Quando as cortinas do Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa, se abrem, o que se revela por trás é um espetáculo de sonhos e emoções! Alegria, ansiedade, esperança, paz. Uma nuvem de palavras para designar as emoções. Portas abertas para o futuro e oportunidade, uma dupla para representar sonhos. É assim que podemos descrever a atmosfera que envolve o grupo de meninas moradoras do Residencial Vista do Verde, localizado no Bairro das Indústrias, quando elas sobem no tablado e entram em cena.
E, neste dia 19 de setembro, quando se comemora o Dia Nacional do Teatro, são histórias de personagens reais como as delas que nos comprovam a importância da valorização da cultura, da arte, da educação. Porque, mais que um simples espaço onde se representam estórias, o teatro pode e deve ser um palco para inclusão.
“Quando a cortina do teatro se abre e eu vejo a plateia, eu sinto orgulho de mim mesma”, conta Maria Luiza Oliveira, de 12 anos. A menina sonha com um futuro como atriz e o Teatro Ednaldo do Egypto é a porta que se abre para o início da realização desse ideal.
Ana Sofia Oliveira tem oito anos e é irmã de Maria Luiza e nutre o mesmo sonho de ser atriz. Juntas, no projeto de aulas de teatro, elas aproveitam para ensaiar em casa e também sonhar juntas. “Meu coração bate muito forte quando estou aqui. Quem eu mais quero ver na plateia me aplaudindo é minha mãe”, diz emocionada.
“Eu acho que isso nos torna especiais. É uma oportunidade única que muitas pessoas não têm e a gente está tendo aqui no Teatro Ednaldo do Egypto. Eu fico muito feliz aqui e quando chega o dia de apresentação, fico ansiosa e nervosa, mas quando começa, tudo passa”, narrou Ana Evelyn de Sousa, de 14 anos. E, claro, assim como as amigas, quer seguir a carreira de atriz.
Parcerias que realizam sonhos – As três meninas sonhadoras e felizes fazem parte de um grupo de 15 crianças e adolescentes participantes de um projeto desenvolvido pelas Secretarias de Educação e Cultura (Sedec) e de Habitação (Semhab). Para fazer as aulas, uma van da Prefeitura pega o grupo em casa e leva até o teatro, que fica no bairro de Manaíra. E entre uma cena e outra, também é servido um lanche. Ao fim das aulas, as meninas retornam para casa felizes e em segurança.
E não é apenas esse projeto que acontece no Teatro Ednaldo do Egypto, mantido atualmente pela administração municipal. Por lá, tem muitos outros sendo colocados em prática, principalmente para a inclusão. Tem a semana da visibilidade trans, no mês de janeiro; o projeto ‘Cena Preta’, em novembro, voltado para valorização de artistas pretos; o prêmio Ednaldo do Egypto, que acontece em dezembro para homenagear os grupos que se apresentaram durante todo o ano.
O pequeno príncipe – Para este fim de semana, tem em cena a peça ‘O pequeno príncipe’, com apresentação no sábado e domingo, às 17h. O Teatro Ednaldo do Egypto fica na Avenida Maria Rosa, nº 284, em Manaíra, e tem preços acessíveis para todos os públicos.
Ednaldo do Egypto – Ator, autor e teatrólogo, Ednaldo do Egypto era na verdade formado em Contabilidade e Economia, mas sempre acalentou o sonho de ter um espaço para apresentações teatrais e de outras manifestações artísticas, como música e literatura. O artista, enquanto viveu, dedicou sua vida ao teatro paraibano. Ele conseguiu a façanha de construir o seu próprio teatro, um sonho quase inatingível para a maioria dos atores.
Com a ajuda de alguns amigos, ele construiu o Teatro Ednaldo do Egypto, no bairro de Manaíra. O local foi inaugurado em 27 de março de 1995, em homenagem ao Dia Internacional do Teatro e do Circo. Foram anos de batalhas e contratempos, mas a paixão pelo teatro e a determinação do ator fizeram com que as barreiras fossem transpostas.
Ednaldo do Egypto atuou em mais de 60 peças e também na televisão. Ele faleceu em 18 de abril de 2002, deixando um grande legado para o teatro.
Em 2023, foi sancionada a Lei nº 14.943 que reconhece o Teatro Ednaldo do Egypto como Patrimônio Cultural de João Pessoa.
Dia Nacional do Teatro – A data foi instituída pela Lei nº 13.442/2017, que ainda busca tornar as atividades teatrais cada dia mais acessíveis para o público em geral, para que pessoas com deficiência (PcDs) possam acompanhar as apresentações. Também entrou para o calendário oficial brasileiro como forma de valorizar essa arte milenar que, apesar da concorrência da internet, do cinema, da TV e do streaming, continua sendo uma das melhores formas de interação entre atores, atrizes e o público, seja infantil ou adulto.
Teatro é uma das mais puras expressões de arte. No dicionário da língua portuguesa, a arte é a “produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana”. Para os personagens que conversaram com nossa reportagem, no entanto, a arte transcende o ser material e ocupa o plano astral das imaginações férteis que vislumbram o próprio céu.
Todas essas histórias mostram que, mesmo quando as cortinas de um teatro se fecham, o espetáculo continua. É como diria Simone de Bevoir: “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”.