Uma postagem de um vídeo, com mais de 20 mil compartilhamentos no Facebook, distorce uma investigação do Ministério Público (MP) da Paraíba no município de Conde. A gravação é legítima, feita a partir de imagens de grande quantidade de medicamentos armazenados em uma sala locada pela Prefeitura de Conde. No entanto, a legenda que acompanha o vídeo é falsa — não é verdade que os remédios mostrados nas imagens tenham sido escondidos para que o município recebesse mais recursos do governo federal.
A alegação do MP da Paraíba é que os remédios estavam vencidos e, por isso, foram apreendidos. Segundo o órgão, o inquérito civil público foi aberto no último dia 8, a partir de denúncias por WhatsApp sobre a disponibilização de remédios fora do prazo de validade. De acordo com um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que prestou apoio à operação, os medicamentos também foram armazenados de forma inadequada, sem garantir a ventilação necessária, o que pode comprometer a qualidade dos produtos, destaca publicação do Estadão.
Prefeitura não tem incentivo financeiro para aumentar número de mortes
Os repasses de recursos do governo federal para municípios e Estados para o enfrentamento à pandemia não são definidos de acordo com o registro de mortos, informação falsa também contida no texto da postagem. Em checagem publicada no último dia 25, o Comprova mostrou que os valores destinados pelo Ministério da Saúde a ações de combate à pandemia do novo coronavírus não se baseia no número de casos ou óbitos.
Azitromicina é utilizada em tratamento de infecções
A legenda também erra ao sugerir que a azitromicina é usada somente para tratamento de covid-19. O antibiótico é usado para combater diversas infecções bacterianas, como otite e diarreia do viajante. Um documento do Ministério da Saúde orienta a prescrição da substância combinada com a hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus — apesar disso, não há eficácia comprovada da combinação desses medicamentos no tratamento da covid-19.
Entre os medicamentos encontrados na sala em Conde, na Paraíba, estavam 9,7 mil frascos de dipirona 500 mg/5 ml em gotas, 5,9 mil frascos de ibuprofeno 50 mg/30 ml, 800 ampolas de glicose 50% injetável, além dos 1.314 comprimidos de azitromicina di-hidratada de 500 mg visíveis no vídeo.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.