O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) viajou para Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral da Paraíba, para dar palestras, falar com eleitores em praças e conceder entrevistas para rádios locais em 8 de fevereiro do ano passado. “Hoje estou perdendo a sessão em Brasília. Gostaria de estar lá, mas para quem tem pretensões outras tem de estar muito bem preparado para aquele momento em 2018. Vale a pena tudo isso aí”, afirmou em entrevista à época. A veículos de imprensa paraibanos, apresentou a meta de fazer duas viagens para fora da capital federal por mês: promessa cumprida, revela reportagem de Felipe Frazão e Daiene Cardoso, do Estadão.
Em campanha aberta para a Presidência da República, Bolsonaro aumentou seus gastos com passagens aéreas pagas com dinheiro público da Câmara dos Deputados. Levantamento feito pelo Estadão/Broadcast mostra que, nesta legislatura (entre 2015 e 2017), o deputado fluminense gastou 39% mais com passagens custeadas pela Câmara do que no período anterior (de 2011 a 2014): passou de R$ 261 mil para R$ 362 mil.
O parlamentar mudou o perfil de suas viagens nos últimos três anos, quando começou a ganhar força sua intenção de disputar o Palácio do Planalto após se reeleger, em 2014, como o deputado mais votado (464.572 votos) no Rio. Ele passou a visitar mais cidades de todas as regiões do País, fora do eixo Brasília-Rio, onde trabalha e mora.
Os deslocamentos para outros Estados saltaram de 23 para 83 – 2,3 por mês. Foram considerados apenas os bilhetes em que Bolsonaro é o passageiro e pagos por meio da cota parlamentar. A um ano para o fim da atual legislatura, ele já se deslocou 351 vezes, ante 404 dos quatro anos anteriores.
Em Campina Grande, uma das poucas cidades onde o PT perdeu as eleições presidenciais no Nordeste, Bolsonaro pagou, com dinheiro da Câmara, R$ 1.013,69 em bilhetes aéreos. Seu gabinete emitiu as passagens no dia 20 de janeiro do ano passado. Hoje, o deputado fluminense é o segundo mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
‘Mito’. Bolsonaro costuma ser recebido por apoiadores aos gritos de “mito” nos aeroportos, circula em locais públicos, dá entrevistas e faz palestras relacionadas à segurança pública.
Em julho de 2017, o deputado seguiu esse roteiro. Foi recepcionado por simpatizantes no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde falou em “libertar o País” com a “verdade”. “Longe aqui de estar fazendo campanha política, muito longe disso, mas cada um de nós tem a liberdade de ter o direito de buscar o que é melhor para o País. Aqui não tem mais um capitão do Exército, tem um soldado do Brasil à disposição para ir às últimas consequências para retirar aquela podridão que está em Brasília”, esbravejou. Entre junho e julho, o gabinete comprou quatro passagens para Porto Alegre ao custo de R$ 4.456,60.
A área externa do gabinete do deputado em Brasília estampa uma montagem de fotos em que ele aparece nos braços de seus apoiadores. Procurado, o deputado não foi localizado. No informativo em que presta contas do mandato, ele justifica suas viagens como uma troca de experiências sobre a administração pública.
Eleito pelo Rio, Bolsonaro tem direito a R$ 35.759,97 mensais por meio da cota parlamentar. Entre 2015 e 2017, ele gastou R$ 967 mil dos R$ 1,3 milhão que tinha direito. De acordo com normas internas da Câmara dos Deputados, “não serão permitidos gastos de caráter eleitoral”.
Experiência. Em panfletos para prestar contas do mandato, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) justifica suas viagens como uma troca de experiências sobre a administração pública. “Minhas viagens, em consonância com a abrangência nacional de meu mandato, visam a obter e transmitir conhecimentos e experiências.”
O chefe de gabinete, Jorge Francisco, afirmou que a estrutura do Parlamento não se confunde com as atividades de pré-campanha. Ele disse também que o deputado viaja a convite para falar sobre segurança.