O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma ter certeza de que deve ser alvo de inquéritos que teriam como objetivo levá-lo à prisão caso perca as eleições. Ele acredita também que seus filhos podem se tornar alvos mais fáceis de investigadores caso deixe a Presidência da República.
De acordo com esta matéria originalmente publicada pela Folha, Bolsonaro tem repetido a fala a diversos interlocutores em Brasília, inclusive de seu próprio governo.
Com dificuldade de se recuperar nas pesquisas eleitorais, a hipótese estaria deixando o presidente cada vez mais inquieto e, de acordo com alguns interlocutores, “transtornado” em alguns momentos.
A coluna ouviu nesta segunda-feira (1º) quatro relatos diferentes, que variam apenas em relação ao tom do presidente quando discorre sobre o assunto.
Segundo políticos e autoridades que não integram o governo, mas que conversaram com ele nos últimos dias, Bolsonaro tem dito que reagirá —e que não será preso com facilidade.
De acordo ainda com os mesmos relatos, ele tem demonstrado nervosismo e repetido frases semelhantes à que disse em um discurso no dia 7 de setembro do ano passado, em um ato na avenida Paulista, em São Paulo: “Nunca serei preso”.
Na mesma ocasião, ele afirmou que poderia sair do Palácio “preso, morto ou com vitória”. A primeira hipótese estaria descartada. Nas conversas em Brasília, ele também teria dito, na mesma linha do discurso em São Paulo, que pode haver “morte” caso tentem prendê-lo.
Dois ministros do governo afirmaram que já ouviram Bolsonaro falar sobre a possibilidade de ser detido em mais de uma ocasião.
O tom, no entanto, não seria de nervosismo, mas, sim, de mera constatação sobre uma suposta perseguição que ele poderia sofrer se perdesse o mandato.
Um dos ministros afirma que o presidente diz saber o que vai acontecer com ele em caso de derrota. “Você acha que eu não sei?”, teria dito o presidente, de acordo com esse auxiliar, sobre uma possível ordem de prisão.
Segundo o mesmo ministro, Bolsonaro afirma que “estão loucos” para que isso aconteça, mas ele saberia contornar a situação por não ser “ingênuo” como seus antecessores —Lula (PT) e Michel Temer (MDB) foram presos depois de deixarem o mandato de presidente.
O petista chegou a ficar 580 dias na prisão. Já o emedebista, conduzido duas vezes às celas, foi solto sempre em menos de dez dias.
Um segundo ministro afirmou à coluna que o mandatário sempre repete que “vão querer montar alguma coisa para me prender”, mas que a investida não terá sucesso, já que ele não teria cometido crime algum.
Como a Folha revelou, as eleições presidenciais serão determinantes para o destino jurídico de Bolsonaro.
Caso seja derrotado e deixe a Presidência, ele poderá ser julgado pela Justiça comum, o que eleva as possibilidades de responsabilização penal. O presidente é alvo de centenas de denúncias, em especial por sua conduta durante a epidemia da Covid-19 e pelos ataques ao sistema eleitoral.
A possibilidade explicaria em parte a intensidade dos ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em conversas com outras autoridades, o ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, já citou a “psicologia do desespero” para contextualizar as atitudes do presidente.
Por ela, Bolsonaro se sentiria acuado e esticaria a corda como forma de autodefesa. Isso levaria a reações da Justiça, numa escalada sem limites.
Ministros do governo dizem acreditar que um acordo com os demais poderes poderá esfriar os ânimos, contribuindo para que as eleições no Brasil transcorram de forma tranquila.