Nosso desejo não era apenas um novo presidente, mas uma nova postura”, diz o senador Cássio Cunha Lima.
Escolhido para “pacificar” o PSDB, o governador Geraldo Alckmin (SP) terá de cumprir uma série de tarefas para unificar o partido antes do início da corrida eleitoral.
O paulista é também o favorito entre os tucanos para disputar a presidência da República. De acordo com aliados, ele precisa “arrumar a casa” antes de março, quando será aberta a janela de troca partidária, o que pode resultar na perda de quadros, informa reportagem de Talita Fernandes, da Folha.
Depois de o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador Marconi Perillo (GO) abrirem mão da disputa pelo comando da sigla, Alckmin concordou no último domingo (26) em assumir o cargo.
Um dos primeiros desafios de Alckmin será costurar uma saída amistosa do governo de Michel Temer. A divisão interna do PSDB se aprofundou após o peemedebista se tornar alvo da delação da JBS, que também atingiu o tucano Aécio Neves (MG), presidente licenciado do partido.
Para isso, o governador deve se reunir com Temer no sábado (2), uma semana antes de ser empossado presidente nacional do PSDB. Os tucanos ocupam três pastas na Esplanada: Relações Exteriores (Aloysio Nunes), Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy) e Direitos Humanos (Luislinda Valois).
O desembarque é dado como certo, mas caberá a Alckmin sair de forma “educada” para não romper pontes com o PMDB, com quem seu partido poderá se coligar na corrida eleitoral do ano que vem.
Para o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), um dos principais aliados do governador, o movimento que deverá ser feito agora configura uma espécie de “pré-campanha” ao Palácio do Planalto.
Alckmin deverá arbitrar disputas regionais. Há divergências em Estados como Maranhão, Pernambuco e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal. No caso de Minas Gerais, Estado com grande colégio eleitoral, ainda não há um nome tucano para concorrer ao governo, o que deve dificultar a construção de um palanque para o candidato à presidência.
Silvio Torres diz que essas costuras locais evitarão que a legenda perca parlamentares na janela partidária.
“Em março tem uma janela, se a gente não tiver tudo organizado, parlamentares vão procurar partidos que os favorecem. Eles já estão sendo assediados”, explica.
Um outro desafio para o tucano será definir a distribuição dos recursos do fundo partidário e do “fundão” aprovado na reforma política. Diante do cenário que pode trazer divergências para a repartição interna do dinheiro, tucanos ligados a Alckmin apostam que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deve fazer uma resolução com critérios detalhados, evitando desgaste para o presidente da sigla.
Até 9 de dezembro, dia da convenção nacional do PSDB, Alckmin terá ainda de compor a estrutura da executiva, responsável pelo comando do partido. Ele já vem sendo pressionado pela manutenção de determinadas posturas. “O Movimento Mário Covas continua. Nosso desejo não era apenas um novo presidente, mas uma nova postura”, diz o senador Cássio Cunha Lima (PB).
O líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (SP) tem discurso semelhante. “As mudanças serão mantidas.”
Tasso, principal voz crítica do partido ao governo, defende que o comando do PSDB seja formado apenas por “caras limpas”, em crítica a tucanos alvos de investigações.
Aécio disse à Folha que não defende exclusões, mas que deve ficar de fora da executiva. “Já foi meu tempo.”