A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) defendeu na tarde desta terça-feira (23) que seu antecessor e colega de partido, Luiz Inácio Lula da Silva, “não é um radical”. “O Lula não é um radical, só não é uma pessoa que negocia suas próprias convicções”, disse, segundo reportagem de Ana Luiza Albuquerque, Anna Virginia Balloussier e Catia Seabra, da Folha.
A fala vai ao encontro da preocupação do ex-presidente em não afrontar o Judiciário, um dia antes do julgamento em segunda instância que pode selar o destino de sua candidatura em outubro.
Ao confirmar presença no ato da noite desta terça, Lula pediu que transmitissem a informação de que sua viagem a Porto Alegre representa apenas um gesto de carinho.
Dilma falou por cerca de meia hora em um carro de som estacionado em frente à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, durante um evento de mulheres em defesa da candidatura de Lula. O ato estava previsto para ocorrer no Auditório Dante Barone, dentro da Assembleia, mas uma queda de luz impediu a realização do evento no local.
A ex-presidente negou que o partido tenha uma segunda opção para concorrer à Presidência. “Ter plano B quando se trata de um inocente é covardia, e nós, as mulheres desse país, já demonstramos que se tem uma coisa que não somos é covardes”, afirmou.
Na ação que será julgada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), Lula é acusado de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS em decorrência de contratos da empresa com a Petrobras. O valor, apontou a acusação, se referia à cessão pela OAS do apartamento tríplex ao ex-presidente, a reformas feitas pela construtora nesse imóvel e ao transporte e armazenamento de seu acervo presidencial.
Dilma defendeu que a acusação não tem base, ressaltando que não foi identificado um “ato de ofício” ou vantagens que o ex-presidente Lula teria recebido. “O que é um ato de ofício? Ato de ofício de um presidente pode ser uma lei que ele assinou, um decreto que ele fez, um contrato, uma iniciativa que ele tomou para beneficiar alguém. Não tem nada que demonstre o que o presidente fez. Aliás, o juiz diz que não é preciso ter um ato. É o que ele pensa, mas não é o que diz a lei brasileira.”
A ex-presidente disse que o tríplex não é de Lula e que nunca foi usufruído por ele. “Mas alguém pode dizer ‘ah, pode ter um laranja ocultando esse tríplex’. Aí a defesa mostrou para o juiz que esse tríplex estava registrado no nome da empresa construtora OAS, e que essa empresa tinha dado esse tríplex em garantia para uma operação financeira que ela tinha contraído com um banco.”
Para Dilma, o caso é “uma confusão danada”. “Agora, recentemente, uma juíza pegou esse tríplex, tirou da propriedade da construtora e deu para uma empresa. Isso é uma confusão danada, porque veja bem, o Lula é condenado por um apartamento que uma juíza tirou de uma empresa e deu para outra em pagamento de suas dívidas”, disse.
IMPEACHMENT
A petista voltou a falar no impeachment, afirmando que “o golpe fracassou politicamente” e que os “golpistas” não têm lideranças que sobrevivem ao escrutínio popular. “Eles não têm candidatos. O PSDB teve todos os seus candidatos praticamente destruídos. Hoje o único que resta, que é o governador de São Paulo, também não tem apoio popular nenhum.”
Ela também citou a possível candidatura do apresentador Luciano Huck, dizendo que agora querem “política social de auditório”. “Trama-se alguns candidatos, como é o caso de um apresentador, que é um bom apresentador, nas não é capacitado pela experiência para ser um bom candidato. Agora eles chegaram a um ponto de querer política social de auditório, que você faz para 20, para 30, para 40 [pessoas].”
Dilma discursou, ainda, sobre o crescimento da extrema-direita. “Quem é de extrema-direita não é quem diverge de você. É de extrema-direita quem defende tortura. É de direita quem acha que as mulheres, as populações negras, indígenas, não merecem reconhecimento”, afirmou.
Por fim, a ex-presidente disse que é preciso resgatar a Justiça. “O impeachment sem crime de responsabilidade levou ao caos institucional nesse país, com juiz brigando com juiz, juiz brigando com Ministério Público, Senado brigando com Supremo, e por aí foi.”
Também participaram do ato, entre outras mulheres, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e a ex-ministra de Políticas para Mulheres do governo Dilma, Eleonora Menicucci.