A pressão sobre o governo por conta de suspeitas levantadas pela CPI da Covid faz com que parlamentares da base cobrem publicamente uma postura mais enérgica do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A avaliação de quatro senadores ouvidos pelo GLOBO é que Queiroga não se expõe como deveria para rebater acusações como o suposto caso de corrupção na compra da vacina Covaxin. A ausência de um posicionamento técnico, dizem, torna mais difícil o trabalho da base na comissão parlamentar de inquérito. O pedido para que Queiroga defenda mais o governo já foi levado ao presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a matéria originalmente publicada em O Globo, não raro o ministro convoca coletivas de imprensa, mas, nessas ocasiões, quase sempre é para anunciar alguma iniciativa da pasta e não para tentar esclarecer temas sensíveis ao Planalto. No último dia 23, ao ser questionado sobre o caso Covaxin em uma coletiva de imprensa, Queiroga demonstrou irritação e encerrou a entrevista.
— Muitas acusações feitas contra governo não têm embasamento legal ou qualquer fundamento. Erros formais estão sendo taxados como suspeita de prática criminosa. Acho que é inerente ao papel de ministro comunicar. A comunicação tem que ser melhor no sentido de afastar esse tipo de sombra — avaliou o senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo e mais atuante defensor do governo na comissão.
— Acho que, quando surge uma acusação contra o ministério, tendo evidência de que isso é uma narrativa falsa, o ministro tem que falar. Mesmo que seja sobre algo anterior à gestão dele. Há de se fazer a defesa institucional do ministério. Porque do contrário a narrativa acusatória, na ausência de um posicionamento da pasta, passa como verdade. E aí dificulta o trabalho da base na CPI — completou Marcos Rogério, que ponderou compreender a agenda atribulada do ministro.
A opinião é compartilhada pelo senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que, mesmo sem integrar oficialmente a CPI, tem se pronunciado com frequência na comissão.
— O ministro Queiroga deveria falar mais e refutar os ataques — disse Flávio, ressaltando, contudo, que muitas acusações envolvendo o ministério não passariam de “balela da oposição”
Integrante da base do governo na CPI, Luis Carlos Heinze (PP-RS) também cobra uma postura mais incisiva do ministro da Saúde.
— Se Queiroga tiver condições de falar, é bom. O ministro tem conhecimento do assunto como titular da pasta. Tem muitas denúncias infundadas. Tanto Ricardo Barros (líder do governo na Câmara) quanto Roberto Dias (ex-diretor do Ministério da Saúde) foram acusados sem provas.
Um quarto e influente senador da base, que pediu reserva ao GLOBO, levou o assunto ao presidente Jair Bolsonaro, que, no entanto, não respondeu se iria cobrar uma atuação mais firme de Queiroga na defesa do governo. Procurado, o ministro ainda não informou se gostaria de se pronunciar sobre o assunto.