* Por Josival Pereira
O teatro do Sesc, localizado no Centro Histórico de João Pessoa, ficou lotado nesta última quinta-feira para um evento inédito. Parecia se tratar de um grande espetáculo. E talvez tenha sido mesmo.
Os protagonistas do evento até não eram desconhecidos. Mas não eram artistas famosos. À rigor, não eram pessoas. Eram poderes instituídos: governo do Estado, prefeitura de João Pessoa e Câmara Municipal, bem como representações de instituições importantes, como a Arquidiocese, Fecomercio, Câmara de Dirigentes Lojistas, Sinduscon (Sindicato da Construção Civil, Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis), além de diversos destacados órgãos públicos.
O enredo do que se apresentou no palco não era assim tão inédito, a temática envolvida era antiga, mas dramática e complexa, e, pelo visto agora, ganhou capacidade de atração.
O que, então, atraiu tanta gente? O que havia de interessante?
O centro de interesse é o novo instante de articulação do movimento em defesa da restauração e da ocupação do Centro Histórico de João Pessoa.
Não é trocadilho, o momento é histórico. Existe um novo ânimo, talvez em decorrência de uma série de novas e consequentes ações de todos os atores públicos e privados já mencionados, mas, essencialmente, ao que parece, resultado da imperiosa consciência que já não dá mais para ficar no discurso.
Já se fez muito na tentativa de salvar o Centro Histórico. Todavia, quase sempre de forma isolada e esticada no tempo. Nada como o que ocorre agora: ações coordenadas de praticamente todos os órgãos públicos, neste instante puxadas pela Câmara de Vereadores, com a participação da iniciativa privada.
A maior novidade é o programa Viva o Centro, no qual o governo do Estado e a Prefeitura estão disponibilizando amplas isenções fiscais para compra, venda de imóveis (ITCD, ICMS, IPTU, ISS, etc.) e a facilitação para restaurações e reformas de prédios e casas, além de linhas de crédito de fácil acesso. Existem também diversas intervenções nas áreas de segurança e outros importantes serviços públicos.
Vale mencionar que o governo do Estado vai transformar o Palácio da Redenção em museu para atrair visitantes e vai instalar o Palácio dos Despachos no prédio onde era o Comando da Polícia Militar, no Centro Histórico. O governo também instala o Parque Tecnológico Horizontes da Inovação no antigo colégio das Neves. No quesito segurança, oito delegacias e uma unidade do Corpo de Bombeiros estão sendo implantadas na área.
A Prefeitura toca outras intervenções significativas. A Guarda Municipal ganhará sede em antigos prédios da Prefeitura, a antiga Proserv vai virar um prédio residencial e existem reformas em outros velhos prédios da localidade.
A iniciativa privada está mobilizada, cobrando mais, discutindo soluções, investindo, e existe a perspectiva concreta da chegada de alguns grandes negócios lá para mais próximo do Sanhauá.
O evento do teatro do Sesc marcava a abertura da Feira de Negócios Viva o Centro, com o oferecimento dos serviços de informações sobre incentivos e e financiamentos do Estado e do Município. Assessores da Câmara, a organizadora da feira, se mostravam surpresos, nesta sexta-feira, com a intensidade da procura por informações sobre vender e comprar imóveis, atualizar a documentação de propriedade e impostos, além de dicas de cursos e negócios para o Centro Histórico.
Pode até ainda parecer imperceptível para a grande cidade,
mas existe um movimento mais concreto de mudança do antigo centro de João Pessoa.
Não é possível mais se desprezar e
deixar para trás uma região esplendorosa em história e cultura.
O turismo em praticamente todos os países da União Europeia é fomentado pela história das vilas medievais, castelos e igrejas antigas. Aqui também poderia e poderá ser assim.
Afora a riqueza histórica e cultural, o Centro Histórico de João Pessoa também é dotado da infraestrutura necessária para qualquer cidade (água, luz, saneamento, escolas, comércio, postos de saúde e hospitais próximos, etc.) o que não pode ser desprezado de maneira alguma. Vai ter a polêmica sobre a falta de estacionamento, que é para atender a volúpia da indústria automobilística, a ansiedade do consumo e a pressa meio idiota de grande parte dos seres humanos. Com certeza, porém, a racionalidade vai vencer esse aparente obstáculo. Imagina quão bacana seria o Centro Histórico de João Pessoa restaurado em sua plenitude, revitalizado em todos os seus quadrantes, mas, efetivamente, como antigamente, sem a profusão dos motores e máquinas de hoje.