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Sobre drogas, Congresso deveria ouvir advogado Deusimar Guedes

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* Por Josival Pereira

Com a polarização da política, algumas pautas de costume voltaram à pauta de discussão. A questão das drogas é uma dessas pautas. No STF (Supremo Tribunal Federal), os ministros avançam no julgamento de uma ação que discute a descriminalização do porte de pequena quantidade de maconha para o consumo pessoal. A reação no Senado foi a apresentação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que prevê a criminalização de qualquer quantidade de drogas.

A polarização também atinge a sociedade, embora pesquisas recentes apontem que mais de 70% da população é contra a discriminação das drogas.

O problema é que não existe uma legislação clara sobre o assunto e são muitos os casos em que juízes condenam usuários com pequenas quantidade de drogas como traficantes.

O debate em relação a políticas públicas sobre drogas virou embate ideológico, segundo o advogado e psicólogo Deusimar Guedes, que estudo o problema há mais de 40 anos, sendo 30 deles como policial federal.

Deusimar não concorda coma criminalização do porte de pequenas quantidade de drogas para o consumo pessoal, mas defende que o uso seja proibido e que a punição seja mais rigorosa do que prevê a legislação brasileira.

Numa recente entrevista ao programa Tambaú Debate, Deusimar aborda a questão das drogas, apresentando luz para diversas questões embotadas pela radicalização político ideológica, posições que poderiam muito bem nortear as discussões no Senado da República.

A seguir, a íntegra da entrevista:

A questão principal que vamos formular é a seguinte: todos sabem que as drogas estão aí, avançaram pra caramba. A política no mundo é de combate ao consumo e ao tráfico de drogas, política que vem desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e a palavra combater é a mais usada. Mais recentemente, porém, já se fala que o mundo perdeu a guerra contra as drogas, a polícia perdeu, o Estado perdeu a guerra contra o tráfico. Em consequência, existe um movimento de liberação das drogas, nos Estados Unidos aprova-se o uso recreativo. Perdemos, de fato, essa guerra? É preciso mudar essa política? Onde estamos?

Você disse muito bem. Eu até nem gosto dessa frase: guerra contra as drogas, porque as drogas são uma substância inanimada, né? Ela não guerreia com ninguém, a substância em si. A droga não guerreia com ninguém; a guerra termina sendo contra as pessoas. Então, a sociedade muitas vezes discrimina muito o usuário de droga ou dependente e esquece da pessoa, do ser humano. Às vezes, se trata de um excelente pedreiro, um excelente pintor, um excelente jornalista, um excelente policial, que se envolveu com droga e tal e termina sendo aquela guerra contra a pessoa. A gente estimula o consumo muitas vezes, principalmente, das drogas licitas e depois discrimina quando a pessoa tá envolvido com a droga não lícita.

Eu digo sempre que essa política em relação às drogas não tem evoluído satisfatoriamente, porque ela termina sendo muito mais ideológica do que científica. A ciência, infelizmente, tem uma dificuldade muito grande de entrar na seara política. Isso é uma prática pode se dizer no mundo todo. Eu acho que a guerra não está perdida. O que precisa se mudar são as estratégias, porque tá provado que a repressão pura e simples, embora seja importante, a repressão ao tráfico eu considero importante, mas não é tudo.

Fiquei 30 anos na Polícia Federal exatamente fazendo isso. Se eu achasse que isso não era importante, seria 30 anos perdidos e eu não acho que foram perdidos. Mas o que falta é exatamente o poder público investir tanto quanto ou até mais na educação, na prevenção, informando as crianças desde os primeiros anos de vida para que exatamente elas evitem o consumo quando elas cresçam, elas cresçam informadas sobre os efeitos sobre as consequências disso pra poder tentar minimizar essa visão.

Essa política da liberação para o uso recreativo que os Estados Unidos estão fazendo, várias unidades federativas dos Estados Unidos, e que parte do mundo também está fazendo, ajuda nessa compreensão e na solução do problema das drogas?

Deusimar – Não. Não acho que ajude. Agora é o seguinte: uma coisa a gente tem que esclarecer à população, às pessoas que nos ver, uma coisa é descriminalizar o porte para consumo pessoal, outra coisa é liberar. Eu acho que o mundo caminha para a descriminalização, deixar de ser crime, podendo continuar proibido. Eu gosto do exemplo de Portugal, uma cultura muito parecida com a nossa. Desde 2001, Portugal descriminalizou o porte pra consumo pessoal, não o tráfico, mas o porte pra consumo pessoal. Descriminalizou todas as drogas para consumo pessoal, mas continuaram proibidas, inclusive a maconha, com medidas sócio educativas até mais duras do que as adotadas no Brasil. Por que qual é a pena hoje no Brasil mesmo que ainda seja crime? Qual é a pena para o porte para consumo pessoal?

Um trabalho educativo, participar de um trabalho educativo ou de um curso educativo, ou de um trabalho comunitário, ou uma repreensão do juiz. Em Portugal, onde não é mais crime o porte para consumo pessoal, mas é proibido algumas drogas como maconha, por exemplo, tem multas, suspensão de carteira de motorista, internação compulsória dependendo do caso. Agora, não é um juiz que vai julgar, é um grupo, uma comissão com pessoas – psicólogos, assistentes sociais, Ministério Público, entre outros agentes da sociedade, que vai aplicar essas medidas sócio educativas.

No Brasil, pelo que se ver, essa discussão que está aí no Congresso, da forma que ela é feita, é muito ideológica, não? Porque é um lado atacando o outro e não se não consegue aprofundar a discussão nesse sentido que você está expondo…

Deusimar – É ideológica e eu acho que ela não serve ao país. A gente teria que achar um meio termo. Todos concordamos que isso é um problema de saúde pública, sobretudo a questão da dependência, mas não é somente um problema de saúde pública. Ele é também da família, da segurança pública, porque quem alimenta a conta bancária dos traficantes é o usuário de droga, não se pode negar isso. Então, na minha visão o usuário precisa ser corresponsabilizado, mas com medidas sócio educativas humanizadas e voltadas pra desestimular o consumo e até pra tratar a doença, coisa desse tipo, e não pra penalizar.

Vamos formular uma questão que você deve estar cansado de pesquisar e de responder: o que motiva esse uso e esse avanço das drogas?

Deusimar – Pela sua imperfeição, o ser humano sempre teve essa tendência e sempre vai tentar fugir da realidade, especialmente quando ela não lhe é agradável. As causas vão desde a curiosidade à influência dos amigos, ou fugir de algum problema, mas, principalmente, a facilidade com que a droga chega. Então, quanto mais fácil o acesso a uma substância, mais ela é consumida, quanto mais flexível a sociedade for em relação a um comportamento qualquer, mais ele tende a se repetir.

Se a gente hoje, por exemplo, tem uma multa cara se andar sem o cinto de segurança, ou sem o capacete, ou avançar um sinal vermelho, você evita. Mas, digamos, que agora o direito individual vai prevalecer sobre o direito coletivo e que você pode andar sem cinto, será que vai aumentar o número de pessoas andando sem cinto de segurança ou sem capacete ou vai diminuir? Então, quanto mais a sociedade for flexível em relação também ao consumo de droga – isso aconteceu em relação a todos os países que flexibilizaram – aumenta o consumo e, aumentando o consumo normalmente, aumenta os danos à sociedade como um todo, sejam os individuais, sejam os sociais, porque é muito fácil defender o princípio da individualidade que a pessoa tem direito – até o próprio ministro Gilmar Mendes falou isso – ele tem direito de provocar danos a si próprio, isso é um direito do cidadão, mas o problema é que ele não provoca só a ele.

Eu sempre dou o exemplo seguinte: a pessoa encheu a cara de cachaça ali e saiu dirigindo o seu veículo embriagado, atropelou um grupo de pessoas que estava saindo da Igreja, ou seja, não foi um problema só dele. Ele terminou atingindo uma série de outras pessoas e essas pessoas acidentadas, que chegam nos hospitais, quem vai bancar são os impostos de todo mundo.

E a vida não é um direito disponível por aí…

Deusimar – O direito individual é extremamente importante – e eu como advogado também o defendo – desde que ele não se sobreponha ao interesse coletivo.

Você já falou aqui em drogas lícitas e há quem diga que elas são uma porta de entrada para as drogas ilícitas no Brasil. Procede?

Deusimar – Sim, principalmente, pela tolerância. As drogas sempre existiram, sempre vão existir, sempre vai ter pessoas consumindo drogas. O que a gente tem que achar é uma fórmula de convivência com as drogas. Eu nem gosto daquelas plaquinhas que, às vezes, vejo na cidade: “diga não às drogas”, “diga não ao crack”. Isso não funciona. Essa coisa mecânica. A gente tem que dizer um não com consciência. A maioria de nós é de adulto que bebe. Muitas vezes bebe e sai dirigindo seu veículo. Será que ele não tem a informação que aquilo é arriscado? A informação ele tem, o que tá faltando pra ele é a conscientização, e essa conscientização essa pessoa precisa massificar.

Campanhas na mídia, campanha nas escolas, em todos os lugares, para que a gente possa massificar essas mensagens e tentar minimizar esse uso abusivo, inclusive em relação às drogas licitas, porque quando se fala em educação sobre droga, nós temos que falar em relação à todas, inclusive aquelas drogas da farmacologia, as drogas terapêuticas. A gente usava no Brasil antibióticos demasiadamente há alguns poucos anos atrás. A Anvisa criou restrições para os antibióticos por conta dos males que estavam causando.

Conheci um jovem que se viciou com Biotônico Fontoura, virou dependente e perdeu a vida bem novo…

Deusimar – Diminuiu muito com as restrições mais recentes da Anvisa ao consumo de antibióticos no país e as doenças continuaram a ser tratadas do mesmo jeito, não houve prejuízo. Qualquer campanha séria, na minha visão, qualquer campanha séria em relação às políticas sobre drogas, elas têm que ser no sentido de diminuir o volume de drogas circulando, porque quanto mais droga circulando estiver, mais danos a sociedade. Eu comparo como fosse o mosquito da dengue, quanto mais mosquito voando, mais pessoas vão ser picadas, mais danos à sociedade como um todo.

Os mais jovem não têm conhecimento, mas as pessoas de média idade vão se lembrar que há menos de 30 anos o número de fumantes no Brasil era estúpido, era 60% ou mais. Hoje, se registra uma inversão total. A mudança total ocorreu por causa de políticas de educação vinculada à questão da saúde pública e uma ampla e agressiva campanha na mídia. Você acha que é possível campanhas dessa natureza pra conscientizar também sobre o uso de droga?

Deusimar – Sim, eu acredito que sim. Acho que Brasil é o país do mundo que mais diminuiu o consumo de tabaco nos últimos 30 anos e, e graças aquelas campanhas, né, que foram muito bem feitas, criaram restrições, fizeram uma campanha com imagens bem fortes na carteira de cigarro, proibiram o consumo e a propaganda do cigarro em ambientes fechados, a propaganda na televisão, programas de televisão e houve uma adesão. Eu acredito numa filosofia, na seguinte filosofia: o que vai ajudar, claro que a lei é importante, criando restrições é importante, mas não é uma lei mais dura ou mais branda que vai trazer a solução. Ela vai ajudar, mas não trazer a solução. Eu acho que o principal numa campanha educativa sobre droga é a adesão da sociedade. E isso o Brasil conseguiu em relação ao tabaco, que ainda assim é a segunda droga mais consumida. A primeira é o álcool. 

No seu livro você fala como, onde e como lidar com o problema das drogas. Talvez esse seja um dos grandes problemas da juventude. Como se deve lidar com a relação entre os jovens e as drogas?

Deusimar – A gente tem que aprender a lidar com as drogas, porque elas estão em todos os lugares. Infelizmente, elas estão em todos os lugares. Estão na Igreja, estão na praia, estão lá na festa… Elas já se se capitalizaram em todo sentido. Então, a gente tem que evoluir na forma de lidar. Eu acredito muito na educação. Você trabalhar desde a criança, desde os primeiros anos de vida na escola, os pais conversando dentro de casa, quando chega na escola, os professores também estão falando, no caminhão da escola, tem um outdoor lá falando sobre isso, quando ela estiver no cinema, antes de começar o filme tem uma mensagem educativa, quando a televisão estiver falando sobre isso. Não mensagens terroristas, assustadoras, mas dizendo a realidade sobre aquelas substâncias, para tentar desestimular o consumo. Acho que o principal trunfo para lidar com isso é se empreender o poder público, fazer a sociedade aderir a essa causa, com campanhas educativas, informativas para desestimular o consumo. Qualquer política que vier a flexibilizar ou que venha a glamourizar, como eu tenho visto uma glamourização muito grande em relação a maconha, deve ser desaconselhada. Por exemplo, maconha como medicamento: macoinha é isso, maconha aqui, quer dizer, glamourização não faz bem. Eu sou a favor das pesquisas, algumas substâncias extraídas da maconha tem dado bons resultados na farmacologia, mas uma coisa é extrair uma substância, outra coisa é o cara achar que a maconha fumada vai servir de medicamento.

Essa questão é mais para o psicólogo que você é: o que fazer quando o problema já está instalado, o jovem já está consumindo cotidianamente e praticamente dependente?

Deusimar – Aí precisamos ter um atendimento imediato, porque normalmente o dependente químico não aguenta ficar em fila de espera. Ele tem que bater na porta e ela tem que se abrir. É preciso melhorar a qualificação dos profissionais, porque eles muitos vezes não se sentem preparados, porque as faculdades não preparam para essa doença nova. A própria Organização Mundial da Saúde diz, nos seus últimos relatórios, afirma que o maior problema de saúde pública do mundo hoje são as drogas, o uso indevido de drogas. Então, a gente tem que ter equipamentos de saúde prontos com pessoas preparadas para atender esse público, seja na área de saúde ou na área social, já que muitas vezes a própria desestrutura familiar é um dos causadores desse problema também. A gente tem que ter, o poder público tem essa responsabilidade de dar um bom atendimento a esses que por acaso já estão envolvidos.

Pensamos que as drogas são, sobretudo, um problema de saúde pública. Mas, lamentavelmente, o poder público não consegue compreender e agir de acordo com a dimensão do problema…

Deusimar – Existe uma omissão generalizada. Eu costumo dizer que o maior problema em relação a essa causa das drogas não é nem o grande número de usuário ou de traficantes, mas a multidão de omissos que existe em relação a essa causa. Quando vem o período eleitoral são muitos discursos, a gente tá acostumado a ouvir isso, mas na prática mesmo a gente vai ver a mãe e o pai sofrendo, porque só quem tem a verdadeira noção da extensão que é o problema da dependência química é quem tem um dependente químico dentro de casa.

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Uruguai: salve a eleição mais chata do mundo

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Redação do Portal da Capital

* Por Josival Pereira

O Uruguai, nosso vizinho do chamado cone sul da América, realizou o segundo turno de sua eleição presidencial neste domingo. A Frente Ampla, uma aliança de centro-esquerda, venceu o pleito e volta ao poder com Yamandú Orsi, candidato apoiado por Pepe Mujica, um ex-revolucionário que, além de virar presidente, se transformou num lendário líder da República Oriental do Uruguai.

A frente de esquerda chegou ao poder pela primeira naquele país somente em 2004, venceu três eleições seguidas, incluindo a de Pepe Mujica em 2009, e perdeu para a direita liberal em 2019, com a vitória de Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, que liderava a aliança conservadora. Agora retoma o poder, apesar da boa popularidade de Lacalle.

Depois da ditadura militar, entre 1985 e 2004 (período de 19 anos). o Uruguai foi governado pela direita, em eleições vencidas pelo Partido Colorado. Sem novidade. Os colorados já emplacaram 46 presidentes, desde 1838, inclusive durante a ditadura cívico-militar. Outra força de direita – o Partido Nacional -, a segunda com maior número de presidentes, ainda assim, só contabiliza 12.

Vencer quatro eleições num período de 20 anos, com mandatos com duração de cinco anos, é um grande feito político para a Frente Ampla. Porém, o que mais chamou a atenção sobre as eleições no Uruguai foram a seguinte manchete, e a consequente reportagem, publicada recentemente na versão online da BBC News: Por que se diz que a eleição do Uruguai é a ‘mais chata do mundo’ neste ano (e por que isso é invejável).

A explicação mais clara sobre a manchete aparece no 4° parágrafo da reportagem: “A disputa no Uruguai tem sido considerada “chata” porque, quem quer que se consagre vencedor, acredita-se que tudo continuará mais ou menos igual no país”.

É de pasmar qualquer um, mas a chatice da eleição uruguaia decorreria mais precisamente do fato de não haver “protestos contra o sistema nem ameaças à democracia”, temas presentes nas disputas eleitorais na América Latina e ao redor do mundo.

“O Uruguai, com seus 3,4 milhões de habitantes, esteve até agora afastado dos níveis de polarização política de outros países”, frisa um trecho da reportagem. Ou seja, não existem os radicalismos presentes em outros países.

E são igualmente fortes outros argumentos contidos na reportagem publicada na BBC News que tornariam a democracia uruguaia invejável:

“O Uruguai se destaca pela continuidade de suas políticas, independentemente do partido no governo, incluindo iniciativas inovadoras como energia renovável e a legalização da maconha”.

“Neste país, ninguém pensa em colocar em risco a estabilidade macroeconômica”, disse Orsi em junho (candidato agora vitorioso).

“Isso faz parte de uma lógica que atravessa os partidos”, acrescentou, em um evento do semanário local Búsqueda.

Além da lógica política democrática, a estabilidade econômica e o baixo nível de desigualdade parecem contribuir decisivamente para afastar os extremismos da política no Uruguai. Veja-se o seguinte registro na reportagem: O Banco Mundial resume que “o Uruguai se destaca na América Latina por ser uma sociedade igualitária, com alta renda per capita e baixos níveis de desigualdade e pobreza”.

Estudos diversos apontam que a Uruguai se conversa, ao longo nos anos, como um país com as menores taxas de desigualdade na região e com uma classe média robusta. Segundo analistas regionais (da Argentina e do próprio Uruguai), estes também seriam fatores que sustentam o tradicional “fair play” da política uruguaia, a estabilidade democrática e o distanciamento dos radicalismos reinantes na América Latina, Estados Unidos, etc.

Pode ser exagero, mas uma reportagem antiga (próxima das eleições de 2019) do jornal El País (versão online) assenta que o equilíbrio democrático no Uruguai tem sido arbitrado pela força da classe média, resultante da baixa desigualdade local: “Essa mesma classe média arbitra, obriga a moderação e se distancia da violência e da demagogia”.

Se o problema é a desigualdade social, a democracia brasileira está inapelavelmente condenada. Mas não deixa de ser estranho, muito estranho, que o tradicional modelo de democracia, com respeito ao princípio da alternância de poder, às leis, às opiniões contrárias e aos adversários, regras básicas e simples, seja considerado uma chatice. Difícil entender.

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Médicos orientam como correr com segurança para aproveitar todos os benefícios do esporte

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Redação do Portal da Capital

Será que é só calçar um tênis e correr? No episódio do videocast Sem Contraindicação desta semana, a apresentadora Linda Carvalho recebeu o ortopedista Remo Soares e o endocrinologista João Modesto para um bate-papo sobre os benefícios e as orientações sobre como praticar a corrida de forma segura e aproveitar os benefícios desse esporte, que conquista cada vez mais adeptos. No Brasil, foram realizadas mais de 150 mil provas de rua em 2023 e a Associação Brasileira de Corrida de Rua estima que o país tenha mais de 13 milhões de corredores.

Durante a conversa, os médicos destacaram a importância de as pessoas buscarem apoio de profissionais da saúde antes de começar qualquer atividade física, incluindo a corrida. Eles também lembraram que é preciso ficar atento à nutrição, necessidade de suplementação e hidratação. “A hidratação é fundamental e aí têm tabelas para a idade e atividade física, de quanto o indivíduo deve fazer a ingestão hídrica, que não precisa ser só água, mas principalmente água”, orientou João Modesto. Ele reforçou que o exercício pode ser praticado em qualquer idade, mas sempre com orientação.

O ortopedista Remo Soares ressaltou a importância de o atleta amador prestar atenção aos sinais do corpo, com relação a incômodos, necessidade de alimentação e disposição durante a corrida. “Inicialmente, precisa fazer uma avaliação médica com um cardiologista para ver que realmente está apto. Isso aí é uma questão de segurança e é muito importante”, afirmou. O médico também sugere que o corredor iniciante comece aos poucos, com percursos mais curtos, antes de partir para corridas de longa distância. “Você não pode começar a correr e já pensar em fazer 10, 21 quilômetros. Que faça, três, cinco, seis e, daqui a pouco, estará fazendo percurso que quer”, disse.

CORRIDA NO DIA PRIMEIRO

A apresentadora Linda Carvalho lembrou que, no dia primeiro de dezembro, a Unimed João Pessoa vai realizar a sua primeira corrida de rua, com saída e chegada do Largo da Gameleira, na orla da Capital. Estão sendo disponibilizados três percursos: 1, 5 e 10 quilômetros.

As inscrições já foram encerradas. Para mais informações sobre percurso e retirada de kits, basta acessar o regulamento, disponível no hotsite da corrida (www.unimedjp.com.br/corridasunimed).

EPISÓDIOS SEMANAIS

O Sem Contraindicação vai ao ar toda quinta-feira sempre com um novo episódio. O conteúdo é publicado no YouTube e no Spotify. Os episódios também ficam disponíveis no Portal Unimed João Pessoa, que conta com uma seção exclusiva do videocast, onde é possível sugerir temas e interagir com a equipe de Comunicação da Unimed JP, responsável pela produção.

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Artigo do redator-chefe da Revista Isto é Dinheiro sobre o “valor” de nossas forças armadas

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O artigo do jornalista Edson Rossi, publicado em sua coluna na IstoÉ, ainda no mês de janeiro de 2023, foi resgatado por diversos setores da imprensa nacional nos últimos dias após a divulgação da notícia de que um grupo, composto em sua maioria por militares das Forças Especiais (FE) do Exército, chamados “kids pretos”, gastaram seu precioso tempo tramando um atentado fatal contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto exala a visão decepcionada de quem olhou de modo um pouco mais profundo para a força militar que manchou a própria imagem em nome de alguns que não se importaram/importam com a corporação mas, apenas, fazem de tudo para utilizá-la em benefício próprio de modo, não mais tão velado.

Confira a íntegra do artigo:

Antelóquio contextual obrigatório: passar pela torre branca de 72 metros feita em mármore junto ao Parque Ibirapuera, em São Paulo, ali pela avenida 23 de Maio, é mero protocolo de mobilidade. Isso quando o trânsito flui. Poucos admiram ou se conectam ao Obelisco, obra do italiano Galileo Emendabilli. Oficialmente, Mausoléu aos Heróis da Revolução Constitucionalista de 1932 (aliás, chamá-lo pelo nome completo já começaria a mudar sua relação com as pessoas). Ali só há restos mortais. Afinal, é um mausoléu. Tem dos quatro estudantes assassinados (tema obrigatório nas escolas paulistas), o tal MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) — que deveria ser MMCDA, já que o Alvarenga, baleado na mesma noite, morreu tempos depois. Mas também tem de outros 712 combatentes de 1932. O que carregam em comum? Foram eliminados por militares. O mais jovem dos tombados era um menino. Aldo Chioratto, 9 anos. Foi morto em Campinas por causa de um bombardeio. Sim. Aviões despachados do Rio de Janeiro por Getúlio Vargas e pilotados por militares brasileiros atacaram brasileiros. Entendeu por que nenhuma cidade paulista emancipada nas antigas tem uma via Getúlio Vargas relevante?

Saber que as Forças Armadas brasileiras se incluem na rara categoria global de ter matado mais patriotas que estrangeiros mostra a sua gênese. Em seus 200 anos, o Exército lista mais batalhas contra brasileiros. Doideira, né? Matou nas revoltas todas. Sul. Maranhão. Bahia. Pernambuco. Matou em Canudos. Matou em 1932. Matou na ditadura. Matou em Volta Redonda. Metralhou no Rio. Matar brasileiros parece ser a sina dessa instituição.

O que se confirmou na pandemia. A gestão patético-criminosa de Jair Bolsonaro & Eduardo Pazuello (à frente da Saúde) deve em nome da ética e deste projeto ridículo de Nação virar inquérito. Por atrasar vacinas. Por ignorar a crise de oxigênio em Manaus — enquanto o militar ex-ministro curtia festinha regada à uísque (pelo menos foi o que disse sua ex-mulher, no ano passado). Ou por mandar a Macapá vacinas que deveriam seguir para Manaus. Erro bobo, coisa de 1.000 km. Se na Segunda Guerra os Aliados tivessem o gênio Pazuello como estrategista logístico, em 1944 o desembarque da Normandia aconteceria em Hamburgo.

Isso é o Exército brasileiro. Cujo filhote símbolo mais reluzente é o fujão Jair Messias Bolsonaro. Uma instituição que forma um presidente da República que declara “não te estupraria porque você não merece” é uma instituição falida. Medieval. Ponto.

A frase de Bolsonaro, definitiva e definidora, é a quintessência da ética-técnica-estética desse ser desprezível que simboliza nossas Forças Armadas (com camisa da Seleção e bandeira no pacote). Aliás, uma instituição que além de matar brasileiros gosta bastante de dinheiro, ce n’est pas? Com quase 380 mil militares ativos e outros 460 mil inativos & pensionistas , esse lodo burocrático consome R$ 86 bilhões com a folha de pagamentos. Mais que Educação (R$ 64 bilhões) e Saúde (R$ 17 bilhões) juntas.

Dinheirama para capacitação? Nada. Você sabia que há mais de 1,6 mil militares com rendimentos líquidos acima de R$ 100 mil? Cite aí uma empresa do planeta em que 1,6 mil funcionários colocam na conta limpinhos R$ 100 mil. E teve quem recebeu R$ 600 mil. Que façanha épica faz com que um milico brazuca tenha condições de colocar no bolso 465 salários mínimos em 30 dias? O tal Pazuello, que para a logística dos outros é bem ruim, para a logística em causa própria é gênio: em março de 2022, enfiou no cofrinho R$ 300 mil. Isso explica por que militares brasileiros odeiam comunistas. Porque querem o Estado só para eles.

Então, quando você ouvir político ou empresário dizendo que o problema do País é a educação, responda ‘não’. O problema é militar. Troque cada dois milicos por um professor e este lugar amaldiçoado se transformará no prazo de uma geração. Depois, quando você ouvir político ou empresário dizendo que o problema é a saúde, responda ‘não’. Troque outros dois militares por médicos e enfermeiros e nossa expectativa de vida dará um salto.

Tudo seria só indecência não fosse o dia 8 — iniciado com a tuitada golpista de 2018 do Eduardo Villas Boas. Esse corpo institucional não somente é caro e odeia brasileiros como prevaricou. Ao ser conivente com o assalto aos Três Poderes, mostrou que não precisa existir — Costa Rica e Islândia nem têm —, ou pelo menos deveria ser aniquilado para renascer transformado. Moderno, civilizado, cumpridor de seu papel constitucional. Enquanto não aprender que serve a uma Nação, e não a uma corporação ideologicamente falida, seu papel estará mais contra os brasileiros do que a favor.

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