Concursos são uma poderosa ferramenta de mudança social de paradigma do mundo queijo. Não é só convidar um monte de jurados para comer e escolher o melhor. É preciso uma super preparação e capacitação, principalmente em uma região que tem todo potencial para crescer no queijo como o Nordeste, diz esta matéria do blog Paladar, do Estadão.
“Este concurso nos surpreendeu pelo número inimaginável de inscrições, tivemos que trocar dez geladeiras por um caminhão frigorífico e mudar o local para caber mais mesas,” disse João Bosco, analista técnico do Sebrae de Campina Grande. O cenário não poderia ser mais lindo, a vila cinematográfica Sítio São João, com casinhas de pau a pique decoradas no melhor estilo nordestino. “Foi fantástico, quando entregamos os prêmios e vimos produtores chorando, se abraçando, comemorando, expressando seu sentimentos, valeu todo trabalho, as noites sem dormir da equipe organizadora, essa premiação vem para confirmar estamos fazendo a coisa certa. O concurso foi a cereja do bolo do Enel, parecia Copa do Mundo, muito emocionante,” disse Bosco.
Expandir a cultura queijeira
A associação SerTãoBras, que reúne mais de 250 membros entre produtores, queijistas, pesquisadores e curadores foi convidada pela segunda vez pelo Sebrae para organizar o concurso, que este ano aconteceu dia 27 de outubro, na última sexta,. “Nós fizemos para o Sebrae da Paraíba a formação de jurados locais,” disse Antonio Fernandes, diretor científico da SerTãoBras, que viajou para a Paraíba para dar dois dias de curso para 40 jurados. Depois, mais de uma centena de alunos tiveram acesso também à formação online de 8 horas que eu dei direto da França.
“Nós pensamos primeiro em formar uma turma de 40 jurados, mas o concurso nos surpreendeu porque as inscrições subiram muito, quando fizemos a conta do número de queijos, para que cada três jurados possam comer no máximo vinte queijos, vimos que a precisávamos de mais de uma centena de jurados,” disse Heloísa Collins, produtora de queijo de cabra de Joanópolis e diretora da SerTãobras em São Paulo. Ela viajou para ser presidente do concurso junto com a professora Rosângela Freitas, professora de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, MG e também do corpo técnico da SerTãobras.
“A particularidade da metodologia de concursos de queijos da SerTãoBras é que damos para cada inscrito uma ficha do perfil sensorial do seu queijo, para que ele possa depois ter novos argumentos e elementos para construir um concurso para vender melhor seu queijo,” disse Rosângela.
Os jurados formados foram alunos do curso de Nutrição de Campina Grande, professores universitários, produtores e queijistas. “A interação com os jurados foi deliciosa, eita moçada bacana! Sérios, gentis, interessados e muito responsáveis, foi muito gratificante ver que a SerTãoBras formou pessoas que já estão dominando o vocabulário queijeiro e vão multiplicar esse conhecimento,” disse Heloísa.
Eu estava na Noruega para o World Cheese Awards e fiquei acompanhando de longe toda a organização, em contato direto como Samira Miranda, responsável da gestão das avaliações e resultados, e toda equipe.
Queijos de alta qualidade
“Participei do Enel 2022, que foi um divisor de águas para muitos produtores nordestinos. O Enel 2023, além do recorde em quantidade de queijos, teve uma qualidade notável a cada mesa. Mais de 60% dos queijos alcançaram nota acima de 14, o que daria direito a uma medalha. É muito surpreendente,” disse Camila Almeida, produtora de queijo Gir da Estância Silvânia, em Caçapava-SP, baiana de origem, que foi comissária geral do concurso junto com Juliana Faria, do Sebrae Bahia.
Com o resultado alto das notas, a organização do concurso foi obrigada a subir a nota mínima de corte para ganhar medalhas, de 14 para 17 num total de 20 pontos. “Nós fazemos isso porque acreditamos que um concurso não deve inundar o mercado de medalhas, que poderia confundir o consumidor, mas sim eleger os melhores, então limitamos o número de medalhas a não mais que 30%,” explicou Flávia Rogoski, queijista da Bon Vivant de Curitiba e diretora da SerTãoBras, que viajou especialmente para o evento. Ao todo foram 236 medalhas: 57 super ouro, 46 ouro, 62 prata e 71 bronze.
“Foi um prazer viver esse momento tão incrível, eu estou emocionada até agora. Foi tudo muito lindo, a emoção dos produtores de verem seus produtos avaliados e valorizados é contagiante,” disse Juliana. A Bahia foi o Estado que mais teve medalhas, 114; seguido da Paraíba, 44; Rio Grande do Norte, 40; Pernambuco, 17; Ceará, 14; e Maranhão 6. Piauí, Sergipe e Alagoa não tiveram medalhas.
“Eu encontrei queijos maravilhosos, de leite cru, fermentos naturais, ordenha manual, sem nenhum defeito de gosto, massa fechadinha, textura maravilhosa. Com certeza quero vender todos no Teta Cheese Bar em Brasília,” disse a queijista Marina Cavechia, que também participou da organização do concurso. “Eu espero que essa visibilidade do concurso vai ajudar os Estados nordestinos a liberarem os queijos artesanais para serem vendidos em todo Brasil”.
O Enel recebeu 3.000 pessoas em 3 dias, sendo 550 que vieram de caravanas de todos os Estados do Nordeste e de Roraima.