A orla de João Pessoa, capital da Paraíba, deverá sofrer uma intervenção para ampliação da faixa de areia em quatro praias em 2022. É o que planeja a prefeitura da cidade, inspirada nas obras realizadas em Balneário Camboriú (SC) neste ano.
A medida planejada pela administração municipal de João Pessoa se dá na esteira de um fenômeno nacional de encurtamento das faixas de areia por causa da erosão costeira, um processo natural provocado pela água do mar modificando a costa.
Desde 1985, o Brasil perdeu 15% das suas praias e dunas, tendo como uma das consequências o surgimento constante de obras para proteção da costa. O levantamento foi feito pelo projeto MapBiomas, que é formado por especialistas para acompanhar os ecossistemas.
A organização também aponta que o Brasil perdeu, nos últimos 36 anos, 15% da área costeira. O número foi influenciado pela pressão para criação de empreendimentos imobiliários e extração de sal.
O anúncio da intenção de João Pessoa de expandir a orla foi feito pelo prefeito Cícero Lucena (PP) ainda em setembro.
Técnicos da prefeitura de João Pessoa têm preparado estudos preliminares em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) para definir como será a execução do projeto.
A previsão é que a obra na orla da capital paraibana comece no segundo semestre de 2022. Na atual fase, a prefeitura elabora fundamentações para pedir as licenças ambientais e, em seguida, seguir para a publicação de licitações.
Segundo a Secretaria de Planejamento de João Pessoa, os quatro pontos de intervenção já estão definidos: Ponta do Seixas e praias de Cabo Branco, de Manaíra e do Bessa.
A administração municipal ainda não tem uma estimativa de quanto as obras vão custar aos cofres públicos.
No caso de Balneário Camboriú, o plano de execução do atual projeto foi custeado por um grupo de empresários locais e a obra, estimada em R$ 66 milhões, foi possível por meio de um empréstimo do Banco do Brasil.
A costa marítima de João Pessoa é marcada pela presença de enseadas e recifes de corais, além de contar com o ponto mais oriental das Américas, a Ponta do Seixas. O local é o mais próximo da África em todo o continente americano.
“A Ponta do Seixas vem sendo atacada pelo mar, pelo vento, pelas chuvas e isso é corrente, antigo. Já houve um recuo substancial dessa ponta, lá em cima inclusive tem um farol inaugurado nos anos 70 e a distância dele até a ponta da barreira era enorme. Hoje, já está bem próxima”, afirma o secretário municipal de Planejamento, José William.
“Acho que a gente não pode deixar um ponto turístico e geográfico desse, um patrimônio, que venha a tombar e ficarmos observando esse tipo de ação”, acrescenta.
Para atender às particularidades locais, os impactos para moradores urbanos também são avaliados pela prefeitura.
A expectativa da administração municipal é de impactos positivos já durante a execução dos serviços de intervenção na faixa de areia.
“Não tenho receio quanto a julgamento futuro dessa ação. Prevejo impacto positivo imediatamente após ou até durante o curso das ações”, afirma William.
Para o geólogo Fábio Pedrosa, professor da UPE (Universidade de Pernambuco), as intervenções para alargamento das praias têm mais efeitos positivos que negativos. Mas desde que haja planejamento prévio com estudos ambientais.
“De todas as obras costeiras com intenção de conter o avanço do mar, o alargamento da faixa de areia é uma das mais interessantes. Causa impactos ambientais como qualquer obra costeira. Mas dentro das intervenções para conter o avanço do mar e recuperar a faixa de areia essa é a mais interessante”, diz.
“Características ecológicas da área vão definir as consequências. Estudos ambientais terão que olhar, por exemplo, a desova de tartarugas. É importante que a sociedade ambientalista e a sociedade civil organizada acompanhem essa intervenção”, frisa.
Em Balneário Camboriú, por exemplo, as mexidas bruscas no fundo do mar para o deslocamento da faixa de areia podem ter sido a causa do surgimento de tubarões na região.
Enquanto diversas cidades litorâneas evidenciam desleixo com as belezas naturais, João Pessoa é considerada uma referência entre os especialistas no assunto por, ao longo dos anos, impedir que suas características originais fossem danificadas. Um dos mecanismos, por exemplo, foi a limitação do número de andares para construções de prédios.
“João Pessoa é uma referência no cuidado com esse ecossistema. Mas existem mudanças naturais nas praias por si só. E agora a ampliação das orlas vêm ocorrendo em razão da erosão costeira, um fenômeno mundial. Sobretudo nos litorais mais densamente ocupados. Isso leva parte da areia”, afirma Fábio.
O engordamento artificial das praias, termo utilizado pelos ambientalistas, tende a se tornar frequente em âmbito nacional, de acordo com o geólogo. “Se não, vamos ficar sem praia.”
No entanto, Fábio Pedrosa alerta que um dos possíveis impactos deverá ocorrer no local que servirá para a extração da areia a ser transportada para os quatro pontos da orla de João Pessoa que receberão as obras de ampliação no futuro.
“Pode haver mudanças na questão da dragagem e na turbidez da água, por exemplo. Os principais impactos negativos vão ocorrer onde vai extrair a areia. O estudo de impacto vai ter que indicar ao órgão ambiental onde vai ser feita essa retirada”.
“Pode mudar a turbidez, ou seja, a visibilidade de água, mais ou menos turva. Esse fator tem relação com a fotossíntese”, alerta.
A tendência é que os estudos ambien tais elaborados pela UFPB observem, inclusive, o tamanho médio dos grãos das areias antes deles serem transportados para as quatro praias que sofrerão intervenção.
Não há definição da Prefeitura de João Pessoa sobre o local que servirá como banco de fornecimento das areias. Geralmente, as remessas são transportadas de outras praias com maior fornecimento do recurso ou deslocadas do fundo do mar.