* Por Josival Pereira
Os bruscos movimentos de partidos políticos em Brasília nos últimos dias são de chamar a atenção.
Há duas semanas (em 30 de março), três grandes legendas, com a participação de duas de pequeno porte (MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC), anunciaram a constituição de um bloco partidário com 142 parlamentares. Uma força de respeito.
Os blocos permitem a participação dos partidos no maior número de comissões, na distribuição de relatorias de projetos importantes, espaço privilegiado nos debates em plenário, além, evidentemente, em se constituírem em importantes grupos de pressão política. Servem para a disputa de cargos na Mesa Diretora e a negociação de ministérios, cargos e vantagens no governo federal.
No caso desse bloco anunciado no penúltimo dia de março, havia uma motivação política particular. A intenção de reduzir a força do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP), inclusive na eleição para sua sucessão, no início de 2025.
A manobra agradaria também o Palácio do Planalto, que passaria a ter um Arthur Lira menos poderoso nas negociações na Câmara Federal.
Entretanto, não demorou muito para se conhecer a reação do presidente de Câmara, que foi o anúncio da formação de um bloco parlamentar com a participação de nove partidos e 173 deputados, com mais integrantes, portanto, do que aquele que seria o maior bloco parlamentar no Congresso.
O deputado Arthur Lira participou de todas as articulações, mas não apareceu no evento de comunicação à imprensa, certamente para preservar, com a equidistância necessária, à Presidência da Câmara.
O novo blocão é formado pelo União Brasil (59 deputados), PP (49), Federação PSDB/Cidadania (18), PDT (17), PSB (14), Avante (7), Solidariedade (5) e Patriota (4).
O que está, na verdade, acontecendo em Brasília?
A percepção é de uma grande inquietação no seio dos partidos. O fim das coligações mexeu com todos. Muitos perderam boa quantidade de deputados nas últimos eleições e a consciência é de impossibilidade de cumprimento da cláusula de desempenho em pleitos futuros. Momentaneamente, algumas legendas tentam escapar com a formação de federações, mas já se sabe que fusões e incorporações serão inevitáveis. A formação desses últimos blocos são ensaios do que deve ocorrer nos próximos anos.
Interessante observar que o Centrão se dividiu na movimentação da formação dos dois blocos, e não foi de forma combinada. A divisão entre o PP e União Brasil, de um lado, MDB, PSD e Republicanos, do outro, tende a se consolidar em termos de organização, embora todos possam se juntar nas votações de temas de interesse dos grupos econômicos e de poder que representam. A separação de agora é também ensaio para a formação de futuros partidos. Certamente haverá um partido mais de centro e outro de direita moderada ou democrática. A direita mais radical deverá ser liderada pelo PL, que sozinho tem uma bancada de 99 deputados.
E o que o PSB e o PDT, partidos de centro-esquerda, estão fazendo no bloco do PP e do União Brasil?
Parecem cumprir missão conjuntural de ajudar o governo Lula a formar uma maioria mais ou menos confortável no Congresso. O manifesto do blocão fala em união de interesses para garantir a governabilidade. É possível, então, que, na disputa por espaços e privilégios no governo com o centrinho (bloco do Republicanos, MDB e PSD), o PP e o União Brasil tenham negociado aproximação com o Palácio do Planalto, que poderá até contar com apoio ponderado dos dois blocos. Essa movimentação poderá até não ser tão ruim pra Lula.
Na movimentação de Brasília a esquerda ficou onde estava. Tem duas federações- a Brasil da Esperança, com 81 deputados-, e a PSOL/Rede, com 14 parlamentares. O PSB e o PDT podem somar mais 31 deputados às esquerdas, mas já dá para perceber que, no processo de reorganização partidária em marcha, o Congresso pode parir três grandes partidos de direita e apenas um grande de esquerda.
Na real, a direita se reorganiza celeremente e a liderança pessoal de Lula vai salvando a esquerda.