O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), informou na manhã desta quarta-feira 19, sua desfiliação do PSDB após 22 anos no ninho tucano. Em carta divulgada à imprensa, Doria afirmou que já formalizou o pedido ao diretório estadual do partido. No documento, o ex-governador relembrou algumas de suas conquistas como a atuação durante a pandemia de covid-19 no Estado, obras entregues durante o governo e afirma que encerra a “trajetória partidária de cabeça erguida”.
“Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual”, disse.
De acordo com esta matéria originalmente publicada no Estadão, Doria também relembrou as prévias do partido que venceu – a primeira em 2016, quando disputou a prefeitura da cidade de São Paulo, em 2018, na corrida pelo governo, e em 2021, quando foi o escolhido pela sigla para disputar o Palácio do Planalto. “Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964″, afirmou. “Vencí todas as eleições das quais participei. Por três vezes fui eleito em prévias partidárias pelo voto soberano da maioria dos filiados do PSDB. Fui eleito no primeiro turno para Prefeito da capital paulista, em 2016. E em 2018 vencí a eleição para o governo de São Paulo. Sou e sempre serei um homem que se pauta pelo equilíbrio, diálogo, consenso e gratidão”, completou.
Trajetória
Em maio, pressionado por integrantes do próprio partido e pelo fraco desempenho nas pesquisas de intenção de voto, Doria se viu obrigado a desistir de sua pré-candidatura à Presidência da República, abrindo caminho para que os tucanos apoiassem a senadora Simone Tebet (MDB). O PSDB selou uma federação com o Cidadania e com o MDB, e Doria chegou a disputar internamente, no grupo de aliados, o direito de representar a coligação.
“Com o coração ferido e a alma leve”, ele admitiu que não era “a escolha da cúpula do PSDB”. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade”, disse, emocionado.
Com índices de rejeição maiores que os de Tebet, ele perdeu a queda de braço e acabou ficando de fora também do governo, uma vez que renunciou ao posto para tentar a Presidência. O então vice-governador, Rodrigo Garcia, assumiu o cargo e fracassou na tentativa de obter a reeleição, ficando de fora do segundo turno. Foi Doria quem negociou a saída de Garcia do ex-DEM (hoje União Brasil) e sua filiação ao PSDB.
Pouco após a desistência, em julho, Doria anunciou a sua volta ao setor privado e afirmou, na época, que permaneceria filiado ao PSDB. O tucano disse a jornalistas que havia recebido um “honroso convite” para integrar o Conselho do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), entidade fundada por ele e hoje presidida por seu filho, João Doria Neto.
Leia a íntegra da carta aberta do ex-governador:
“Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual.
A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com determinação, foco e resiliência.
Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros. Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.
Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora, pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral, promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil, geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo
Garcia e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.
Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.”