Por Josival Pereira
A decisão do deputado Romero Rodrigues de desistir da candidatura a prefeito de Campina Grande, ensaiada por mais de um ano, tem gerado muita discussão e polêmica, mas nenhuma explicação mais convincente.
Os aliados ligados ao prefeito Bruno Cunha Lima e ao grupo Cunha Lima de forma mais abrangente enaltecem a decisão e a atribuem a uma atitude de desprendimento e maturidade de Romero em favor da unidade do esquema político no qual milita desde o início da carreira; parte da oposição o trata como covarde, medroso e o acusam de enganar aos interlocutores com os quais conversou nos últimos meses; outros líderes resolveram silenciar.
O que de fato aconteceu para Romero desistir da candidatura na última hora mesmo aparecendo como líder em todas as pesquisas de voto.
Certamente não foram os problemas de saúde da família que fundamentaram a decisão como o próprio deputado Romero Rodrigues alegou em entrevistas e discursos nas convenções da última segunda-feira. Podem até ter exercido alguma influência, mas, efetivamente, não foram a razão principal.
De igual forma, Romero não desistiu de ser candidato movido apenas por um elevado espírito de altruísmo político. Não é assim que a banda toca na política. São raríssimos os casos de políticos que abrem mão de poder ou de perspectiva de poder, ainda mais quando essa perceptiva é quase plena de concretude. Romero pode ser humilde, mas o poder é sempre o motor que move todo político.
Registre-se ainda que, pelo que se sabe, até agora não foram removidas nenhuma das causas que levaram o ex-prefeito campinense a se afastar do atual prefeito por quase dois anos e não esconder decepção, insatisfação e críticas à gestão e ao gestor. O prefeito Bruno parece continuar impávido em seu jeito de governar.
De outra banda, não se pode atribuir responsabilidade à oposição ou forças políticas estaduais que se colocam no plano das oposições em Campina Grande. O Republicanos, com os deputados Hugo Motta e Adriano Galdino, e o governador João Azevedo (PSB) se esmeraram no oferecimento de garantias ao deputado Romero Rodrigues para que ele pudesse romper com seu esquema político original e se lançar candidato a prefeito. Não faltaram gestos de confiança. A verdade é que Romero simplesmente recuou.
O que aconteceu em Campina Grande é que Romero não suportou a pressão do seu grupo político de origem, liderado pela família Cunha Lima. Pressão ampla, pesada, sufocante, provocadora de sentimento de culpa.
O quadro político é auto-explicativo. Basta imaginar que Campina Grande é atualmente o único reduto de poder seguro do grupo Cunha Lima, que se mantém na crista da política há mais de 40
anos na cidade. O PSDB encolheu, definha em todo Estado, e não existe perspectiva concreta de recuperação nas próximas urnas. Não se pode negar a força da liderança pessoal de expressões políticas como as de Cássio e Pedro Cunha Lima, mas a única estrutura de poder que à família detém é, verdadeiramente, a Prefeitura de Campina Grande. Sem essa plataforma, o grupo veria reduzida drasticamente sua capacidade de disputar o poder estadual.
O que o possível rompimento de Romero causaria, especialmente com a candidatura a prefeito em união com as forças de oposição, seria implodir o último bastião de poder do grupo Cunha Lima.
Foi a essa pressão que Romero sucumbiu. Pode até ter tirado alguma proveito, mas, ao desistir, ele o fez pela ausência de coragem para abandonar e destruir seu próprio ninho político e se tonar independente do seu velho esquema. Não se dispôs carregar nas costas a responsabilidade pelo esfacelamento, ainda que temporário, de uma das mais antigas oligarquias familiares instaladas no círculo do poder político na Paraíba.
A saída almejada por Romero era uma solução interna. Ser ele o candidato no lugar do prefeito Bruno Cunha Lima, que poderia ser candidato a deputado federal em 2026. Bruno resistiu, Romero desistiu.
Não existe explicação mais factível.