Após se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que ainda não sabe se o líder brasileiro Jair Bolsonaro (PL) vai manter a reunião marcada com ele para a segunda-feira em Brasília.
Apesar de Bolsonaro ter dito na sexta (1) que iria cancelar o encontro após saber que Rebelo se reuniria com Lula, de acordo com a Folha, oficialmente a comitiva portuguesa não foi comunicada sobre um cancelamento e o evento continua na agenda. Rebelo afirmou que se não receber uma confirmação na tarde deste domingo, partirá para um “plano B” e ficará por mais um dia em São Paulo.
O presidente português, Marcelo Rebelo, com o ex-presidente Lula, em encontro em São Paulo. O presidente português, Marcelo Rebelo, com o ex-presidente Lula, em encontro em São Paulo
“Houve um convite escrito, aceitei por escrito. Vou ficar no programa originário”, disse à imprensa, no fim da reunião com Lula. Um pouco depois, ele admitiu que está reprogramando a agenda para o caso de o encontro com Bolsonaro não ser confirmado. “Se até o começo da tarde não houver uma confirmação por escrito, fico por São Paulo.”
Rebelo afirmou que não tratou do tema com Lula, nem sobre a campanha eleitoral brasileira. Segundo ele, os dois conversaram sobre a Guerra da Ucrânia e seus impactos geopolíticos e sociais sobre o mundo e a América Latina. Lula não falou com jornalistas após a reunião, que ocorreu na residência oficial do cônsul português em São Paulo.
O presidente português negou que o episódio tenha gerado um incidente diplomático entre os dois países. “Eu diria, como chefe de Estado, que não alterou nada nem no meu relacionamento com o chefe de Estado brasileiro, nem do Estado português com o Estado brasileiro nem no relacionamento entre o povo português e o povo brasileiro”, disse.
Questionado se não previu que a reunião com o petista —principal adversário do atual presidente brasileiro na eleição deste ano— poderia gerar mal-estar, Rebelo afirmou que a programação de sua visita é cultural, que já havia encontrado ex-presidentes em outras viagens e que oficialmente não há campanha eleitoral no Brasil.
“As candidaturas serão só em 6 de agosto. Portanto, não há candidatos. Não há sequer período eleitoral.”
Rebelo negou que seu encontro com Lula seja uma tomada de posição de seu governo em relação à eleição brasileira. “Falei com o ex-presidente Lula como já havia falado há um ano. Falarei com Temer, Fernando Henrique, todos ex-presidentes.”
Ele disse que pretende voltar ao Brasil em setembro e que, nesse caso, agirá de forma diferente. “A campanha estará correndo.”
Após a reunião com Lula, Rebelo iria visitar a Bienal do Livro e se encontraria com os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Segundo Rebelo, se o almoço com Bolsonaro for cancelado e ele ficar em São Paulo, talvez remarque a conversa com o Fernando Henrique para a segunda-feira.
Antes de embarcar para o Brasil, no aeroporto de Lisboa, logo após Bolsonaro dizer que desistiria do almoço com Rebelo, o líder luso havia afirmado que “não vale perder um segundo com um almoço quando há amizade entre os povos”. “O que importa é a amizade entre os povos, não a ligação entre os políticos”, disse à imprensa, minutos antes de embarcar para a celebração do centenário do primeiro voo transatlântico Portugal-Brasil.
“Quem convida é quem pode decidir se mantém ou não o almoço”, afirmou Rebelo, que não descartou um novo almoço com Bolsonaro “daqui a alguns meses, meio ano”.
O líder brasileiro confirmou à CNN Brasil que a mudança de planos ocorreu devido a uma agenda que Rebelo teria com Lula, adversário de Bolsonaro nas eleições.
Como presidente, Rebelo é chefe de Estado em Portugal. O comando de governo é exercido pelo primeiro-ministro, o socialista António Costa. Trata-se da segunda vez que Rebelo vem ao Brasil em menos de um ano —em julho de 2021, ele participou da reabertura do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Apesar de Portugal manter importantes laços econômicos, sociais e culturais com o Brasil, as relações entre os líderes dos dois países mantiveram-se distantes durante a gestão Bolsonaro. O presidente brasileiro, por exemplo, até o momento não visitou Portugal durante seu mandato —ao contrário de todos os líderes desde a redemocratização, com exceção de Itamar Franco.
A passagem anterior de Rebelo ocorreu num período agudo da pandemia, e o encontro repercutiu na imprensa portuguesa pela diferença de comportamento das duas delegações. O líder português e seus assessores chegaram ao Palácio da Alvorada usando máscaras, enquanto Bolsonaro dispensou o item.