A Prefeitura Municipal de Cabedelo (PMC), por intermédio das secretarias municipais de Políticas Públicas para as Mulheres (SEPM)e Saúde (Sescab), promoveu, nesta segunda-feira (21), uma formação continuada voltada aos profissionais de saúde que atuam no atendimento à doença falciforme.
O termo doença falciforme descreve um grupo de alterações hereditárias. A doença é causada por uma mutação genética, que leva o corpo a produzir hemoglobina anormal. Um dos objetivos principais da ação de intersetorialidade foi capacitar os profissionais da saúde para atenderem de forma mais eficiente e qualificada os portadores da patologia.
Nesse primeiro momento, a capacitação foi voltada para 22 médicos da Atenção Primária e Hospitalar, além da participação de representantes do setor administrativo do Hospital Municipal e Maternidade Padre Alfredo Barbosa (HMMPAB).
A segunda etapa vai envolver enfermeiros e demais profissionais que podem atuar como multiplicadores da temática em evidência. A ação da PMC também integra o cumprimento das exigências do “Selo Prefeitura Parceira da Mulher” e por isso foi coordenada pela SEPM. A secretária Priscilla Rezende compareceu à abertura da formação acompanhada de Gabriela Azevedo, assessora especial da Sescab.
“Em parceria com a Secretaria da Saúde também trabalhamos as ações do Selo e, neste ano, há um enfoque no racismo e intolerância religiosa e, portanto, neste eixo, é importantíssimo termos uma programação especial. Com relação às doenças falciformes, é importante mantermos o atendimento humanizado que essa gestão já tem como prioridade, e estar sempre nos informando e nos atualizando sobre questões específicas”, destacou Priscilla.
Além de entenderem os sinais e sintomas da doença, a capacitação busca otimizar o diagnóstico precoce, além de evidenciar o contexto social em que a doença está envolvida, devido à prevalência da anemia falciforme na população negra e mestiça – que dá-se por conta de mutações genéticas. Por esse motivo, a patologia era classificada como uma “doença racial”.
Nesta segunda-feira (21) é lembrado o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e, também por esse motivo, a palestrante escolhida para a ocasião fez questão de ressaltar essa relação da patologia com a sociedade. Uliana Gomes, que é pesquisadora e antropóloga e reafirmou a importância sobre conhecer mais sobre a doença.
“Falar sobre a doença falciforme é produzir conhecimento, e o conhecimento informa e salva vidas. A necessidade que a gente tem, enquanto sociedade brasileira, de conhecer sobre essa doença, como ela atua, como ela impacta a vida das pessoas… E ainda estar dialogando sobre como acontece o atendimento, como funciona no nosso estado, como as políticas públicas de atenção integral à população negra está dialogando com as pessoas que são acometidas pela doença… Enfim, também trazendo o impacto do racismo institucional sobre a vida dessas pessoas. Por ter essa prevalência na população negra, ela traz essa interface do racismo, porque dentro da estrutura de funcionamento da sociedade a gente vai perceber que há um processo racista e isso interfere na forma como essas pessoas são atendidas” explicou Uliana.
Profissionais da área médica também destacaram a importância da capacitação e relataram casos em que a informação era imprescindível.
“A gente percebe com essa capacitação que essa não é uma doença tão rara como pensam. É relativamente comum, principalmente em populações negras, e é muito importante quebrar tabus em relação ao tratamento dessas pessoas. Muitas vezes são enxergados como pessoas que não necessitam de tratamento tão particularizado, mas estudando a doença a fundo temos uma nova compreensão”, ressaltou Vitória Sousa, médica de uma Unidade Saúde da Família (USF) em Cabedelo.