Cláudio Castro (PL) foi reeleito governador do Rio de Janeiro. Com 91,33% das urnas apuradas, ele registrava 58,24% dos votos válidos. O deputado federal Marcelo Freixo (PSB) somava 27,66% dos votos, enquanto Rodrigo Neves (PDT) ficou com 8,03%. Castro liderou toda a apuração sem sustos, sempre em um patamar próximo aos 60% dos votos válidos.
Em 765 dias, ele conseguiu ir da condição de um governador por acidente à conquista de uma surpreendente reeleição em primeiro turno. Eleito vice-governador durante a onda bolsonarista de 2018, o cantor católico —que assumiu o cargo interinamente em agosto de 2020 após o afastamento de Wilson Witzel— permanecerá como governador do Rio até 2026.
Aos 43 anos, Castro —que durante toda a campanha liderou a disputa eleitoral— superou o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), cuja estratégia foi colar a imagem à de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atacar o governador com escândalos associados à gestão dele. A recente guinada ao centro por Freixo não foi suficiente para superar nas urnas o governador apoiado por Jair Bolsonaro (PL).
Castro lançou mão de todas as ferramentas de um político tradicional para se reeleger: formou uma ampla coligação com 14 partidos e utilizou os recursos da concessão do saneamento público do estado para abrir frentes de obras e repassar valores expressivos para municípios —de acordo com o governo, R$ 4,4 bilhões já foram reservados para pagamentos.
Essa engenharia fez Castro conquistar o apoio de 85 dos 92 prefeitos do estado e de uma ampla maioria dos deputados estaduais e federais. O governador somou a isso o apoio de Bolsonaro, embora tenha procurado evitar se associar fortemente ao presidente ao longo da campanha.
Campanha marcada por escândalo dos cargos secretos. Toda essa musculatura fez Castro superar a sucessão de denúncias que envolveram seu governo às vésperas da campanha. Em junho, o UOL revelou o escândalo dos mais de 20 mil cargos secretos na Fundação Ceperj, espécie de IBGE estadual.
A série de reportagens do UOL e as posteriores investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) mostraram que os 13 programas da Ceperj contratavam pessoas sem processo seletivo ou nenhuma transparência. O governo do RJ também usou a Uerj (Universidade do Estado do RJ) para empregar aliados.
Há diversas denúncias sobre funcionários fantasmas e uso político dos programas, que foram loteados entre aliados de Castro para a contratação de cabos eleitorais. Com os salários pagos por meio de ordem de pagamento na boca do caixa, quase R$ 250 milhões foram sacados em dinheiro vivo por funcionários dos projetos desde o ano passado.
Durante a campanha, Castro teve que mudar seu vice. O ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) teve o registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral. Pouco antes, Reis havia sido alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeitas de fraudes na saúde. O substituto foi o deputado estadual Thiago Pampolha (União Brasil), ligado ao grupo político de Sérgio Cabral.
Pouco depois, outra operação atingiu a campanha —Allan Turnowski, ex-secretário de Polícia Civil e homem forte da gestão Castro na segurança pública, foi preso pelo MP-RJ sob a acusação de integrar a quadrilha do bicheiro Rogério de Andrade. De acordo com as investigações, Turnowski atuava como um agente duplo do jogo do bicho. Ele nega as acusações e se diz perseguido.