Um dos fiéis escudeiros do governo Michel Temer, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) falou à imprensa há pouco e se disse “à disposição” para assumir a vaga deixada nesta sexta-feira (8) pelo colega Antônio Imbassahy (PSDB-BA) na Secretaria do Governo, cargo responsável pela articulação política no Congresso. Aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado e preso da Operação Lava Jato, Marun evitou falar como ministro, mas se disse “homem de partido” e ter se sentido “lisonjeado” com as especulações quase confirmações em torno de seu nome para a pasta – o parlamentar disse já ter recebido ligações de parabéns, informa reportagem do Congresso em Foco.
“Mas cabe ao presidente a decisão de indicar quem ele entende mais adequado para a função neste momento. Estou à disposição, como sempre estive. Sou um homem de partido”, discursou Marun, para quem Temer deve analisar o “quadro político” antes de fazer a indicação. Mas, diante de informações de bastidor reportadas pela imprensa, o deputado aquiesceu sobre o curso dos acontecimentos.
“Tenho recebido, realmente [ligações para parabenizá-lo]. Vocês estavam ouvindo atrás da porta, não é? Te peguei, hein?”, gracejou o deputado, diante do fato de que jornalistas, antes da entrevista, esperavam-no do lado de fora do gabinete na Câmara. “Mas realmente é isso. Algumas pessoas estão me ligando”, acrescentou, negando que sua permanência em Brasília em plena sexta-feira tenha relação com a saída de Imbassahy – o relatório de uma comissão parlamentar de inquérito, diz Marun, é a razão do esforço extra.
Ao falar sobre análise de contexto, Marun dá seu depoimento como um dos principais conhecedores do chamado “centrão”, agremiação de bancadas que reúne mais de deputados. Com o iminente desembarque do PSDB da base aliada, partido que ainda tem dois dos quatro tucanos iniciais na Esplanada dos Ministérios, cresce cada vez mais a pressão de parlamentares por mais espaço na administração federal. Entre eles o PMDB, com 60 deputados e principal pilar de sustentação do governo.
“Houve, em um certo momento, uma sugestão do PMDB ao presidente. É isso o que temos até agora. A partir do momento em que houve uma divulgação, alguns deputados, amigos estão ligando”, tergiversou Marun, acrescentando que ainda não falou com Temer nesta sexta-feira (8) e, quando o fez nos últimos dias, foi para falar sobre reforma da Previdência. A pauta tira o sono do Planalto: há menos de duas semanas para o fim do ano legislativo, apenas na Câmara a proposição tem que passar por dois turnos de votação, com o apoiamento mínimo de 308 votos em ambos.
Desembarque a conta-gotas
Com mais um tucano a deixar o governo, restam no comando do PSDB as pastas das Relações Exteriores, com Aloysio Nunes Ferreira, e dos Direitos Humanos, chefiada por Luislinda Valois. Na primeira baixa, quando o deputado Bruno Araújo (PE) deixou o Ministério das Cidades, Temer acomodou o deputado Alexandre Baldy (sem partido-GO), que deve reforçar os quadros do Partido Progressista e, assim, apaziguar os ânimos de uma legenda com 46 deputados. Com o aceno de hoje – aliados já dão como certa a nomeação de Marun na articulação governista –, outra fração determinante da base recebe o posto estratégico para, como contrapartida, aprovar o novo texto da reforma da Previdência.
Na condição de presidente da comissão especial que preparou para o plenário da Câmara, em período de confrontos quase diários no Congresso, a proposta de emenda à Constituição que promove as mudanças na aposentadorias, Marun deve agora reativar a função até hoje desempenhada por Imbassahy. Devido ao ciúme do centrão em relação ao PSDB, o deputado baiano passou a ser alvo de boicote por lideranças partidárias, que não o reconheciam mais como articulador. A missão de Marun, caso seja mesmo nomeado, é preparar o terreno para a votação e negociar a maior quantidade de votos possível a favor da reforma.
Em determinado momento da entrevista, Marun foi provocado por um repórter a falar como faria a articulação com a base, já como ministro, de maneira a aprovar a reforma previdenciária. Na resposta, falou como titular da função. “Nos últimos dias, em relação à reforma, tenho trabalhado [o tema] mais o PMDB e a sociedade. Eu entendo que é muito importante, para que venhamos obter essa grande vitória para o Brasil, que exista uma… não vou dizer uma pressão, mas uma atuação naqueles setores lúcidos da sociedade que sabem que a reforma é necessária, que não é mais momento de empurrar essa questão com a barriga, como se fez durante muitos anos. Noto que o efeito de uma pressão que já existe está bastante positivo”, declarou.
O deputado disse ainda que, antes de assumir, ainda tem que cumprir uma tarefa para a qual foi destacado. “Estou aqui trabalhando, escrevendo o relatório da CPI da JBS, que eu entrego na terça-feira [12]“, avisou.