As obras do Projeto de Transposição do rio São Francisco (Pisf) realizadas na Paraíba e outros três Estados do Nordeste (Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte) estão sendo utilizadas em postagens com dados enganosos para exaltar a gestão do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) através das redes sociais.
As informações divulgadas divergem das contidas em relatórios oficiais da Controladoria-Geral da União (CGU), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e do antigo Ministério da Integração Nacional (MIN). Também foram consultadas informações divulgadas pelo portal de orçamento do Senado Federal, o SigaBrasil, Comprova e de agências de checagem sobre conteúdos semelhantes.
De acordo com o levantamento realizado, os dados divulgados sobre as obras ignoram que o atual governo assumiu o país com mais de 90% das obras concluídas por administrações anteriores e ainda sugerem que a atual gestão já teria concluído o projeto quando, na verdade, ainda não foi concluído, uma vez que faltam conclusões de obras hídricas complementares.
Segundo as informações oficiais, a gestão de Bolsonaro investiu, desde 2019, cerca de R$ 2,5 bilhões em obras, ações, operação e manutenção dos eixos norte e leste e no Ramal do Agreste, uma obra complementar que levará as águas do Velho Chico ao interior de Pernambuco.
Ainda de acordo com o relatório oficial, até junho de 2020, o investimento, somente na execução dos eixos estruturantes da obra já somava, aproximadamente, R$ 10,88 bilhões.
Um levantamento do Comprova com dados do Siga Brasil mostra que os maiores investimentos em recuperação de reservatórios estratégicos aconteceram em 2018 e 2019.
Assim como a ação “manutenção da integração com as bacias do Nordeste Setentrional recuperação de reservatórios estratégicos”, que foi iniciada em 2015.
Vale a pena registrar que, de acordo com a matéria original publicada pela Folha e que pode ser conferida clicando aqui, o Comprova fez esta verificação baseado em informações disponíveis no dia 1 de junho de 2021.
Investigação
O Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos sobre a pandemia ou políticas públicas do governo federal que tenham alcançado alto grau de viralização, como o caso de postagens envolvendo
O Projeto de Integração do Rio São Francisco é considerada a maior obra de infraestrutura hídrica do país, portanto, foram analisadas ao menos três postagens com teores semelhantes, comparando a execução da obra durante o governo Bolsonaro e os anteriores, com ampla repercussão no Facebook. Juntas, somam mais de 120 mil interações entre reações, comentários e compartilhamentos.
Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Transposição
A transposição do São Francisco consiste na construção de equipamentos hídricos, como canais, reservatórios e estações de bombeamento, com a finalidade de integrar suas águas com outras bacias hidrográficas dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.
O objetivo é abastecer rios perenes que perdem muito volume durante temporadas de estiagem e, assim, garantir a segurança hídrica a municípios dessas regiões. Para isso, a obra foi dividida em dois eixos que se integram com rios receptores e outros empreendimentos que estendem o fluxo das águas do Velho Chico.
O eixo leste percorre uma distância de aproximadamente 220 km, do município de Floresta, em Pernambuco, até o leito do rio Paraíba, em Monteiro, na Paraíba. Já o eixo norte é constituído por 260 km de canais que transportam as águas do reservatório de Milagres, em Pernambuco, até o reservatório de Jati, no Ceará.
Neste ponto, a obra se integra ao Cinturão das Águas, um projeto hídrico ainda inacabado executado pelo governo do estado em parceria com o Governo Federal. Futuramente, a obra vai transportar as águas do Velho Chico até o Açude de Castanhão e abastecer a região metropolitana de Fortaleza. O eixo norte também se integrará a rios receptores e barragens que abastecem municípios do Rio Grande do Norte.