Guilherme Luis – Folha de São Paulo
Dois anos após ficar famosa e milionária, a ex-BBB Juliette Freire diz estar finalmente no controle do furacão que varreu a sua vida. É daí que vem o nome do seu primeiro disco, “Ciclone”, lançado nesta quinta-feira, dia 24.
O álbum sucede o EP “Juliette”, que chegou às plataformas quatro meses depois de ela ser coroada campeã do Big Brother Brasil 21.
A paraibana venceu o programa da Globo com 90,1% dos votos, maior aprovação numa final entre três participantes. Ela ganhou ainda 23 milhões de seguidores no Instagram durante o reality, um recorde entre ex-BBBs.
Com o novo “Ciclone”, Juliette quer se firmar na música. “Gosto de MPB, samb
a, forró, funk, trap, eletrônica. Por que não fazer um som que misture tudo isso com uma letra que me represente? Se eu fizesse do zero, poderia construir algo muito bonito”, diz a paraibana num hotel de luxo em São Paulo.
O projeto é mais pop e menos acanhado que o anterior. Nas novas faixas, Juliette enaltece a própria sensualidade, diz ser bela e dura como um diamante, fala sobre romances fracassados, e discute sua relação com a fama.,
No single “Sai da Frente”, por exemplo, ela enfrenta quem duvida da sua carreira. “Se tu não bota fé, no fim vai aplaudir/ até quando vai ficar esperando meu tombo?/ você vai cansar de esperar”, diz a canção.
Soa como uma resposta para a atriz Samantha Schmütz. No ano passado, a comediante insinuou que a ex-BBB não poderia ser considerada artista em um comentário no Instagram. “Acho ótimo se posicionar, mas ela é artista?”, escreveu Schmütz após Juliette afirmar no programa Altas Horas que funcionários da arte têm obrigação de se posicionar sobre problemas sociais.
A paraibana nega que a música faça referência direta ao episódio. “Sempre vi [Samantha] como uma pessoa que enxerga arte de uma forma ampla. Foi decepcionante. Mas não foi só ela quem falou aquilo. Inúmeras pessoas têm essa percepção. Essa letra fala para uma coletividade que não só duvida do meu potencial como artista, mas também como mulher”, diz.
Com o “Ciclone”, Juliette quer minar a autoestima baixa que diz ter sentido ao sair do BBB. Ela conta ter tido um aumento de crises de ansiedade por causa dos momentos em que pensa ter sido humilhada no programa.
É essa fragilidade emocional que Juliette tem como maior empecilho para convencer o público da sua carreira musical. A avaliação é de Gis de Oliveira, especialista em relações públicas que trabalha desde 2002 guiando a carreira de pessoas que estão prestes a entrar ou que acabaram de sair do BBB.
“Eu me meto em tudo. Digo ‘aumenta, abaixa, um som disso, um som daquilo’’, ela afirma. “Quando você canta música que fez do zero, é diferente. Entrei numa missão de me conhecer como artista.”
O novo álbum tem também menos referências ao Nordeste, seja nos arranjos, mais eletrônicos, ou nas letras. À época do lançamento do EP, Juliette viu a faixa “Diferença Mara” virar meme por causa da frase “engulo preconceito com farinha”, que ela diz ter crescido ouvindo das pessoas que a rodeavam.
Quem debochou do verso foi xenofóbico, ela afirma. “As pessoas têm o péssimo hábito de achar que só porque sou nordestina devo cantar apenas forró. Isso não existe”, diz. A cantora conta que houve rádios de música pop que só aceitaram tocar “Diferença Mara” com a condição de ela editar a faixa para apagar o som de sanfona.
“A xenofobia empobrece nossa cultura. [Meu sotaque] Causa estranhamento. A gente se vicia em cantar como o mercado impõe”, acrescenta. “Todo artista que se propõe a fazer algo diferente causa estranhamento. Se esse for o preço, tudo bem. Que uma criança possa entender [ao me ouvir] que ela pode ser paraibana e cantar pop ou o que quiser.”
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