Ao que tudo indica, o ex-governador João Doria (PSDB) perdeu uma batalha nos seus planos de ser candidato à Presidência da República. O tucano ainda resiste. Mas as cúpulas do MDB, PSDB e Cidadania avançaram ontem para indicar Simone Tebet (MDB) como candidata ao Palácio do Planalto. O jogo ainda está em andamento e há a previsão de novas reuniões na semana que vem. Mas há outros fatores e interesses por trás do nome de Tebet do que apenas a pesquisa que foi apresentada ontem aos dirigentes.
De acordo com esta matéria postada pela Veja, o tal levantamento, como já era esperado, apontou uma rejeição bem menor para a senadora, em comparação a Doria. Ela não governou o maior estado nem a maior cidade do país. Ela é muito menos conhecida, o que lhe reservaria uma possibilidade maior de crescer. Mas Doria passou os últimos dias empenhado em rebater os argumentos.
O time do governador passou a semana distribuindo notas e figurinhas com dados de pesquisas, discorrendo sobre seu óbvio desempenho melhor em intenções de voto. E fez um malabarismo para dizer que a senadora, na verdade, seria a mais rejeitada pelo eleitor. O argumento era que, entre os que conhecem Simone Tebet, seu índice de rejeição seria de 68%, contra 59% do governador.
Eleição não é mera matemática. O fato de Simone Tebet nunca ter passado por uma campanha dessa magnitude dificulta muito o exercício de futurologia numérica sobre como o eleitor reagirá. Com dinheiro em caixa e uma campanha estruturada, existe, na visão de quem a apoia, uma chance, por menor que seja, de construir uma imagem nacional para a senadora.
E é justamente no dinheiro que reside uma peça-chave da pré-campanha de Tebet. Como a própria senadora explicou em sua recente entrevista ao Amarelas On Air, o simples fato de ser mulher contribui para sua pré-candidatura. Enquanto outros pré-candidatos da terceira via sofrem pressões internas por absorverem grandes volumes no fundo eleitoral, sem garantia de resultado nas urnas, a emedebista consome em grande parte a cota reservada por lei para mulheres.
Não há necessariamente entre os partidos que integram a negociação grandes ilusões de romper a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas pesa o fato de que algum crescimento de Tebet em relação a seu patamar atual de intenções de voto já não seria uma derrota.
No caso do PSDB, críticos da candidatura de Doria apontam para o risco de uma espécie de “efeito-âncora”, por meio do qual um desempenho ruim na campanha presidencial traria o risco de prejudicar candidatos nos Estados. Rodrigo Garcia, em São Paulo, poderia ser um dos maiores afetados. Mais do que fazer feio na eleição presidencial, o PSDB estaria, portanto, diante do risco de perder depois de longos anos o comando do maior estado do país.
Mas nada disso garante que Tebet sairá candidata numa chapa conjunta entre MDB, PSDB e Cidadania. Pode até ser que cada um siga seu caminho. A ver. Fato é que Doria não jogou a toalha. Tem apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma voz importante dentro do PSDB. Tem ainda a seu favor o resultado das prévias realizadas pelo partido. E, pelos sinais dados até agora, não descarta recorrer aos tribunais para levar a candidatura até o fim.