Autoridades portuguesas intensificaram as investigações do suposto esquema irregular de adoção de crianças envolvendo a cúpula da Igreja Universal —incluindo as duas filhas do bispo Edir Macedo.
A conduta dos juízes nas sentenças em que os menores foram retirados de suas famílias biológicas e entregues a pastores da igreja será analisada será escrutinada pelo Ministério Público e pelo Conselho Superior da Magistratura do país, informa reportagem de Giulliana Miranda, da Folha.
Especialistas têm apontado que pode ter havido falhas graves no material usado no embasamento das decisões.
As duas entidades reforçaram a intenção de investigar o assunto após vir à tona que a atual procuradora-geral da República de Portugal, Joana Marques Vidal, coordenava a equipe de magistrados do Ministério Público no Tribunal de Menores de Lisboa na época em que as adoções suspeitas foram autorizadas.
Em nota oficial, o Ministério Público afirmou que “nada deixará de ser investigado, o que permitirá apurar todos os fatos e eventuais responsabilidades”.
O Conselho Superior da Magistratura de Portugal declarou que também vai recolher material sobre as decisões judiciais do caso, mas ressaltou que, até agora, não há indícios de responsabilidade: “não foram suscitados quaisquer casos colocando diretamente em causa decisões de juízes”-
A instituição diz ainda que “determinou a recolha de todos os elementos pertinentes para avaliar os procedimentos prévios às decisões judiciais e os procedimentos de interação dos tribunais com as instituições com responsabilidade no percurso de preparação das decisões”.
O CASO
Uma série de dez reportagens exibida em dezembro pela TVI, a emissora de maior audiência de Portugal, acusa Igreja Universal do Reino de Deus de operar um esquema de adoção irregular e de tráfico internacional de crianças em Portugal na década de 1990.
Batizado de “O Segredo dos Deuses”, o trabalho detalhou o funcionamento irregular por vários anos de um orfanato mantido pela Universal na capital portuguesa. O “Lar Universal” está no centro da polêmica das acusações.
Segundo as reportagens, várias crianças, muitas vezes retiradas de seus pais biológicos de forma arbitrária, eram entregues a figuras proeminentes da Universal, usando o lar como fachada para encobrir o caráter ilegal das operações.