Uma enfermeira de Campina Grande está atuando na Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FNS) no Rio Grande do Sul (RS). Ann Gracielle faz parte da Diretoria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde da Secretaria de Saúde de Campina Grande e foi convocada para trabalhar na Missão Enchentes RS da FNS. A profissional está no Hospital de Campanha de Novo Hamburgo, Canoas e Pelotas (HCamp).
“Além do atendimento geral à população de Canoas-RS, estamos em equipes volantes que circulam pelas áreas de maior vulnerabilidade, por ambulância terrestre ou embarcações, médico, enfermeiro e técnico de enfermagem realizando atendimento, ainda alguns resgates e quando necessário removendo para hospitais ou abrigos”, relatou.
Mais de 7.500 pessoas se inscreveram na Força Nacional do SUS para atuarem na Missão Enchentes no RS. “Meu trabalho é prestar assistência de Enfermagem no acolhimento e escuta qualificada, classificação de risco, atendimento na sala de estabilização e administração de medicamentos, curativos, orientações em saúde, visita domiciliar em equipes volantes na busca ativa de populares desassistidos em suas necessidades humanas básicas onde a demanda da atenção primária e secundária está reduzida”, explicou.
O trabalho consiste em sua maioria em atendimento classificado como verde ou azul de acordo com a classificação de risco, mas também há atendimento de urgência e emergência como Infarto Agudo do Miocárdio, desidratação grave em criança, quadro de infecção decorrente da exposição ao ambiente insalubre dos abrigos e suas repercussões por falta de condições ideais de higiene, conforto e aglomeração de pessoas, exposição a áreas contaminadas, alguns casos de leptospirose, dermatites, doenças diarreicas agudas, infecções do trato respiratório, crises hipertensivas, diabetes descompensadas, crises de ansiedade e emergências odontológicas.
Emocional – Essa é a quinta Missão Enchentes no RS. A equipe da qual Ann Gracielle faz parte chegou ao Rio Grande do Sul em 17 de junho e retorna no dia 1 de julho. Além dela, dois profissionais paraibanos de João Pessoa também integram a missão. “Estamos bem acolhidos pela logística da FNS-MS, com serviço de psicologia, horários de atendimento em plantão e descanso, alojamento, condições de baixas temperaturas, horários incertos de alimentação, adaptação às variações climáticas, saudade da família, da rotina, do São João, mas nada disso é dificuldade nem motivo de desânimo para mim pois aqui estou vivenciando de perto o que é uma calamidade pública de uma catástrofe sem precedentes, e nada do que estou privada se aproxima das dificuldades e desafios dessas pessoas”, relatou.
A enfermeira relatou ainda que as temperaturas estão muito baixas e que as equipes ficam de prontidão para necessidade de evacuação, além de trabalharem também em outras atividades. “O que agrava toda complexa situação é a dor emocional que potencializa as relações da população com o sentimento de perda, sejam elas materiais, emocionais, perda de identidade em sua literalidade. O prejuízo técnico ocasionado fez com que pessoas deixassem de fazer uso de seu medicamento contínuo para hipertensão, diabetes (perderam tudo, até as receitas, documentos, memórias, pertences, vestimentas). Com as doações que vieram de todas as partes, inclusive medicamentos, essa situação tem sido contornada. Após o atendimento os pacientes saem com a medicação do tratamento em mãos […] Até o acolhimento que a equipe de saúde faz, alivia a ansiedade, traz esperança e renova as energias com o sentimento de recomeço, resiliência e força”, comentou.
Experiência – Ann é enfermeira, possui diversas especializações, foi professora dos cursos de enfermagem da UFCG e da UEPB, atuou no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Campina Grande (SAMU 192) desde o início, onde foi instrutora do Programa de Educação do Trabalho (PET), trabalhou no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) e no Hospital de Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes. “Agradeço a Deus pela oportunidade de usar toda minha experiência em prol de uma ajuda humanitária como missão. A sensação de ajudar tem um duplo sentido, pois na verdade, as pessoas que ajudo estão me ajudando a me tornar um ser humano melhor”, finalizou.
Balanço da missão – Desde o dia 5 de maio, mais de 14 mil atendimentos já foram realizados pela FNS no estado gaúcho. De acordo com o mais recente balanço do Comitê de Operações Emergenciais (COE) do Rio Grande do Sul, a Força Nacional do SUS realizou 3,5 mil atendimentos volantes, 597 atendimentos indígenas, 371 atendimentos psicossociais e 66 remoções aéreas.
O Ministério da Saúde mantém quatro hospitais de campanha no estado e enviou 138 tipos 138 tipos de medicamentos de alto custo e estratégicos e 86,3 mil ampolas para intubação orotraqueal, além de 600 doses de imunoglobulina e 1.140 frascos de diversos soros, como antielapídico, antibotrópico, anticrotálico, antiveneno lonomia, antirrábico humano e antitetânico. Os kits são suficientes para atender até 150 mil pessoas pelo período de 30 dias, segundo o Ministério da Saúde. Nos abrigos, 21,2 mil pessoas foram vacinadas contra Influenza, e foram entregues cinco mil doses de Hepatite A pediátrica e 1,5 mil doses de Hepatite A.
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