O Estado da Paraíba, há três anos, foi um dos principais assuntos da imprensa nacional por causa da prisão do ex-governador Ricardo Coutinho, que chegou a ser considerado um foragido da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).
Ricardo foi preso no dia 19 de dezembro de 2019, durante a realização da sétima fase da ‘Operação Calvário’, deflagrada em 17 de dezembro do mesmo ano.
Na ocasião, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPF/PB) revelava que Ricardo era apontado como líder de uma Orcrim (Organização Criminosa) responsável por um dos maiores esquemas de desvio de verbas públicas do Estado cujo valor, à época, já ultrapassava a cifra dos R$ 130 milhões.
Na época, a operação decretou a prisão de Ricardo e também de ex-secretários de sua gestão a exemplo de: Waldson de Sousa, Gilberto Carneiro, Cláudia Veras, Coriolano Coutinho (irmão de Ricardo), Márcia Lucena (então prefeita de Conde), Estela Bezerra (deputada estadual), entre outros.
Ricardo permaneceu preso até o dia 07 de janeiro de 2020, quando foi solto graças a uma liminar acatada pela Justiça.
O que mais chama atenção, além da própria história que remete a um verdadeiro roteiro de um longa para o cinema, é o fato de que três anos após a prisão de Ricardo, no ‘frigir dos ovos’, praticamente, nada aconteceu aquele que ainda hoje, dezembro de 2022, é apontado pelas investigações do Ministério Público como o ‘cabeça’, o ‘chefe’, o ‘mandante’ de todo o esquema criminoso. Nada, além de ser participante de uma guerra judicial.
Alguém pode até dizer: “ahhhh… mas, a Justiça decretou o sequestro dos bens de Ricardo. Ele ficou pobre!”. E, então, ao ouvir/ler isso, vou fazer questão de relembrar que o ponto também é moral, principalmente, quando temos notícias de punições muito mais severas e vexatórias para pessoas que, por exemplo, roubam comida para não ver os filhos… a família morrer de fome.
E acrescento à minha fala, a lembrança de que cidadãos só se encontram à margem da mais plena miséria e da consequente marginalidade, graças, também e principalmente, a desvios de verbas públicas, como este investigado pelo Gaeco, que tornam o acesso aos direitos sociais garantidos na Constituição, uma das realidades mais difíceis que se pode imaginar.
“Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da constituição.“, texto, publicado no DOU (Diário Oficial da União) em 05 de fevereiro de 2003.
A prova de que praticamente nada aconteceu foi ver, depois disso tudo, Ricardo empoderado o suficiente para, literalmente, ‘peitar’, ‘desafiar’ e fazer a Justiça publicamente de ‘BO-LI-NHA‘ ao sair candidato à senador pela Paraíba nas Eleições 2022, gritando aos quatro ventos durante discursos em palanques que a sua inelegibilidade não passava de notícia falsa ou “fake news”. Mesmo sabendo que era condenado pela dita Justiça.
Faça-me o favor! Você, realmente, quer me dizer que algo aconteceu? Que a Justiça foi feita? Que alguma punição aconteceu? Que certo alguém se regenerou? Repito: faça-me o favor!
Não. Nada aconteceu.
Diferentemente do caso de uma brasileira chamada Rosângela de Almeida, mãe de cinco filhos que foi presa, ainda no ano passado, em 2021, por furtar R$ 21 (vinte e um reais) em alimentos em um supermercado de São Paulo (dois miojos, uma garrafa de refrigerante e suco em pó) para não ver mais os cinco filhos passando fome.
Diferentemente do caso de dois homens famintos que foram presos, em 2019, pelo furto de alimentos vencidos na área de descarte de um supermercado de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Traduzindo: foram presos por pegar lixo para comer que totalizava um “furto” no valor de R$ 50 (cinquenta reais).
Então, não. Nada aconteceu.
E olha que nem vou me alongar falando sobre outras figuras que foram presas por ocasião da mesma Operação Calvário e que, por exemplo, foram liberadas da prisão, passaram um tempão ‘desfilando’ de tornozeleira eletrônica e seguiram como prefeita ou mesmo deputada estadual recebendo salários pagos pelos cidadãos.
Então… meus queridos leitores e leitoras… nada aconteceu.
Mesmo Ricardo tendo silvo investigado pelo Ministério Público, tendo sido denunciado oficialmente por, pelo menos, duas dezenas de vezes e ridicularizando a Justiça… nada aconteceu.
A responsabilidade disso, obviamente, também é da morosidade judicial que sofre daqueles males que nunca são resolvidos: pouca gente para uma infinidade de trabalho que é realizado sob prejuízo de centenas de ‘brechas’ judiciais que, normalmente, só favorecem os mais ricos ou poderosos.
Pois é… o tal “nada” que tanto falei… segue acontecendo. Tanto, que vou parar de escrever por aqui porque, coincidentemente, acaba de bater à minha porta um mendigo… pedindo comida…