A agência de classificação de risco Fitch elevou a nota de crédito soberano do Brasil a BB, contra BB- antes, com perspectiva estável.
Segundo a Fitch, a decisão reflete um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado e a agenda de reformas promovida pelo governo Lula nos últimos meses, com o avanço da Reforma Tributária e do arcabouço fiscal no Congresso.
“O Brasil alcançou progresso em importantes reformas para enfrentar os desafios econômicos e fiscais”, diz a agência em relatório.
Ela destaca ainda que, embora o governo Lula defenda um afastamento da agenda econômica liberal dos governos anteriores, avalia que o pragmatismo e os freios e contrapesos institucionais evitem desvios radicais da política macroeconômica.
A agência ainda afirmou que o presidente Lula “tem conseguido garantir a governabilidade e avançar em sua agenda política”.
A agência tinha rebaixado a nota de crédito do Brasil para BB- em 2018, no governo Temer, quando o país passava por déficit fiscal, crise nas contas públicas e fracasso em aprovar a reforma da Previdência.
A Fitch citou medidas como o avanço do novo arcabouço fiscal e da Reforma Tributária no Congresso como um desdobramento positivo para a nota de crédito do Brasil.
O Ministério da Fazenda disse que a decisão da agência corrobora os esforços empreendidos pelo governo para fortalecer o ambiente econômico e promover a consolidação fiscal.
A pasta reiterou o compromisso com a agenda de reformas em curso para levar ainda à redução das taxas de juros e à melhoria das condições de crédito e assegurar a estabilidade dos preços.
A elevação do rating do Brasil pela Fitch vem pouco mais de um mês depois que outra agência de classificação de risco, a S&P, mudou a perspectiva para a nota de crédito do Brasil, atualmente BB-, de estável para positiva, também citando sinais de maior certeza sobre a estabilidade da política fiscal.
Já a Moody´s tem nota Ba2 com perspectiva estável para o Brasil. Todas as notas, no entanto, seguem abaixo do chamado grau de investimento, que indica baixo risco de calote.
Com a elevação desta quarta pela Fitch, o Brasil está a dois degraus para alcançar novamente o selo de grau de investimento, que perdeu em 2015.
A Fitch afirmou que a posição fiscal do país está se deteriorando, mas espera que as novas regrais fiscais e as medidas tributárias ancorem uma consolidação gradual. A agência ainda projeta uma alta da relação entre dívida e PIB, porém, a um ritmo mais lento e partindo de um ponto inicial muito melhor do que estimado anteriormente.
A agência também elevou a perspectiva para o crescimento econômico do Brasil neste ano para 2,3%, forte melhora ante a expansão de 0,7% prevista antes. Para 2024, espera uma desaceleração para 1,3% em, a ser seguida por uma convergência a uma tendência de crescimento de 2% nos anos seguintes.
Segundo o economista André Perfeito, a melhora da nota pela Fitch, a desaceleração da inflação e os avanços da Reforma Tributária e do arcabouço fiscal abrem espaço para que o BC (Banco Central) inicie o ciclo de redução dos juros com uma queda de 0,50 ponto percentual no próximo dia 2 de agosto.
A expectativa do mercado até alguns dias atrás era de uma redução de 0,25 ponto percentual na semana que vem, mas os dados de inflação do IPCA-15 divulgados nesta terça contribuíram para que aumentassem as apostas por um corte mais agressivo dos juros.
No mercado de juros futuros, que embute a expectativa dos agentes financeiros para os rumos da política monetária, o dia é de queda dos contratos. O título com vencimento em janeiro de 2024 recuava de 12,64% na véspera para 12,61% nesta manhã, enquanto o papel para 2025 cedia de 10,64% para 10,62%.
O dólar também opera em baixa, com recuo de 0,23% por volta das 11h20, a R$ 4,7380.
Já a Bolsa de Valores opera em leve queda de 0,18%, aos 121.761 pontos, em uma sessão de maior aversão a risco global, com os investidores atentos à provável nova elevação dos juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) esperada para esta quarta. As sinalização da autoridade monetária sobre os próximos passos dos juros americanos também estarão no radar do mercado.
ENTENDA O QUE SÃO AS CLASSIFICAÇÕES DE RISCO E O QUE É GRAU DE INVESTIMENTO
Grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro —ou seja, com baixo risco de calote.
As três agências risco de maior visibilidade no mundo são a Standard & Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings.
As notas de crédito têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.
Para investidores estrangeiros, a avaliação das agências serve como termômetro para saber se a remuneração de um papel está adequada ao risco do investimento.
As notas de crédito também são importantes para os fundos: muitos deles são impedidos de aplicar em papéis sem grau de investimento. Se um emissor de dívida (país ou empresa) é rebaixado, esses fundos são obrigados a tirar os títulos com grau especulativo da carteira.
As empresas de avaliação de risco são contratadas para fazer essa análise, que é uma opinião.
Apesar disso, argumentam que, mesmo sendo atribuída mediante encomenda de agentes financeiros, a nota de risco é uma avaliação independente e confiável porque há preocupação com a credibilidade da própria agência.
Vale destacar, porém, que, na quebra do mercado imobiliário americano que esteve no epicentro da crise global desencadeada em 2008, papéis do setor que se mostraram “ativos podres” tinham nota máxima das agências de classificação de risco com grau de investimento.