A derrota de Luiz Inácio Lula da Silva por unanimidade no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) estreitou o campo de atuação da defesa do petista, enfraqueceu a viabilidade de sua candidatura presidencial e pode isolar o PT na eleição.
Aliados de Lula reconheceram, horas depois do julgamento, que o rigor da sentença desta quarta-feira (24) encurta o cronograma projetado pelo PT para brigar pelo registro de seu nome na disputa pelo Planalto, segundo reportagem de Bruno Boghossian, Marina Dias e Daniel Carvalho, da Folha.
Originalmente, o partido esperava que Lula chegasse ao período de inscrições no Tribunal Superior Eleitoral em condições mais favoráveis —com recursos pendentes no TRF-4 ou abatido por uma sentença menos rígida.
Agora, petistas ouvidos pela Folha admitem que a discussão sobre o caso do tríplex em Guarujá (SP) deve se encerrar em segunda instância muito mais cedo do que previam, uma vez que, derrotado por placar unânime, Lula só poderá apresentar um tipo de recurso ao tribunal.
O grupo do ex-presidente estima que os embargos de declaração, usados para esclarecer pontos da sentença, devem ser julgados em dois meses —o que faria com que o caso se encerrasse em abril, quando o TRF-4 poderá decretar sua prisão.
Além disso, o julgamento sepultou a esperança de que Lula tivesse direito a apresentar, ainda nesse tribunal, embargos infringentes —permitidos quando há divergência a favor do réu na votação— e arrastasse o processo até julho ou agosto na corte.
Diante de um cenário considerado desfavorável, a estratégia do PT será radicalizar o discurso contra o Judiciário e os adversários políticos de Lula por considerar que os espaços de mediação na Justiça estão limitados.
Faz parte desse plano insistir na candidatura de Lula à Presidência —que deve ser lançada nesta quinta (25) em São Paulo— como a principal frente de sua defesa.
O partido quer persistir nessa tese mesmo que o ex-presidente seja preso. Petistas preveem uma sucessão de recursos e liminares no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal) que poderão tirá-lo da cadeia, garantir o registro de sua candidatura ou, ao menos, adiar uma declaração de inelegibilidade.
ISOLAMENTO
Petistas reconhecem ainda que a condenação e a chance de prisão aumentam o risco de que o partido fique isolado no processo eleitoral.
Legendas que discutiam uma possível aliança com o PT mesmo diante da incerteza sobre a candidatura de Lula agora mudam o discurso e cobram uma decisão mais célere sobre um plano B.
São cotados o ex-governador baiano Jaques Wagner e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad.
Siglas e movimentos sociais alinhados ao petista acreditam que há sinais claros de que a sentença não deve ser revertida em instâncias superiores e que Lula estará fora da corrida presidencial. Caso o PT não antecipe a substituição do ex-presidente, esses grupos ameaçam procurar projetos alternativos.
Adversários do petista acreditam que o registro de sua candidatura ainda é uma possibilidade, mas que seu nome se enfraquece na disputa caso ele precise se amparar em uma liminar.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, que denunciou o mensalão em 2005, diz que, nesse caso, Lula entrará em campanha fragilizado. “Se Lula obtiver um mandado de segurança e registrar a candidatura em agosto será de maneira precaríssima.”
Já Silvio Torres (PSDB-SP), aliado de Geraldo Alckmin, considera provável que o PT busque uma alternativa a Lula. “A tendência é que seu favoritismo decline. Lula não está acima de Deus”, afirmou.