O grupo de chineses que prometeu construir uma nova cidade na Paraíba através de um investimento de R$ 9 trilhões teria desistido do projeto após diversas contradições e se transformado em alvo de investigação. A informação foi revelada pela Folha.
De acordo com a matéria, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) teria decidido investigar o caso através da promotora de Justiça de Mamanguape, Ellen Veras, que resolveu instaurar “procedimento extrajudicial”.
O projeto
Os empresários assinaram, na segunda-feira (11/12), um ‘Protocolo de Intenções’ para a realização de um mega projeto que consiste na construção da chamada ‘Cidade do Futuro’ e de um porto de águas profundas no Município de Mataraca, localizado no Litoral Norte paraibano.
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De acordo com o grupo, o projeto contaria com um investimento de R$ 9 trilhões para erguer uma cidade inteiramente moderna e vertical com capacidade para abrigar 250.000 (duzentos e cinquenta mil) moradores com possibilidade da criação de 600.000 (seiscentos mil) postos de trabalho diretos ou indiretos durante as obras que podem durar até 10 (dez) anos, em se tratando da cidade, e até 36 (trinta e seis) meses em referência ao porto de águas profundas.
As polêmicas
O projeto, a partir da assinatura oficial do ‘Protocolo de Intenções’ passou a ser alvo de uma série de desconfianças graves, ao ponto de fazer com que conselheiros do Governo da Paraíba orientassem ao governador João Azevêdo (PSB) a cancelar uma reunião que teria sido agendada para o dia seguinte a assinatura do documento.
A decisão teria surgido após uma série de supostas falhas terem sido registradas no momento da cerimônia oficial de apresentação do projeto e assinatura do documento, como por exemplo, suspeitas de plágio e apropriação intelectual de materiais audiovisuais exibidos.
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Suspeitas do Consulado chinês
O vice-cônsul da China em Recife, He Yongwei, durante entrevista ao blog Conversa Política, na terça-feira (12/12), afirmou que o mega projeto anunciado pelo grupo chinês Brasil CRT, seria “um ‘investimento’ duvidoso e temos motivo de acreditar que é uma fraude”.
O representante da China no Nordeste explicou que, conforme o sistema dos corpos diplomáticos da China no Brasil, não se encontra nenhum registro empresarial da “BRASIL CRT”, alegada empresa chinesa. “Destacamos que esta ação não representa atividade comercial oficial da China”, reiterou He Yongwei.
Os empresários
Um levantamento feito pelo @portaldacapital sobre os nomes que dizem representar o grupo chinês que investiria no projeto um valor correspondente a um PIB do Brasil no Município de Mataraca, revelou algumas inconsistências que não seriam comuns ou aceitáveis se tivessem origem em uma empresa com um capital social de R$ 800.000.000.000,00 (oitocentos bilhões de reais).
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Dentre as inconsistências encontradas estavam, por exemplo, contatos incorretos e e-mail que também aparece como pertencente a uma empresa de Pet Shop, a pelo menos duas lanchonetes e a uma empresa de montagem e desmontagem de andaimes. Todas as empresas supostamente sediadas em Belo Horizonte.
Como tudo começou
A matéria da Folha relata como supostamente tudo teria começado e como teria sido o primeiro contato dos supostos empresários com a Prefeitura de Mataraca.
“Mas como esse grupo de chineses foi parar na pequena Mataraca com a proposta de uma “cidade do futuro”?
Bianca Bezerra, secretária de Cultura da cidade, conta que a região “perdeu de forma bruta e extrema a arrecadação” desde que uma mineradora encerrou as operações no local há três anos. A partir daí, governantes da região tentaram retomar um projeto antigo de construção de um porto.
“Nos últimos dois anos, a prefeitura vem pedindo junto ao governo do estado a oportunidade de abrir as portas para investidores colocarem o porto aqui, para aumentar o emprego e a renda. E então surgiu esse projeto”, conta.
Quem apresentou os chineses aos políticos da região foi José Orlando, presidente da consultoria BNBR Brasil.
Em maio de 2021, conta Orlando à Folha, os chineses o procuraram em busca de terras na região para desenvolver um projeto de cidade. Primeiro, conheceu pessoalmente Gianninni Freitas, diretor de relações públicas, e o apresentou aos secretários estaduais Deusdete Queiroga Filho (Infraestrutura e dos Recursos Hídricos) e Gilmar Martins Santiago (Planejamento, Orçamento e Gestão).
Segundo ele, os chineses estavam interessados em 11 mil hectares na região. Eles não chegaram a fechar a compra de nenhuma terra, conta, mas negociaram em regime de permuta as áreas em troca de unidades habitacionais na suposta nova cidade.
Orlando afirma que foi surpreendido pelo valor anunciado de R$ 9 trilhões, porque durante as negociações a empresa falava em R$ 150 bilhões. Além disso, a nova cidade seria para 250 mil habitantes, não para 3 milhões.
Apesar da mudança expressiva, ele não endossa as suspeitas de fraude.
“Uma empresa não vai passar 36 meses buscando oportunidades de negócios, investindo milhares de reais com foco num determinado negócio para jogar tudo pela janela”, diz.
“A CRT Brasil não é administrada por aventureiros, e sim por empresários com expertise e que sabem aonde querem chegar”, afirmou.
A ideia do porto de águas profundas em Mataraca não é nova. Giovanni Giuseppe Marinho, superintendente do Patrimônio da União que esteve na cerimônia no dia 11, conta que há projeto para a criação do porto desde 2009.
A ideia chegou a ser apresentada no Senado em 2010 pelo então senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB). “O porto é um projeto sério, é um projeto público”, diz Marinho. Segundo ele, na ocasião falava-se em investimento de R$ 4 bilhões.
“Há cerca de 20 dias o prefeito [de Mataraca, Egberto Madruga (PSB)] me convidou para esse evento. Até então, eu pensava se tratar do porto. Mas cheguei lá o projeto do porto ficou minúsculo perto do que se apresentou.”
E o porto deve ficar ainda menor perto da cidade. Quando a Folha questionou a empresa como atrairia 3 milhões de pessoas para a região, o diretor-executivo Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”.
Com desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, diz, com direito a “pesquisa em fusão nuclear” e “desenvolvimento da indústria aeroespacial”, o “objetivo é que a nova cidade possa acomodar 35 milhões de pessoas” e “crie direta e indiretamente 20 milhões de empregos”.
Questionado de onde a empresa tiraria R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”, antes de emendar com um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”
E quantos funcionários trabalham na Brasil CRT hoje? “Venha ver quantos trabalhadores estarão em nosso canteiro de obras no próximo ano. Certamente isso irá satisfazê-lo”, foi a resposta dos empresários chineses.
Que experiência em construção a empresa tem? “Os consórcios estão envolvidos em milhares de grandes projetos de construção internacionais. Quando você olha para baixo de um voo internacional, muitos dos grandes edifícios podem ter a presença do consórcio.”
Mas, com todo o rebuliço, o grandioso projeto dos Chen para a Paraíba ficou ameaçado.
Diante das suspeitas, os supostos investidores internacionais notificaram a Brasil CRT, diz Chen, para cancelar o empreendimento. “Iremos realizar outro projeto de investimento maior em outro estado do Brasil”, disse ele à reportagem“.