O ministro da Saúde, médico paraibano Marcelo Queiroga, recebeu um título honorário de cidadão de Aracaju que não foi votado pela Câmara local e, por isso, não tem validade.
A entrega do diploma aconteceu na quinta-feira (3) em cerimônia na Capital sergipana que contou com a presença do vereador bolsonarista Pastor Diego (PP), autor do projeto, e do prefeito Edvaldo Nogueira (PDT).
De acordo com esta matéria publicada originalmente pela Folha, o projeto de decreto legislativo foi colocado no expediente da sessão, mas não votado. A vereadora Linda Brasil (PSOL), que presidiu parte da sessão, diz que leu a pauta e não compreendeu que se tratava do ministro da Saúde.
Isso porque no documento o nome de Queiroga foi grafado sem o sobrenome mais conhecido. Diz apenas que “concede o título de cidadão aracajuense ao senhor Marcelo Antônio Cartaxo Lopes”.
Ignorando a exigência da aprovação para a concessão do título, o vereador Pastor Diego entregou o título para o ministro.
“Como vereadora, eu queria ter o direito de contestar a concessão do título, de votar contra. Não podia entregar o título sem a nossa apreciação. Eu denunciaria uma pessoa que contribuiu com a disseminação da Covid-19”, afirma Linda Brasil.
O vereador Anderson de Tuca (PDT), presidente da Comissão de Justiça, diz que a entrega do título não passou pelos trâmites previstos no regimento da Casa.
“Como ele foi agraciado com o título sem que os vereadores aprovassem? É de se questionar o presidente da Câmara também. Não fomos nem comunicados de que o ministro estaria em Aracaju, na Câmara, para receber o título. Lamentável a forma que foi feita, uma loucura jurídica”, afirma Tuca à coluna.
Linda Brasil e Tuca afirmaram ao Painel que questionarão a Câmara e tentarão fazer com que o título concedido a Queiroga seja cancelado ou não seja efetivado.
A reportagem procurou o vereador Pastor Diego e o presidente da Câmara, Nitinho Vitale (PSD), mas não teve resposta.
Como mostrou o Painel, Queiroga foi vaiado na noite desta quinta-feira ao participar de congresso de secretários municipais de Saúde em Aracaju. Em reação, ele xingou os membros da plateia de covardes.
Queiroga foi o último dos ministros da Saúde escolhidos por Bolsonaro para combater a pandemia da Covid-19. Ele assumiu o cargo após Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), Nelson Teich e Eduardo Pazuello (PL, deputado federal eleito).
Os dois primeiros perderam os cargos após demonstrarem resistência à postura negacionista do presidente, que combatia medidas de isolamento social recomendadas por cientistas e pela Organização Mundial da Saúde e recomendava medicamentos sem eficácia contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.