O presidente do PEN/Patriota, Adilson Barroso, viu o projeto político do seu partido atropelado pelo casamento consumado (expressão usada pelos próprios envolvidos) entre o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o PSL, de Luciano Bivar (PSL-PE). O PEN/Patriota, que até a semana passada ainda era a legenda escolhida pelo hoje segundo colocado nas pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro, para concorrer à Presidência da República, “bate e assopra” no ex-aliado.
Em entrevista a Gilberto Amendola, do Estadão, Barroso diz que foi traído pelo grupo de Bolsonaro, mas reforça que ele ainda teria espaço em sua legenda. Além disso, diz que o “casamento” de Bolsonaro deve “azedar” em breve e que o deputado pode terminar no PR.
Você se sentiu traído pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)?
O Bolsonaro foi enganado por um grupo mal-intencionado que está ao redor dele. Esse grupo não quer elegê-lo presidente. O que eles querem é tomar um partido. Fui traído pelo grupo dele. Como pode alguém que quer ser presidente da República cair na lorota dessas pessoas…
Ficou a mágoa então?
Já consegui aceitar esse tipo de atitude. Consegui me estabilizar – e constatar meu grande alívio. Essa equipe dele estava me pressionando a destruir tudo o que eu havia criado nos últimos cinco anos. Olha o caso do diretório do Sergipe. Lá, eu tive que trocar uma liderança que já teve 28 mil votos em uma eleição por alguém que teve 400 votos. Eles queriam empurrar um monte de bananas sem votos para cima do partido.
Ele te ligou depois de optar pelo PSL?
Não recebi nenhuma ligação. Eu passei dezenas de mensagens. Eu não desisto. Eu desejo estar cara a cara como ele. Se ele nos respeitar (o partido), se nos receber, falar conosco, ainda podemos estar com ele.
Então, acha que pode ter uma volta?
Se, por acaso, essas denúncias que estão aparecendo contra Bolsonaro e família não tiverem fundamento (enriquecimento ilícito), se ele for absolvido, a porta da candidatura estará sempre aberta. Isso se ele não demorar… Aqui ainda tem vaga para ele. Mas não terá o controle político do partido. Aqui ele pode ter a legenda – caso nenhuma denúncia pegue nele.
Pode então ter alguma coligação com o PSL?
Eu não sei se coligaria para o Legislativo, mas para o Executivo pode ser sim. Acho que ele perderá muitos votos por não ser um Patriota. No meu partido, ele teve tudo, só não conseguiu tomar o partido de mim.
Bolsonaro ou o grupo dele exigiu muita coisa?
Olha, eu não fiz covardia, nem faltei com a palavra com ninguém. Criei um partido com 500 mil assinaturas. Eu fundei um partido, não tomei de ninguém… Mas não sou de brigar, nem de vingança. Se ele quiser, será bem-vindo. Se ele não voltar, vai ser por vergonha de ter deixado a equipe dele fazer o que fez comigo. Saiu daqui por causa da pressão de um advogado que já foi defensor do PT e do Zé Dirceu (Gustavo Bebianno Rocha) . Esse advogado minou nossa relação. Quando a equipe de Bolsonaro pediu o diretório nacional, eu entendi que eles só queriam tomar o partido. Eles não estão interessados em ganhar a eleição. Continuo gostando de Bolsonaro, mas o que aconteceu foi uma tragédia. Não foi bom para ele. Já vejo a mão de Deus fora da campanha dele.
Os filhos de Bolsonaro estavam de que lado?
O deputado estadual (PSC-RJ) Flávio Bolsonaro pode até dizer o contrário, mas ele sempre foi a favor que o pai ficasse no Patriota. O Flávio estava tendo problemas com o pai por não concordar com que a equipe dele estava fazendo comigo.
O que tanto a equipe do Bolsonaro pediu para você?
No início, eles me pediram o controle de cinco Estados, mas já estavam avançando em 23. Agora, diziam que eu tinha que entregar o controle total do partido porque estava debilitado e o partido poderia parar na cláusula de barreira. Quando eles deram a cartada final, pedindo o diretório nacional, eu disse não.
Acredita que a candidatura dele pode ruir?
Ele perdeu a força do patriotismo. E vejo essa coisa triste que uma candidatura começa a ruir. Olha, se ele queria visibilidade, o Patriota era o lugar certo. Eu sou o campeão das redes sociais. Eu tenho 50% a mais de seguidores do que ele no Facebook.
O partido vai se chamar Patriota agora que ele foi embora?
Continua o nome Patriota. Já teve alguém da turma do Bolsonaro me pedindo para desistir – acho que queriam impor esse nome no PSL. Mas hoje os patriotas somos nós. Já me pediram para desistir do Patriota, acho que queriam impor lá para o homem do PSL. Hoje eu sou ‘patriotista’, assim com os EUA e Israel.
Acha que a parceria Bolsonaro e PSL vai vingar?
Já tem muito arranhão lá no PSL. Eles (o grupo do Bolsonaro) vão pedir tudo e vai dar briga. Aqui no Patriota nós temos uma unidade grande. Aqui, quando eu falo “a” é “a”. Aqui, quando eu falo “você será candidato” todos acompanham. No PSL metade é contra o Bolsonaro, metade é a favor. No Patriota não tem essa questão de maioria, aqui tem unanimidade.
O PSL não estaria totalmente à vontade com Bolsonaro?
Vai azedar no PSL. O partido que tem social e liberal no nome não pode ter a ver com o que Bolsonaro prega. O “social” no nome é Venezuela, é Cuba. O que o Patriota quer é gerar emprego. Ele está no lugar errado. E isso é meio caminho andado para perder.
Acha que o presidente do PSL, o Luciano Bivar, não agiu corretamente com você?
Luciano Bivar está certinho na posição dele – e todos que lutam pela própria sobrevivência política estão certos. Não o conheço, mas respeito. O que sei é que Bolsonaro deu um tiro no pé para ir a um partido que não tem controle nenhum.
Acredita que exista outra alternativa para o Bolsonaro que não seja o PSL ou o Patriota?
Eu já escrevi no grupo de WhatsApp do grupo dos presidentes de partido. Não sou profeta, sou técnico… Por isso digo, que primeiro a equipe do Bolsonaro vai pedir 1,2 ,3, 20 Estados, a presidência e o diretório nacional. Aí, se tiver alguma discordância ele vai para o PR. Sempre me ameaçavam com a possibilidade do PR.
Acha que o fim dessa novela vai ser o PR?
Ele irá para o PR provavelmente… Ou acabar sem legenda. Olha a história política do Garotinho (ex-governador do Rio que foi libertado da prisão após decisão do ministro Gilmar Mendes). Um ex-governador, um sábio, que tanto fez que foi parar no PMDB e caindo no esquecimento da política. Isso pode acontecer com Bolsonaro se ele se deixar levar por essas pessoas. E, se for para o PR, pode acabar vendido para o PSDB, PMDB ou PT – em troca de algum ministério. Aqui, no Patriota, ele estava garantido.
O Patriota tem um plano B?
Vou convidar o ex-ministro do STF, o Joaquim Barbosa – que tem mais potencial que Bolsonaro. Se ele não quiser e o Bolsonaro não voltar, vou lançar a minha própria candidatura à Presidência da República.