Ministro da Saúde desde 23 de março, Marcelo Queiroga prestou um segundo depoimento na CPI da Covid no Senado nesta terça-feira (8). Ele reafirmou que a solução para acabar com a pandemia é a vacinação e reforçou a importância de medidas de isolamento social e uso de máscaras. No entanto, evitou criticar atitudes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao causar aglomerações.
De acordo com a matéria originalmente postada na Folha, diferentemente do depoimento anterior, quando evitou opinar sobre a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, o ministro disse acreditar que o medicamento seja ineficaz, assim como a ivermectina. No entanto, pontuou que há polêmica sobre o assunto entre os médicos e que, por isso, submeteu o tema à Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), O ministro também defendeu a realização da Copa América no Brasil, dizendo que o risco é baixo desde que seguidos os protocolos.
Já foram ouvidos pela CPI a médica Nise Yamaguchi, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, e os ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. O ex-chanceler Ernesto Araújo também prestou depoimento, entre outros.
A Lupa verificou algumas das declarações de Marcelo Queiroga em seu segundo depoimento à CPI da Covid no Senado. A reportagem contatou a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde a respeito das checagens e irá atualizar essa reportagem assim que tiver respostas.
Veja, abaixo, a checagem:
“O Campeonato Brasileiro de Futebol aconteceu com mais de cem partidas, dentro de um ambiente controlado, sem público nos estádios e houve apenas um caso positivo”
FALSO
Ao menos 302 jogadores da série A do Campeonato Brasileiro 2020 foram infectados pela Covid-19, aponta um levantamento realizado por pesquisadores da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro. O número representa 48,3% dos atletas. O estudo não leva em conta membros da comissão técnica, da arbitragem e demais funcionários envolvidos nas partidas.
De acordo com o levantamento, o grupo apresentou um índice de infecção 13 vezes maior que a população em geral. Na avaliação do estudo, os clubes atuam como “centros superdisseminadores”. Dos 20 times na disputa, 7 tiveram ao menos 20 atletas infectados por Covid-19: Fluminense (26), Vasco (26), Palmeiras (24), Santos (22), Flamengo (21), Goiás (21) e Athletico-PR (20).
Em março, a CBF apresentou um relatório com resultados do protocolo sanitário implementado pela entidade em 2020 para realização das competições nacionais. A entidade concluiu que não houve evidências de contaminação cruzada em campo. Atletas e treinadores foram testados, em média, 72 horas antes das partidas. O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, afirmou que o futebol é um ambiente “seguro, controlado, responsável e tem todas as condições de continuar”.
“[Falo] Diretamente com o presidente, despacho sempre com ele (…)”
FALSO
Desde que assumiu o Ministério da Saúde, em 23 de março, ou seja, nos últimos 78 dias, Marcelo Queiroga teve apenas quatro reuniões diretas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de acordo com a agenda da Presidência. Em duas delas (em 18 de maio e 4 de maio), não consta a participação de outras pessoas.
Em 5 de abril, também esteve presente o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. No encontro de 26 de março, também participaram o ministro-chefe substituto da Casa Civil, Sérgio José Pereira; o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos; e o subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência, Pedro Cesar Sousa.
Fazia praticamente um mês que Queiroga não despachava com Bolsonaro quando se reuniu com ele no dia 4 de maio, antevéspera de seu primeiro depoimento à CPI da Covid no Senado, em 6 de maio.
Foram consideradas reuniões marcadas na agenda do presidente nas quais o ministro é citado diretamente na pauta. Não foram levados em conta, por exemplo, reuniões de gabinete, ou participação em eventos.
“(…) Pelo menos uma vez por semana eu estou com o presidente, especificamente para tratar sobre saúde ou em reuniões do ministério, que acontecem com certa frequência”
EXAGERADO
Queiroga não participou de eventos com Bolsonaro em todas as semanas desde que assumiu o ministério. Na semana entre os dias 10 e 14 de maio, não há registro na agenda presidencial de qualquer evento com a participação dos dois. Em outras seis semanas, ele participou de apenas um encontro, alguns deles sem nenhuma relação com a área da saúde. Entre 19 e 23 de abril, por exemplo, o único encontro foi uma videoconferência com o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, em 20 de abril.
Desde o dia 23 de março, quando assumiu o Ministério da Saúde, Queiroga teve 19 encontros de todo tipo com o presidente. Esse número inclui as cinco reuniões do Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19. A primeira aconteceu em 31 de março, uma semana após a nomeação de Queiroga. A quinta reunião foi realizada em 2 de junho, semana passada.
“O Brasil no ranking mundial da Our World in Data é o terceiro país que mais aplicou a primeira dose de vacinas. Estados Unidos, Índia e Brasil”