Uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) chacoalhou a corrida em Sergipe e colocou o senador Rogério Carvalho (PT) e Fábio Mitidieri (PSD) na disputa do segundo turno para governador do estado.
A grande reviravolta nas eleições de 2022 aconteceu na última quinta-feira (29), quando o TSE indeferiu a candidatura de Valmir de Francisquinho (PL). Ele entrou com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal), mas a Corte Suprema referendou a determinação do TSE. Ele liderava as pesquisas de intenção de voto desde o início da campanha, mas o caminho ficou aberto para seus concorrentes.
Rogério Carvalho, que já foi deputado federal e é senador desde 2019, colou sua imagem a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início da corrida. Em agosto, quando sua candidatura foi aprovada e oficializada em convenção do PT, ele já citou Lula. Também sempre fez questão de se associar a Marcelo Déda (PT), ex-governador de Sergipe que morreu de câncer em 2013, quando cumpria o mandato.
“Junto com Lula [quero] tirar Sergipe do atraso, trazer de volta o desenvolvimento, que foi uma realidade quando Déda foi governador”, disse, em seu discurso de oficialização de candidatura no mês de agosto.
Fábio, por outro lado, não contou com o apoio de nenhum dos dois principais candidatos na disputa pela Presidência, uma vez que Jair Bolsonaro (PL) apoiava Valmir de Francisquinho, que integra seu partido. Ele até tentou colar sua imagem ao ex-presidente Lula, mas acabou sendo alvo de busca e apreensão na reta final de sua campanha.
No dia 28 de setembro, a Justiça Eleitoral mandou recolher material impresso que associava o candidato a Lula. O TRE-SE (Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe) acatou um pedido do PT. Todo o material foi recolhido e ficou estipulada uma multa diária de R$ 30 mil caso o candidato voltasse a usar o nome de Lula em seu favor.
Líder barrado
Fábio Mitidieri e Rogério Carvalho não conseguiram despontar como favoritos em nenhum momento da campanha. Sempre disputaram um lugar em eventual segundo turno contra Valmir de Francisquinho, que, contando com o apoio de Bolsonaro, liderou as pesquisas desde o início. Bolsonaro, inclusive, pediu adesão à candidatura dele em suas transmissões semanais ao vivo.
Francisquinho sofreu o revés na Justiça Eleitoral por uma condenação no TRE por abuso de poder econômico, em 2018, e que posteriormente foi confirmada pelo TSE. À época, o bolsonarista era prefeito de Itabaiana e foi acusado de beneficiar o filho Talysson Costa em sua candidatura a deputado estadual. A condenação deixou pai e filho inelegíveis até 2026.
O correligionário de Bolsonaro recorreu em todas as instâncias possíveis para continuar sendo candidato, argumentando que a condenação de 2018 não poderia ser utilizada para tirá-lo da disputa, porque o indeferimento de sua candidatura pelo TRE aconteceu depois de decisão do TSE sobre o caso julgado na instância inferior. O TSE, entretanto, determinou que o candidato interrompesse imediatamente a sua campanha.
Sem tempo hábil para a exclusão de Valmir de Francisquinho das urnas, ele continuou pedindo votos em suas redes sociais e dizendo que iria recorrer da decisão. “Os votos eventualmente creditados em nome de Valmir de Francisquinho serão considerados nulos”, afirmou o TSE, após a decisão.
Quem são os candidatos
Rogério Carvalho Santos nasceu em Aracaju no dia 2 de agosto de 1968 e foi criado em Lagarto, na região centro-sul do estado. Ele começou sua atuação política dentro do movimento estudantil da UFS (Universidade Federal de Sergipe) enquanto cursava medicina.
Após concluir a graduação, em 1993, fez especialização em gestão hospitalar, residência médica em medicina preventiva e social, além de mestrado e doutorado em saúde coletiva na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo.
O envolvimento com a política pública começou de fato em 2001, quando ocupou o cargo de secretário de Saúde de Aracaju, ficando no posto até 2006. Foi eleito deputado estadual em 2006, com mais de 25 mil votos, e em seguida assumiu a Secretaria de Saúde no governo de Marcelo Déda.
Em 2010, elegeu-se deputado federal com mais de 115 mil votos, a maior votação para o cargo em Sergipe até então. Em 2014, disputou uma vaga no Senado, mas acabou em segundo lugar, sendo derrotado por Maria do Carmo (DEM), que seguiu para seu terceiro mandato.
Concorreu ao Senado mais uma vez em 2018 e novamente ficou em segundo lugar. Desta vez, entretanto, seus mais de 300 mil votos foram suficientes para garantir uma vaga, uma vez que foram eleitos dois senadores por Sergipe. O vencedor do pleito foi Alessandro Vieira, então candidato pela Rede.
Fábio Mitidieri nasceu, também em Aracaju, no dia 24 de fevereiro de 1977 e formou-se em administração, atuando no setor privado até 2008, quando entrou na vida política.
Ele filiou-se ao PDT em 2007 e no ano seguinte concorreu às eleições para vereador em Aracaju, sendo eleito. Na época, aceitou convite para gerir a Secretaria Municipal de Esportes. Foi reeleito no pleito seguinte, mas abandonou o cargo para tentar uma vaga como deputado federal em 2014.
Em seu mandato, votou contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) e também foi contrário à reforma trabalhista. Também foi relator do 14º salário para aposentados e pensionistas do INSS. Em agosto de 2017, votou a favor do processo em que se pedia abertura de investigação do então presidente Michel Temer (MDB).
Concorreu à reeleição em 2018 e foi o deputado mais votado em Sergipe.