Em 4 de setembro, o ministro Helder Barbalho (Integração Nacional) embarcou às 6h30 em um jato da Força Aérea Brasileira para Belém. Foi de carro até o porto e tomou uma lancha para Barcarena, na região metropolitana, onde almoçou com o prefeito. De volta à capital paraense, reuniu-se com o diretor de um museu e participou, à noite, de um congresso de policiais civis.
Com a pretensão de serem candidatos, ministros de Michel Temer têm dado prioridade a seus domicílios eleitorais em viagens de caráter oficial pelo país. Inauguram obras, participam de solenidades e se reúnem com lideranças locais onde pretendem disputar votos em 2018, informa reportagem de Gustavo Uribe, Bruno Boghossian e Daniel Carvalho, da Folha.
A Folha levantou as agendas públicas, divulgadas pelas pastas, de 16 ministros que devem disputar a eleição. E constatou que, de janeiro a outubro, ao menos seis visitaram suas bases mais vezes do que os demais Estados. Boa parte destinou até um terço da agenda oficial para visitas a seus domicílios eleitorais. O cálculo não incluiu Brasília, onde ficam os gabinetes.
Provável candidato a governador do Pará, Barbalho passou 61 dias, de janeiro a outubro, em compromissos oficiais no Estado –quase o dobro do tempo em que esteve em outras unidades da Federação. Ao todo, foram 110 eventos, inaugurações e reuniões –de vistoria de praias a entrega de caminhões de lixo.
No Rio, Leonardo Picciani (Esporte), que tentará renovar seu mandato como deputado federal, teve eventos públicos e encontros em 83 dias do ano. Ele se reuniu com vereadores e prefeitos fluminenses, como os de Búzios e Cantagalo, inaugurou quadras poliesportivas em Valença e foi a um campeonato de tênis e ao torneio de vôlei Gigantes da Praia.
Como a pasta tem um escritório de representação no Rio desde 2012, ele despacha durante a semana tanto em Brasília como em seu Estado.
Ricardo Barros (Saúde), deputado licenciado pelo Paraná, compareceu em setembro à Festa Nacional do Porco no Rolete, na cidade de Toledo. Aproveitou o evento, que não tem ligação direta com sua pasta, para anunciar repasse de recursos na área da saúde.
Barros, que deve ser candidato e dedicou mais de um terço das viagens ao Paraná, ainda esteve na posse de autoridades locais e se encontrou com prefeitos de Cornélio Procópio, Paranavaí, Cianorte, Campo Mourão e Cascavel.
Em novembro, Temer cogitou substituir os ministros que disputarão eleições, mas desistiu após ser pressionado pelas siglas. Os chefes das pastas querem ficar até março.
MOTOCICLETAS
Provável candidato à reeleição a deputado pelo RS, Ronaldo Nogueira (Trabalho) cumpriu agenda no Estado em 33 dias, contra 21 dias nas demais unidades da Federação. O ministro participou de cerimônias de entrega de ambulâncias e motocicletas e compareceu à reinauguração de obras de uma emissora de TV.
Em setembro, em um único dia, visitou as cidades de Trindade e Novo Barreiro para inaugurar uma unidade de saúde, visitar um frigorífico, encontrar vereadores e pastores e participar de evento a cargo de igrejas evangélicas.
Marcos Pereira (Indústria e Comércio) esteve 30 dias em São Paulo, contra 13 em outros Estados. Além de empresários e industriais, reuniu-se com prefeitos e compareceu a jantares em homenagem à estilista Daphne Mosseri e aos reis Carlos e Sílvia, da Suécia.
Os demais ministros que mais marcaram presença em seus redutos foram Gilberto Kassab (Comunicações) e Mendonça Filho (Educação), que priorizaram SP e PE, respectivamente, e devem disputar mandatos em 2018.
No mesmo período, houve a inauguração por Sarney Filho (Meio Ambiente) de embarcações no MA e, no RS, Osmar Terra (Desenvolvimento Social) esteve em espetáculo no sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo.
OUTRO LADO
O Ministério da Integração Nacional diz que atua em todo o país e que o Norte é um dos maiores polos de desenvolvimento do país. Segundo a pasta, não há definição sobre candidatura do ministro.
O Ministério do Esporte diz que as agendas de Leonardo Picciani no Rio “priorizam assuntos relacionados ao legado dos Jogos Rio 2016” e que ele não decidiu se será candidato.
Já o Ministério da Saúde diz que o Ricardo Barros “cumpre rigorosamente a legislação vigente para compromissos oficiais”, e a preferência de deslocamento para as suas agenda é por voo de carreira.
Segundo o Ministério do Trabalho, Ronaldo Nogueira procura atender a todos os convites, sem privilegiar unidades federativas. A pasta explicou que, por ordem da Presidência, o ministro atendeu principalmente neste ano agendas para esclarecer as mudanças na legislação trabalhista.
A pasta da Indústria e Comércio diz que, por ter a maior concentração industrial da América Latina, São Paulo é notoriamente o principal destino dos ministros da área.
Da mesma forma, a pasta da Ciência e Comunicações lembra que São Paulo concentra boa parte das entidades vinculadas à pasta. A Educação afirma que Mendonça Filho tem direito a retornar nos finais de semana ao seu Estado e que, para economizar, a pasta optou por priorizar agendas oficiais em Pernambuco às segundas e sextas.