Com mais de 1.300 casos confirmados de varíola dos macacos, o Brasil enfrenta falta de estrutura laboratorial para diagnóstico rápido, baixa capacidade de identificação de casos pelos serviços de vigilância, capacitação insuficiente dos profissionais de saúde e dificuldades de isolamento de contatos em tempo oportuno.
De acordo com esta matéria publicada originalmente pela Folha, a análise é de um grupo de epidemiologistas de seis instituições de ensino, entre as quais a Fiocruz e a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), e foi publicado nesta segunda-feira (1º) em artigo preprint na Revista Brasileira de Epidemiologia.
Segundo os pesquisadores, a exemplo do que ocorreu durante pandemia de Covid-19, o país tem falhado e demonstra, mais uma vez, fragilidade no enfrentamento da emergência sanitária. Para eles, a negligência e a lentidão para a resposta à doença são preocupantes.
Eles apontam, por exemplo que, quase um mês após o primeiro caso de monkeypox diagnosticado, o país ainda não tem um sistema de informação transparente, ágil e apto para registro dos casos confirmados e suspeitos, considerando aspectos clínicos, epidemiológicos e sociodemográficos.
“A partir do momento que você não tem dados, não consegue gerar informação de qualidade para comunicar a população e os profissionais de saúde e guiar as ações e políticas de saúde”, explica Alexandra Boing, epidemiologista da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), membro da comissão de epidemiologia da Abrasco e uma das autoras do artigo.
Também há poucos laboratórios de referência para o diagnóstico. Hoje, o país conta com apenas quatro locais para análise de amostras suspeitas de varíola dos macacos. Todos ficam no Sudeste. Isso dificulta a identificação dos casos em tempo oportuno, sobretudo em locais historicamente negligenciados, como a região Norte.
Os pesquisadores elencam uma série de ações urgentes que deveriam ser adotadas pelo Ministério da Saúde, a começar com a definição de protocolos clínicos e de diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde.
A capacitação dos profissionais da atenção primária, porta de entrada do SUS, e dos ambulatórios na prevenção, diagnóstico e tratamento, além de ações de comunicação de combate ao estigma, deveriam estar também entre as ações prioritárias do ministério, segundo os epidemiologistas.
No último fim de semana, a Prefeitura de Santo André, na Grande São Paulo, afastou um médico suspeito de homofobia contra um paciente que tinha sintomas de varíola dos macacos.