* Por Josival Pereira
A vida política dá muita meia volta, volver.
Depois de mais de 16 anos, o ativista político Ricardo Coutinho volta ao PT. Saiu rompendo grilhões que o impediam de ser candidato a prefeito e voar na política. Volta ex-governador, com asas meio avariadas, buscando segurança no porto que abandonou.
Mas o ato de filiação do ex-governador paraibano foi prestigiado. Participaram o ex-presidente Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-candidato a presidente Fernando Haddad, a deputado Gleisi Hoffmann, presidente da legenda; o governador Wellington Dias (PI), o cantor Chico César, além de dirigentes e militantes petistas da Paraíba.
O ato é significativo. Trata-se de nova oportunidade para um militante de esquerda que venceu na política profissional, sendo vereador, deputado, prefeito da Capital e governador do Estado duas vezes, e que foi praticamente abatido por denúncias de corrupção.
Oportunidade conferida, pelo que se escutou no ato de filiação, diretamente pelo líder maior do PT, o ex-presidente Lula, que, em seu discurso, fez duas referências ao fato. Inicialmente, tratando a filiação como um “gesto de solidariedade”. Depois, ao revelar que ligou para Gleisi no dia em que saiu a primeira acusação contra Ricardo para dizer que era preciso defendê-lo com unhas e dentes para “não permitir que façam com ele a mesma safadeza que fizeram com nós”. “Não abandono um companheiro na estrada”, reforçou.
A filiação de Ricardo Coutinho é expectativa para o PT. A corrente que defendia a filiação acredita ainda em seu potencial eleitoral e de liderança, além de que ele, como Lula, se livrará das denúncias do Ministério Público. Uma aposta relativamente elevada.
Se cabe a comparação, o ato de filiação de Ricardo e dos deputados Jeová Campos, Estela Bezerra e Cida Ramos, além da ex-prefeita Márcia Lucena, parecia repetir um pouco o cenário de 2001, quando o PT abraçou “o vale tudo” para eleger Lula presidente. Não importam divergências, posições, histórias, folha corrida, ideologia, etc. Tudo deve ser contemporizado em função do objetivo maior. Tanto que o foco de todos os discursos foi Lula e o próprio não perdeu a oportunidade de, embora num ambiente restrito de live, treinar um discurso como se tivesse falando num grande comício popular.
De resto, exceto a emoção da música de Chico César e o nervosismo da ex-prefeita Márcia Lucena, o ato de filiação pareceu burocrático, como se houvesse pressa para o cumprimento da função. Resta aguardar os atos de militância. Podem ter mais emoção.
Por trás…
Imaginava-se que o próprio Ricardo Coutinho teria articulado seu retorno ao PT a partir de ligações com a direção nacional do partido. Não foi. Em seu discurso, Ricardo revelou que a grande artífice de todo processo foi a esposa Amanda Rodrigues. Destacou sem reservas.
Estrela
Mesmo sem aparecer no ato, Amanda Rodrigues virou uma espécie de estrela do evento. Além da revelação de sua decisiva participação na articulação da filiação, Amanda ganhou saudação especial da presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann. Mulheres no comando.
Direção
O que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, quis dizer quando, próximo ao fim de seu discurso, falando sobre a luta pela eleição de Lula, afirmou: “Tenho a certeza de que vocês estão nesta caminhada, tendo à frente Ricardo Coutinho na direção do processo”?
Humildade, pero no mucho
Em alguns momentos de seu discurso, o ex-governador Ricardo Coutinho se mostrou humilde. Disse que estava voltando ao PT para entregar panfletos e participar de reuniões na periferia. Noutros… Disse que iria atuar para fazer do PT o maior partido da Paraíba.
Diferentes
O deputado Jeová Campos defendeu a necessidade de “construir uma grande unidade das forças que têm compromisso com a democracia”. Ricardo defendeu a eleição de uma grande bancada federal do PT. “Não podemos terceirizar”, afirmou.
Nada sobre João
Reinou o mais profundo silêncio em relação ao governador João Azevedo e sua gestão no ato de filiações ao PT. Se se quiser filigranas para alguma ilação, Ricardo falou “vamos recuperar a Paraíba e o Brasil”. Estela defendeu o “resgate social na Paraíba”.
Senador da Dilma
Afora a defesa da eleição de Lula a presidente, não se falou em candidaturas durante o ato de filiação de lideranças paraibanas ao PT. A exceção ficou por conta da ex-presidente Dilma Rousseff, que saudou Ricardo Coutinho como senador.
Mais uma
Tentando agradar aos paraibanos, em determinada hora de seu discurso a ex-presidente Dilma quis citar o escritor José Américo de Almeida: “Como vocês dizem aí, ninguém se perde na vida”. Era “(…) ninguém se perde na volta”.