
06/04 – Dilma transfere domicílio eleitoral para Minas
26/04 – pedido de impeachment é lido no Plenário da ALMG
01/05 – em votação interna no MDB, por 353 votos a 12, a legenda decide ter candidatura própria ao Governo de Minas
02/05 – tramitação do impeachment é suspensa por questões de ordem apresentadas pelo líder de Governo, Durval Ângelo (PT), e pelo 1º secretário da Mesa Diretora, Rogério Correia (PT)
05/05 – Adalclever Lopes (MDB), presidente da ALMG e filho do deputado federal Mauro Lopes (MDB-MG), exonera 62 pessoas, a maioria lotada do gabinete da liderança de Governo na Assembleia. Decisão é retaliação ao PT, que mantém Dilma no radar da disputa eleitoral. Uma cadeira no TCE também é objeto de disputa entre petistas e emedebistas. Durval quer essa cadeira.
08/05 – Adalclever indefere questão de ordem de Durval Ângelo, mas adia parecer ainda sobre a de outros dois petistas. Gesto é entendido como último recado de Adalclever a Pimentel.
09/05 – Minuta do rito do impeachment é predefinida, mas pedido de vista adia conclusão para esta semana
Nesta terça, 15/05, Adalclever apresentará o parecer às duas questões de ordem para que o processo comece ou não a andar de fato.