O Brasil teve um ganho de 10% na superfície d’água em 2022, na comparação com o ano anterior, o menor da série histórica. Apesar da notícia positiva, a tendência é de que o país continue ficando mais seco.
De acordo com dados do estudo Mapbiomas Água divulgados nesta quarta-feira (15), no ano passado foram recuperados quase 17 mil km² de água no território nacional, o equivalente a onze cidades de São Paulo.
Segundo matéria na Folha, no total, o país ultrapassou a marca de 182 mil km² de superfície d’água, o que não acontecia desde 1999.
Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água, explica que o monitoramento da superfície d’água é diferente daquele feito com o desmatamento, por exemplo. “Os recursos hídricos são algo cíclico, que apresenta variações ao longo do ano. Isso é uma característica natural do fenômeno”, diz.
“A gente teve um respiro em 2022, mas se olhar de 2013 para cá, tivemos os dez anos com mais perda de superfície d’água na série histórica”, destaca ele.
O mapeamento começou em 1985. Desde 2010, em sete anos foi registrada queda na superfície d’água, chegando ao nível mais baixo em 2021, com 165 mil km².
De acordo com o pesquisador, a melhora observada no ano passado se deve a uma mudança no regime de chuvas, com precipitações acima da média, principalmente na região Centro-Oeste e na caatinga, e também na Amazônia.
“[Na dinâmica do] pampa não tem estação seca. Historicamente, chove todos os anos. Porém, nos últimos três anos teve situações críticas no regime de precipitação, com perdas importantes na safra”, afirma Schirmbeck.
Especialmente no Centro-Oeste, as chuvas dependem dos chamados rios voadores que vêm da Amazônia. Esse grande volume de vapor d’água é produzido pela floresta e é o que garante a produtividade agrícola na região. Assim, a destruição da mata, que muitas vezes está associada ao agronegócio, tem impacto direto no clima.
“Em relação ao agronegócio, existe uma pressão sobre os recursos hídricos associada ao desmatamento e à falta de conservação de áreas de preservação permanente, que são aquelas faixas que precisam ser preservadas na beira dos rios. Ao mesmo tempo, o agro é prejudicado por esses fatores“, ressalta o pesquisador.
“Em grande parte do território brasileiro não se tem mais safra e safrinha como há 30 anos porque o período de chuvas acabou se encurtando. Hoje, grande parte da safrinha se baseia em irrigação [artificial]”, diz.
A exposição dos rios, com remoção da vegetação, também faz com que mais água evapore. Além disso, o desmate também prejudica a contenção da água. Quando chove intensa e rapidamente em uma área coberta por lavoura, a terra não consegue conter esse volume e ele vai embora. Já em lugares com vegetação nativa, essa água é contida e melhor absorvida pelo solo.
As mudanças climáticas também impactam a quantidade de água existente no país, já que tornam mais frequentes eventos extremos como secas prolongadas e chuvas concentradas em períodos curtos de tempo.
Os dados de 2022 também trouxeram uma boa notícia em relação ao Pantanal, que teve um aumento na superfície d’água pela primeira vez desde 2018. Essa melhora, no entanto, não é o suficiente para reverter três décadas de redução constante na água da maior planície alagada do mundo. A área ocupada hoje pela água no bioma é 60% menor do que a média da série histórica.
Uma das consequências da seca prolongada no Pantanal são as queimadas que, especialmente em 2020, atingiram fortemente o bioma.
Os dois estados do Pantanal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vão na contramão da maioria do país, com redução de 48% e 23%, respectivamente, na superfície d’água. Além destes, a Paraíba também registrou queda de 12%.
O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.