Apesar das chuvas que caem na Paraíba, institutos de meteorologia e especialistas alertam que o fenômeno El Niño (caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico), junto com efeitos do aquecimento global, devem provocar no primeiro semestre deste ano que seca na região Nordeste. O fenômeno atinge seu ápice com um verão mais quente do que o de 2023, conforme prevê o Estudo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As chuvas de verão vão chegar em parte do país, com exceção do Norte e Nordeste que devem ter a seca agravada.
Para o Nordeste a previsão é de chuvas abaixo da média na região, com alerta de possibilidade de seca. A estiagem deve ser mais severa na faixa que se estende do Maranhão ao oeste do Rio Grande do Norte e segue até a Paraíba. Com base nas previsões, o deputado estadual Tovar Correia Lima (PSDB) voltou a chamar atenção para a questão e solicitou do Governo do Estado a antecipação de ações que garantam suporte necessário aos produtores do semiárido, que naturalmente sofrerão os impactos negativos.
“Não podemos fechar os olhos para esse fenômeno que causa tantos prejuízos no nosso estado. Por isso, é fundamental que o Governo do Estado se organize e se estruture para levar o suporte necessário aos nossos produtores, como o forrageiro, água e tudo que for necessário para minimizar os efeitos devastadores levados pela estiagem”, destacou Tovar.
O deputado lembrou que a Paraíba foi devastada com a última grande seca que se estendeu de 2012 a 2018, perdendo todas as lavouras, vendo a extinção do rebanho, dificuldades para colocar comida no prato e até ter água para beber. Segundo Tovar, o Poder Legislativo paraibano sempre foi protagonista neste debate e deve manter a sua tradição. “Precisamos debater alternativas e construir uma política de convivência com a seca”, defendeu, acrescentando que vai realizar um evento para debater a temática.
O climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, alerta que o Nordeste deve ser atingido até maio com a estiagem. “Como vamos ter El Niño muito forte no começo de 2024 nós já podemos prever uma seca muito forte no Nordeste, também porque o Atlântico está muito quente. Ele induz seca no Nordeste mesmo quando não tem El Niño. E a temperatura do oceano está batendo recorde ao norte da linha do Equador”, afirmou.
Semidesertos – Durante audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Carlos Nobre apresentou estudo que revela que últimos 60 anos, houve aumento de cerca de 80 mil quilômetros quadrados no semiárido brasileiro, avançando sobretudo em áreas de Cerrado. Em cenário de manutenção de elevadas emissões de gases do efeito estufa, Nobre aponta risco de que 30% do semiárido se tornem semidesertos, com apenas 300 a 400 mm de chuva por ano, concentrada e intensa.
El Niño – É um fenômeno que ocorre no Oceano Pacífico, principalmente. A temperatura do mar aumenta, próximo à costa da América do Sul gerando um braço de circulação atmosférica sobre o Nordeste, o que gera a seca. O fenômeno normalmente contribui para diminuir a chuva, devido a circulação atmosférica que provoca, gerando a seca que tem previsão de duração de um ano. Especialistas acreditam que o próximo El Niño seja um dos piores já registrados. As edições do fenômeno climático que trouxeram mais problemas ocorreram entre 1982-1983 e 1997-1998, provocando secas no Nordeste e enchentes no Sul do Brasil.