*Por Josival Pereira
O período para realização de convenções para homologação legal de candidaturas ainda não se fechou, mas o quadro de candidaturas em João Pessoa já está completo com certa antecipação, o que é inédito na tradicional cultura das negociações ou conchavos políticos de última hora.
Havia a perspectiva de cinco candidaturas, mas a postulação de Celso Batista, lançado em fevereiro como pré-candidato, foi rifada pelo próprio partido, neste fim de semana, em processo que marca uma profunda divisão no PSOL. O partido é pequeno, porém funcionava como um bastião mais puro da esquerda organizada em partidos legais, disputando eleições de forma tradicional. Lembrava um pouco os primórdios do PT, propagando ideais e denunciando o poder estabelecido. A campanha em João Pessoa não terá quem cumpra esse papel. Haverá um vácuo, com certeza.
Sem o PSOL, a disputa terá quatro candidatos: Cícero Lucena (PP), Luciano Cartaxo (PT), Ruy Carneiro (Podemos) e Marcelo Queiroga (PL). Parece ser a representação de quatro posições bem definidas do espectro político: direita (Queiroga), centro-direita (Ruy Carneiro), centro e centro-esquerda (Cícero Lucena) e esquerda (Luciano Cartaxo). Cabe uma observação sobre Cícero. O Progressistas, seu partido, está mais à direita, mas ele tem o apoio do PSB, PDT, PCdoB e PV, que puxam para a esquerda.
Nenhuma eleição na Capital em mais de três décadas teve configuração parecida. Primeiro, porque em todos os pleitos destes anos todos os pequenos partidos de esquerda tomaram parte ativa. Depois, porque em poucos momentos houve registro de equilíbrio ou relativo equilíbrio de forças na disputa municipal como agora. Talvez, em 2012, quando as principais forças políticas de então disputaram a Prefeitura com as candidaturas de Cícero Lucena (PSDB), José Maranhão (MDB), Estela Bezerra (PSB, com Ricardo Coutinho no governo do Estado) e Luciano Cartaxo (PT, com Lula na presidência da República). Em 1996, a eleição na Capital também foi bem disputada com as candidaturas de Cícero Lucena (PMDB), Lúcia Braga (PDT), Luiz Couto (PT) e Nadja Palitot (PSB).
A disputa eleitoral este ano em João Pessoa oferece a oportunidade ímpar para um debate mais qualificado. Com exceção do ex-ministro Marcelo Queiroga, os demais candidatos não podem alegar qualquer desconhecimento da máquina administrativa local. Ruy não foi prefeito, mas foi vereador e secretário municipal. Mesmo Queiroga, sem ter conhecido por dentro a estrutura do poder municipal, pode revelar alienação, uma vez que, já tendo sido testado como gestor público, tem a obrigação de saber como funciona.
Noutra dimensão, todos os candidatos têm a obrigação de conhecer a cidade e seus problemas. Evidentemente, cada um deve ter sua leitura particular da realidade da cidade, mas todos conhecem muito bem as deficiências históricas e os desafios presentes da Capital paraibana.
Diante de condição de cada candidato, o que se pode esperar é que o debate seja feito com cima dos verdadeiros problemas da população e que cidade seja contemplada com os melhores planos e projetos governo, com propostas de soluções inteligentes e consentâneas com os desafios da atualidade, como a emergência climática, a fome, os desarranjos sociais, o redimensionamento do mundo do trabalho com o vertiginoso avanço de tecnologia e o crescimento desordenado.
O maior desafio é que João Pessoa não pode retroceder. Não pode abrir mão da qualidade de vida em nenhuma hipótese. Não pode ter expectativas menores do que as que têm acumulado ao longo das últimas duas ou três décadas.
Em relação aos candidatos, a certeza que todos podem ter é de que João Pessoa será exigente e não aceitará nada que possa representar retrocesso em suas conquistas e avanços. Tenham todos a certeza que, em defesa dessa cidade sempre eleita como a melhor se morar, o eleitor será um juiz implacável.
Esses são os principais imperativos que a sociedade impõe a todos os candidatos. Nada pode ficar por menos.