A nova política de preços da Petrobras estaria provocando restrições na venda do diesel S10 na Paraíba e nos Estados do Pará, Rondônia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
De acordo com a matéria publicada pelo Estadão, essa nova política de preços começa a dificultar o abastecimento de diesel no mercado doméstico. Segundo cálculos do setor, a defasagem do preço dos combustíveis chega, atualmente, a 26%, tornando a importação do produto inviável para distribuidoras independentes.
Isso já se reflete no abastecimento do combustível, apurou o Estadão/Broadcast com fontes de distribuidoras, que ainda não sentem a falta do produto, mas começam a colocar restrições na venda em alguns pontos do País.
Até o momento, a situação não se compara com o que ocorreu na mesma época no ano passado, mas caminhoneiros já relatam faltas pontuais. “Eles falam que não está tendo bombeamento do S10 aqui (Catalão-GO), está difícil achar. Querem aumentar R$ 0,40 no litro, mas isso a gente sabe que estão fazendo pressão (para aumentar)”, disse ao Estadão/Broadcast o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landin, conhecido como Chorão.
A Vibra, que adquiriu a BR Distribuidora em 2021, e utiliza a marca Petrobras nos postos de abastecimento, enviou aos seus clientes no fim de julho um informe sobre a adequação das suas vendas à restrição do óleo diesel S10, o menos poluente.
O documento ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso diz que “em virtude das oscilações de disponibilidade do produto óleo diesel S10, por decisão de nossas diretorias comerciais, informamos as seguintes medidas a serem adotadas no mês de agosto”. O aviso afirma que haverá adequação das cotas dos clientes e restrição a novos pedidos para os clientes varejistas de bandeira branca (BB) e transportadores revendedores retalhistas (TRR).
Os TRR são empresas autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a comprar em grande quantidade combustível a granel, armazená-lo e transportá-lo para depois vender a retalhos. Oficialmente, a Vibra informou que “está atendendo normalmente a demanda regular pelo produto para seus clientes contratados”.
Segundo a consultoria Posto Seguro, as restrições de S10 já chegaram aos Estados do Pará, Rondônia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já o S500 estaria mais escasso em Rondônia, Bahia, Mato Grosso e Paraná.
Sem cota
Ramon Reis, presidente da Nimofast, uma das importadoras de diesel mais atuantes do mercado brasileiro em 2023, informou ao Estadão/Broadcast que, desde maio, reduziu as cargas mensais (navios) do produto de sete para quatro em função do deslocamento da demanda nacional, que passou a optar pelo produto da Petrobras, desde então mais barato que as cargas inéditas vindas da Rússia com desconto ou das fontes tradicionais do Golfo do México (EUA).
A Nimofast importa diesel russo para todo o País por meio dos portos de Itaqui, Suape, Santos e Paranaguá. Agora, ante o cenário de escassez, a perspectiva da empresa é de retomada de mais cargas vindas da Rússia, que terão demanda mesmo com preços acima dos praticados pela Petrobras.
“Vamos aumentar essa importação em outubro e manter o patamar por dois meses, com nova queda prevista para dezembro e janeiro. Em fevereiro, voltamos (a importar) pesado em função da safra”, disse Reis. A Nimofast mantém uma distribuidora própria que trabalhava majoritariamente com produto importado.
Com a redução das cargas próprias, a empresa recorreu à Petrobras, mas não conseguiu volume de imediato porque não tem cotas passadas para basear os pedidos de momento. Segundo Reis, a tendência é que se repitam as incertezas e as dificuldades para obtenção de diesel vistas em 2022, quando a Petrobras represou preços alinhada à estratégia do governo para segurar a inflação a poucos meses da eleição presidencial.
Preços em alta
Segundo uma fonte de outra distribuidora, a escalada dos preços do diesel no mundo nos últimos 30 dias tornou o produto importado menos atraente que o nacional produzido pela Petrobras, que está com preços represados graças à nova estratégia comercial. Esses clientes, entre os quais estão pequenos e médios importadores e distribuidores, passaram então a procurar a Petrobras e as três grandes distribuidoras, Vibra, Raízen e Ipiranga, cujas capacidades de fornecimento já estariam tomada por contratos estabelecidos.
“A conjuntura está trazendo alguns clientes que não são habituais. Nesses casos, especificamente, como não havia previsão no plano de suprimento das distribuidoras, é possível que não se consiga atender. Não há falta de produto, mas demandas repentinas e imprevistas de clientes que antes importavam ou que distribuíam produto importado podem ter dificuldades nesse mercado spot”, resume um executivo do setor.
Defasagem
Em relação ao mercado internacional, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), os preços praticados no Brasil estão 23% mais baratos do que no mercado internacional no caso do óleo diesel e de 18% no caso da gasolina. Se observadas apenas as refinarias da Petrobras, essa defasagem sobre para 28% e 24%, respectivamente, o que poderia levar a um aumento de R$ 1,14 por litro no diesel e de R$ 0,77 na gasolina.
Segundo Sergio Araújo, presidente da Abicom, “se a Petrobras não limitar a sua nova política de preços aos volumes de gasolina e diesel produzidos nas suas refinarias, as importações por agentes privados poderão ser descontinuadas, potencializando o risco do abastecimento”.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, descartou fazer aumento de preços na semana passada, quando o petróleo ultrapassou os US$ 85 o barril, afirmando que a lógica comercial da Petrobras é diferente dos concorrentes e dos importadores, mas que a rentabilidade da companhia seria mantida.
Ele afirmou que, quando necessário, os combustíveis serão reajustados dentro da lógica da empresa. A situação do diesel não surpreende o chefe do departamento de análises do UBS BB e analista especializado em petróleo e gás, Luiz Carvalho. Como o limite de fornecimento aos clientes desse mercado se dá em função de cargas compradas nos três meses anteriores, pedidos inéditos podem não ser atendidos em um cenário de fechamento da janela de importação.
Isso porque não só esses clientes importam, mas também as grandes distribuidoras do País trazem volume do exterior para compor a carga fornecida no início da cadeia pela Petrobrás. Carvalho afirma que a defasagem entre os preços dos combustíveis da Petrobras e o preço de paridade de importação (PPI), deixado de lado pela estatal desde meados de maio, fecharia “cedo ou tarde” essa janela de importação de combustíveis, algo essencial para País no caso do diesel, em que 20% e 25% do total consumido vêm do exterior.
Nos últimos tempos, aliás, a importação de diesel se estendeu até mais do que o normal em função dos baixos preços do diesel russo, vendido com descontos e que hoje já corresponde a 80% do diesel vendido no País. A oferta mais curta de diesel, acrescenta o especialista, pode coincidir com o período da colheita de trigo e da segunda safra de milho em setembro.
A exemplo do ano passado, a essa altura, não se espera um cenário de desabastecimento, “mas dificuldades pontuais estão sim no horizonte”, disse Carvalho.
Resposta da Petrobras
O diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, descartou qualquer problema de abastecimento de diesel S10 no País, apesar da restrição de fornecimento relatada por distribuidoras ao Estadão/Broadcast.
Segundo o executivo, os volumes importados para agosto já foram fechados e no momento está sendo planejada a importação de setembro. “Não há risco de desabastecimento, não trabalhamos com esse cenário”, disse Schlosser após apresentação no 13º Rio Pipeline, maior evento do setor de dutos do País, sem informar se o volume de setembro será maior do que o de agosto.
Schlosser, afirmou que a nova estratégia comercial de preços da Petrobras, que substituiu a política de paridade de importação (PPI), tem sido positiva para a companhia e também descartou eventuais prejuízos pelo fato de a estatal manter os preços dos combustíveis inalterados, apesar da alta do petróleo no mercado internacional.
“Nós hoje vivemos um momento muito forte de volatilidade, os preços internacionais do petróleo e do diesel tiveram um aumento, mas dentro do que entendemos da estratégia comercial é absorvido, porque no passado teríamos de fazer reajustes contínuos para acompanhar isso”, explicou Schlosser. Segundo ele, a estratégia comercial da Petrobras, implantada em maio deste ano, tem dado maior flexibilidade para a comercialização dos produtos da companhia.