Um ano após o encontro das águas do rio São Francisco com as do açude Boqueirão, na região do Cariri paraibano, o manancial acumula o volume hídrico dez vezes superior ao da época, ultrapassando a marca de 31% de sua capacidade total, o equivalente a quase de 130 milhões de metros cúbicos de água, conforme os dados da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa) informados nesta quarta-feira (18). Segundo o presidente da Aesa, João Fernandes, o volume é suficiente para manter o abastecimento para população, independente do funcionamento da transposição, durante o período mínimo de dois anos, informa reportagem do Jornal da Paraíba.
Quando as águas do São Francisco se encontraram com as de Boqueirão em 18 de abril de 2017, o reservatório registrava a marca de apenas 2,9%, pouco mais de 11,9 milhões de metros cúbicos de água, pior índice hídrico desde sua construção na década de 1950. A última vez que Boqueirão havia registrado a marca acima de 30% foi em junho de 2014.
O presidente da Aesa, João Fernandes, ressaltou que a realidade hídrica do manancial é totalmente diferente do período da chegada das águas do São Francisco. “O encontro das águas do rio São Francisco com as do açude Boqueirão aconteceu em uma situação extremamente crítica em consequência da longa seca na região. Há um ano estávamos ansiosos lutando por uma condição miníma de segurança hídrica para região e hoje depois da efetividade do serviço da transposição, e também graças as chuvas, respiramos aliviados o crescimento do volume de água no açude”, disse.
Ainda de acordo com João Fernandes, o volume hídrico acumulado no açude garante uma condição de abastecimento, independente do funcionamento do serviço da transposição do rio São Francisco, pelo período minimo de dois anos, incluindo, as condições de evaporação, retirada de água para irrigação e outros fatores. “Hoje podemos afirmar que existe sim uma boa condição hídrica. Independente da transposição temos água para abastecer a população durante o período mínimo de dois anos, mas evidentemente isso é apenas uma suposição no sentido de avaliarmos o quanto a situação mudou durante o período. Existem outros fatores que envolvem o processo e o uso racional da água deve ser mantido”, comentou.
Crise hídrica
Responsável pelo abastecimento de Campina Grande e outros 18 municípios da região, o açude começou a registrar condições críticas a partir do ano de 2014, quando foi implantada a medida de racionamento durante o mês de dezembro em questão do longo período de seca.
O fim do racionamento aconteceu no dia 25 de agosto do ano passado, após o manancial atingir o índice de 8,2% de sua capacidade hídrica. A medida foi encerrada quatro meses depois da chegada das águas do São Francisco e gerou polêmica devido o questionamento sobre a segurança hídrica para o futuro. O uso da água sem racionamento só foi liberado após uma decisão publicada pelo Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB).
Suspensão do bombeamento de água na transposição
Devido a necessidade de obras nos açudes de Poções e Camalaú, o bombeamento da água no trecho do Eixo Leste da transposição do São Francisco pelo rio Paraíba até Boqueirão foi suspenso pelo Ministério da Integração Nacional. As obras foram retomadas em cumprimento do cronograma de serviço para conclusão do Eixo Leste da transposição e devem ser concluídas no prazo de até quatro meses.
Influência das Chuvas
As chuvas registradas do período do mês de janeiro até o atual momento na região do Cariri, onde estão localizados os afluentes do açude, são consideradas pela Aesa como fundamentais para o crescimento do volume hídrico do manancial. A maior recarga hídrica de Boqueirão desde sua última sangria, em março de 2011, foi registrada entre os dias 14 e 15 deste mês quando o açude recebeu cerca de 13 milhões de metros cúbicos de água.
O especialista em Recursos Hídricos, Isnaldo Costa, avalia que o objetivo da transposição está sendo cumprido no estado. “O projeto não foi feito para encher Boqueirão e existe uma dificuldade das pessoas entenderem todo o processo. Graças a Deus estamos em um período de chuvas acumulativas para os açudes na região e é totalmente normal que o volume acumulado nesse período supere a carga hídrica trazida pela transposição. O importante disso tudo é que o volume de água continua crescendo”, disse.
Apesar da situação positiva comparada ao período do ano anterior, o especialista faz um alerta para população sobre o uso da água. “Vale lembrar que o momento é de segurança hídrica e não de sustentabilidade hídrica. Isso significa que o cuidado de economia deve ser o mesmo, não é porque temos mais água que devemos desperdiçar. Água é um bem finito e deve preservada”, concluiu Isnaldo Costa.
Abastecimento de Acauã
Além de Campina Grande e outros 18 municípios da região, o açude Boqueirão abastece atualmente a barragem de Acauã, em Itatuba, por meio do rio Paraíba. A comporta do reservatório foi aberta em março como medida de evitar o colapso de água para outros 14 municípios atendidos pela barragem.